quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Nosso Lar e a 2ª Guerra Mundial

Embora o livro Nosso Lar, em seu capítulo 41, trate do eposódio da Segunda Guerra Mundial, o filme adiciona cenas muito interessantes, não presentes no livro, de equipes de socorristas conduzindo à colônia as vítimas fatais dos campos de batalha.

Ocasionalmente, encontrei estas cenas muito bem descritas no livro Cartas de Uma Morta, de Maria João de Deus (mãe de Chico Xavier) e acredito que a produção do filme tenha se inspirado nestas descrições, tamanha é a identidade entre as cenas descritas no livro e as exibidas no filme.

Trascrevo abaixo os trechos do livro que narram a acolhida das vítimas fatais da 2ª Grande Guerra.



"Nos locais em que me encontrava temporariamente, muitos departamentos haviam que se preparavam às pressas. Decorações, ornamentos, objetos, tudo ali se achava e se confundia, dando perfeita idéia de grandes estabelecimentos hospitalares cuidadosamente organizados.
 
Surpreendida, vim a saber que os preparativos se destinavam aos recém-desencarnados da última guerra; e não foi ainda sem surpresa que vi chegarem os primeiros ocupantes daqueles alvos leitos, que se perdiam nas vastas enfermarias, graciosas e confortáveis, não sabendo explicar por que razão havia necessidade daquele cenário, mundano em demasia, onde nada faltava, nem mesmo os instrumentos de técnica operatória.
 
De instante a instante eis que chegava uma leva de macas, conduzidas por almas solícitas e devotadas.


Se muitos hospitais de sangue são preparados na Terra, nos infaustos dias de lutas fratricidas, mais ainda são as organizações congêneres nos planos da erraticidade. Nem todos, porém, que desencarnam, abrigam-se em semelhantes lugares, havendo situações especiais, privativas  àquelas que elas fizeram jus.
 
Admirei a delicadeza com que os seres espiritualizados recebiam os seus irmãos egressos dos combates, onde centenas de vidas jovens foram ceifadas impiedosamente. Eram, assim recolhidos com a maior bondade, como se fossem feridos penetrando nos hospitais comuns da Terra.
 
Muitos dos que ali ingressavam, manifestavam o seu pavor à morte, rogando em altos brados que os livrassem de perecer. Solicitavam aos que o assistiam socorro e auxílio, suplicando que lhes prolongassem a vida em favor da noiva idolatrada, dos pais carinhosos e queridos, dos seres inesquecíveis que haviam ficado à mercê do abandono e do infortúnio.
 
Era para mim, singularmente interessante, ouvir-lhes essas rogativas, porquanto desconhecia ainda todo o poder somático sobre a inteligência recém-desencarnada.

Eram todos tratados com inexcedível carinho e as suas amargas queixas obtinham réplicas afetuosas e animadoras promessas.
 
Alimentação e tratamento tudo se assemelhava estritamente ao que se pode verificar na face do orbe, até mesmo certas bagatelas que constituíam motivos de prazer para alguns, com o uso do tabaco ou de beberagens preferidas.
 
Tudo ali era confeccionado por entidades zelosas a fim de que se preparassem convenientemente para o conhecimento do que ocorria. Paulatinamente recuperavam suas forças perdidas; e os que se mantinham num estado, que podemos classificar como o de convalescença, eram separados dos demais companheiros.
 
Recebiam, então, a vaga noção da verdade, observando fenômenos interessantes, operados por sua vontade sobre as matérias circunstantes, cuja maleabilidade os assombrava.
 
Esclarecidos mestres, freqüentemente, lhes dirigiam a palavra como apóstolo da paz, em excursão nos departamentos militares.
 
Houve, porém, na grande assembléia, que ouvia aquela voz estranha, um surdo clamor de protesto.
 
"Serenai o vosso ânimo!" – objetou-lhes calmamente. "Em vão levantais o vosso clamor de protesto... Ouvi-me. Tendes vos preparado convenientemente para saber a verdade. Já não podeis integrar as fileiras de combatentes que fornecem mão forte à nefasta política da incompreensão das leis divinas.  Para a Terra, em cuja face presumis continuar, sois mortos anônimos, sois o soldado desconhecido. Aprouve à magnanimidade da Providência que aqui fôsseis acolhidos suavemente, sem abalos prejudiciais. Vossos corpos estão muito distantes, no regaço da Terra benfazeja, estraçalhados por forças cegas e assassinas.
 
Ingressastes em outra vida. Compete-vos, portanto, esquecer os vossos dias, aniquilados pelo ódio execrando!
 
Considerai a lei de amor que deve unir todas as almas como laço eterno e sacrossanto!"
 
Maria João de Deus
Cartas de uma Morta
Por Chico Xavier

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