quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Religião e Espiritualidade

Também acredito que as religiões, enquanto instituições humanas, padronizadoras das manifestações da fé, condicionam o pensamento, limitam o entendimento e tem um poder desagregador e separativista entre os grupos de credos diferentes.

Religiões são como óculos de grau, que não podem ser compartilhados indistintamente, pois enquanto corrigem a visão de uns, borram a de outros. A espiritualidade, por sua vez, é uma brisa suave que refrigera a todos.

Religião não passa de opinião, enquanto espiritualidade é um verdadeiro exercício de compreensão.

Os textos que transcrevo abaixo são bons exemplos desta realidade.

Ramon de Andrade
Palmares-PE



"Nos planos da erraticidade, onde me encontrava, poucos eram os seres cuja mente, em toda a intensidade das suas vibrações, já havia desabrochado o domínio das lembranças relativas às existências passadas.

Nesses tempos imediatos ao post-mortem, repontados de impressões físicas, as quais persistem em algumas entidades anos a fio, a vida é quase cópia da existência da personalidade terrena e foi assim que conheci inúmeros companheiros, que duvidavam dos ensinamentos dos mestres quando se referiam aos pretéritos longínquos; e alguns deles me asseveravam não poderem admitir a multiplicidade das existências da alma. Semelhantes crenças eram o atestado da ignorância de quantos as abrigavam, pois, como nos planos terrestres, ou nas regiões que vos são ainda imponderáveis, a natureza não dá saltos.

Naquele ambiente misturavam-se os protestantes, os católicos, os professos de outras seitas, inclusive espíritos que militam nas hostes do materialismo mais avançado na superfície da Terra, e se aquelas falanges de almas não eram más, também não eram perfeitas. Não discutiam acaloradamente, mas cada uma preferia guardar os seus pontos de vista em matéria religiosa, acariciados durante a vida inteira pela mais estranha devoção.

É verdade que nós, os católicos, não encontrávamos o purgatório e os seus instrumentos de suplício depurados, nem o inferno de anjos e virgens. Os protestantes de certas escolas reconheceram-se despertos, sem o sono em que se diz estarem mergulhados os mortos, à espera do juízo final.
 
Nós, os religiosos, não acharemos o que nos prometiam as nossas Igrejas, como os ateus não encontrarão o nada em que acreditaram. A posição de todos, porém, nesse assunto, era de expectativa, segundo presumi, e cada qual se escorava nas suas interpretações pessoais, à espera de que os acontecimentos corroborassem às suas desconfianças.
 
A ignorância, de que dávamos testemunho com as nossas dúvidas em fase daquilo que os pregoeiros da verdade nos vinham ensinar, era oriunda de nossa persistência no atraso espiritual, infensos a toda idéia nova e arraigados em benefício do nosso progresso. Essa resistência obstava a necessária amplitude de estado vibratório do nosso espírito para que nele desabrochassem as recordações adormecidas. É assim que justifico a ignorância havida com respeito ao passado.
 
Através destas palavras reconhecereis como se faz precisa a difusão das verdades espiritualistas no mundo; só elas servem de base a todos os edifícios religiosos, escoimando a mente de fardos perigosos.
 
Habituada a acatar incondicionalmente os ensinamentos da Igreja, mantinha também as minhas vacilações quanto à crença nas existências passadas. Por que não me lembrava delas, já que não possuía mais o corpo terreno? Já que a morte me havia arrebatado dos planos materiais, era natural que não tivesse justificativa aquele esquecimento.
 
Entretanto, todos os mentores espirituais, que nos dirigiam, discorriam sobre o nosso pretérito longínquo... Falavam dos compromissos a resgatar, das dívidas penosas, das lutas necessárias ao nosso desenvolvimento.

Intrigada com esses problemas procurei, como sempre fiz, apelar para as almas beneméritas que nos guiavam em nossa ignorância. Um desses mestres explicou-me.
 
- "A descrença e a hesitação de que vos achais possuída é, ainda, questão das idéias reflexas, das quais só o tempo, aliado ao bom desejo, vos poderá despojar. A vossa mente é quase a mesma que no mundo vos caracterizava. É preciso meditar muito sobre esta condição, porque as impressões que trouxestes podem perdurar por longo tempo, caso não desejeis com sinceridade evitar essa ignorância e cegueira espirituais".
 
Solicitei a sua assistência e auxílio ao que ele prometeu coadjuvar no mesmo instante, a fim de me certificar quanto à realidade das existências transcorridas."
 
Maria João de Deus
Cartas de uma Morta
Por Chico Xavier



Sim à Espiritualidade e não a religiões 



Parece mentira, mas foi verdade. No dia 1°/Abr/2010, o elenco do Santos – atual campeão paulista de futebol – foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. O objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria com paralisia cerebral. Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou. Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio Costa (32a), Durval (29a), Léo (24a), Marquinhos (28a) e André (19a) – todos ídolos super-aguardados. O motivo teria sido religioso: a instituição era o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é "Assistência à Paralisia Cerebral". Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santos informou que os jogadores não entraram no local simplesmente porque não quiseram.

Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca (23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram com as crianças.

Eis que o escritor, conferencista e Pastor (com "P" maiúsculo) ED RENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fez uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto "No Brasil, futebol é religião", que abaixo tenho o prazer de compartilhar.

"No Brasil, futebol é religião" – por Ed Rene Kivitz

Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.

Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus,  você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.

O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com 'd' minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.

Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho."
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São opiniões como estas, onde sabiamente o Pastor Ed René ajuda-nos a diferenciar "Espiritualidade" de "religião", que nos faz acreditar que temos a capacidade de conviver harmoniosamente com os seguidores de outros credos, que nada mais são do que caminhos diferentes para o exercício da Espiritualidade que propõe a nos re-ligar com a única fonte de onde todos partimos: Deus.

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