sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Batismo Simbólico

"Eu, na verdade, vos batizo em água, na base do arrependimento;
mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, que nem sou digno de levar-lhe as alparcas;
ele vos batizará no Espírito Santo, e em fogo."
João Batista
Mateus, capítulo 3
 

 
"(...) Dizem que o batismo na religião católica transmite uma proteção especial a quem o recebe, uma bênção poderosíssima. Isto é verdade? (...) Algo me diz que, se eu seguir esta religião, minha vida se tornará muito melhor e muitos problemas que tenho atualmente irei superar. Para mim não tem sido fácil viver, como já falei, e estou cheio de incertezas. Será que tornar-me católico realmente me ajudará nisto? Será que o batismo tem mesmo este poder de proteção espiritual? O que é ser católico? Como age um católico que segue sua crença? (...) eu preciso de uma luz em meu caminho. Eu necessito de toda a bênção de Deus em mim. Sei que já a tenho, mas preciso de mais ainda. Será mesmo importante eu me batizar? Aquele abraço!"
 

 
Caro amigo,

O batismo é um ritual de passagem, como o casamento. No casamento, promovemos uma cerimônia pública para firmar um compromisso de fidelidade com outra pessoa. Pode ou não ser um evento religioso, mas o sentido é sempre este: compromisso.
 
No batismo, também nos apresentamos publicamente para assumir um compromisso, não com uma pessoa, mas de respeito e submissão ao Criador, a quem denominamos de vários formas, dependendo da religião que escolhemos.
 
Esta é a essência do batismo, desde João Batista, que mergulhava publicamente quem o procurava nas águas do Rio Jordão, como sinal de arrependimento, compromisso e mudança de atitude diante de Deus. Era originalmente um ato voluntário. O batismo de recém-nascidos veio com as religiões cristãs, como forma de garantir que uma criança não viesse a morrer pagã.
 
Por outro lado, assim como a cerimônia de casamento não é essencial nem determinante da felicidade conjugal, o batismo por si só não pode garantir a qualidade da fé nem do comprimisso íntimo de alguém diante de Deus. Se fosse assim tão simples, não veríamos tantos desencontros entre as atitudes dos fiéis e seus rituais.
 
O prórpio João Batista tinha consciência da simbologia de seu batismo, e demonstrou muito bem essa compreensão nas palavras acima, quando disse que Jesus viria a batizar não com água, mas com fogo, ou seja, com os testemunhos vivos da fé, como os que foram dados pelos mártires do cristianismo.
 
Portanto, meu amigo, a simbologia do batismo pode ser muito positiva e motivadora, desde que a fé seja sincera, como a que você demonstra. Qualquer que seja a igreja que o acolha, terá em seu templo uma bela alma em busca de iluminação. As dúvidas são inevitáveis num mundo de ilusões, mas sua fé lhe conduzirá com segurança ao seu destino.

Deixo os textos abaixo, pra sua reflexão :-)
 
Abraço!
 
Ramon de Andrade
Palmares-PE
 

 
A MELHOR RELIGIÃO
Leonardo Boff
 
No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos,na qual ambos participávamos,eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico,lhe perguntei em meu inglês capenga:

- Santidade, qual é a melhor religião?

Esperava que ele dissesse:"É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."

O Dalai Lama fez uma pequena pausa,deu um sorriso, me olhou bem nos olhos- o que me desconcertou um pouco,por que eu sabia da malíciacontida na pergunta e afirmou:

"A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor.

Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta,voltei a perguntar:
 
- O que me faz melhor?
 
Respondeu ele:
 
- Aquilo que te faz mais compassivo (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião.
Calei, maravilhado,e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável.
 

 
ADORAÇÃO
 
Precisa de manifestações exteriores a adoração?

"A adoração verdadeira é do coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre vós o seu olhar."

Será útil a adoração exterior? 

"Sim, se não consistir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo. Mas, os que somente por afetação e amor-próprio o fazem, desmentindo com o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam."
 
Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?

"Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes.

"Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam.

"É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento.

"Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante que vive no deserto. E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão.

"Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração."

O Livro dos Espíritos
Questões 653 e 654

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Deus nas Escolas

As religiões são uma parte importante da história das civilizações. A compreensão da cultura dos diversos povos se torna deficiente se não considerarmos suas crenças e expressões de fé. Até mesmo nosso Direito moderno se baseia em antigos mandamentos da religião judaica. Matar, roubar e às vezes até mentir (falso testemunho) até hoje são considerados crimes, como há quatro mil anos.

Conhecer a origem e as ideias das diversas religiões também poderia contribuir bastante no combate ao preconceito e à intolerância, que se alimentam basicamente de nossa ignorância sobre a realidade do outro. Para isso, porém, a imparcialidade seria o ingrediente essencial. E é aí que começam os problemas. Como cada um tem suas "certezas absolutas" sobre nossas verdades relativas, a teologia seria posta de lado e começaria a pregação.

Professor é aquele que expõe os conteúdos de sua disciplina, sem tentar convencer os alunos sobre suas ideias ou temas preferidos. Ensina a pensar e não o que pensar. Mas quando o assunto é religião, a paixão predomina e a neutralidade simplemte desaparece.

Enfim, enquanto confundirem história das religiões com pregação religiosa, não estaremos prontos para enfrentar este desafio.
 
Ramon de Andrade
Palmares-PE
 


Escolas do país enfrentam desafio de garantir ensino religioso
19 de agosto de 2011 • 10h07

Além das operações matemáticas, das regras ortográficas e dos fatos históricos, os princípios e conceitos das principais religiões também devem ser discutidos em sala de aula. A Constituição Federal brasileira determina que a oferta do ensino religioso deve ser obrigatória nas escolas da rede pública de ensino fundamental, com matrícula facultativa - ou seja, cabe aos pais decidir se os filhos vão frequentar as aulas.
 
Pesquisas recentes e ações na Justiça questionam a inclusão da religião nas escolas, já que, desde a Constituição Federal de 1890,o Brasil é um país laico, ou seja, a população é livre para ter diferentes credos, mas as religiões devem estar afastadas do ordenamento oficial do Estado.
 
Apesar da obrigatoriedade, ainda não há uma diretriz curricular para todo o país que estabeleça o conteúdo a ser ensinado, de maneira a garantir uma abordagem plural sem caráter doutrinário. Outro problema é a falta de critérios nacionais para contratação de professores de religião. Hoje, o país conta com 425 mil docentes, formados em diversas áreas.
 
O ensino religioso está presente no Brasil desde o período colonial, com a chegada dos padres jesuítas de Portugal para catequizar os índios.
 
Atualmente, de acordo com a Constituição, a disciplina deve fazer parte da grade horária regular das escolas públicas de ensino fundamental. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) definiu que as unidades federativas são responsáveis por organizar a oferta, desde que seja observado o respeito à diversidade religiosa e proibida qualquer forma de proselitismo ou doutrinação.
 
"Alguns historiadores que tratam da participação da religião na vida pública mostram que o ensino religioso foi uma concessão à laicidade à época da Constituinte. Havia uma falsa presunção de que religião era importante para a formação do caráter, da vida e dos indivíduos participativos e bons. Essa é uma presunção que discrimina grupos que não professem nenhuma religião. Isso foi uma concessão à pressão dos grupos religiosos", avalia a socióloga Debora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB).
 
Debora é autora, junto com as pesquisadoras Tatiana Lionço e Vanessa Carrião, do livro Laicidade e Ensino Religioso, publicado no último semestre. O estudo investigou como o ensino religioso se configura no país e se as escolas garantem, na prática, espaços semelhantes para todos os credos, como preconiza a LDB. A conclusão é que não há igualdade de representação religiosa nas salas de aula.
 
"Ele é um ensino cristão, majoritariamente católico, e não há igualdade de representação religiosa com outros grupos, principalmente os minoritários", destaca Debora.
 
Há mais de uma década acompanhando essa discussão, o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (Fonaper) reconhece que há muitos desafios para garantir a pluralidade. Mas defende que o conteúdo é importante para a formação dos alunos.
 
"Nós vislumbramos, desde a LDB, que o ensino religioso poderia assumir uma identidade bastante pedagógica, que fosse de fato uma disciplina como qualquer outra e que a escola pudesse contribuir para o conhecimento da diversidade religiosa de modo científico. O professor, independentemente do seu credo, estaria ajudando os alunos a conhecer o papel da religião na sociedade e a melhorar o relacionamento com as diferenças", aponta o coordenador do Fonaper, Elcio Cecchetti.
 
No Rio de Janeiro, por exemplo, o ensino religioso é oferecido apenas nas escolas estaduais. Nas unidades municipais, ainda não foi implantado, mas há um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Vereadores da capital fluminense que prevê a oferta nas cerca de mil escolas da rede, com frequência facultativa. A recepcionista Jussara Figueiredo Bezerra tem dois filhos que estudam em uma escola municipal da zona sul do Rio de Janeiro e acompanha com certo receio a discussão. Ela é evangélica e acredita que esses valores devem ser transmitidos em casa, pela família.
 
"Quem são os professores que vão dar as aulas de religião? Será que eles serão imparciais? Além disso, com tantas dificuldades e carências que o ensino público já enfrenta, por que gastar dinheiro com isso? Esses recursos poderiam ser usados de outra forma, para melhorar a estrutura já existente nas escolas. Quem quiser aprender mais sobre uma religião deve procurar uma igreja ou uma instituição religiosa", opina.
 
Para quem lida na ponta com os delicados limites dessa questão, torna-se um desafio garantir um ensino religioso que contemple as diferentes experiências e crenças encontradas em uma sala de aula. "Nós preferiríamos que a oferta do ensino religioso não fosse obrigatória porque a escola é laica e deve respeitar todas as religiões. O que a gente quer é que os dirigentes possam utilizar essas aulas com um proveito muito melhor do que a doutrinação, abordando o respeito aos direitos humanos e à diversidade e a tolerância, conceitos que permeiam todas as religiões", defende a presidenta da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho.
 
Atualmente, duas ações diretas de inconstitucionalidade (Adin) questionam a oferta do ensino religioso no formato atual e aguardam julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Uma delas foi proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e questionao acordo firmado em 2009 entre o governo brasileiro e o Vaticano. O Artigo 11 desse documento, que foi aprovado pelo Congresso Nacional, determina que "o ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental". Ao pautar o ensino religioso por doutrinas ligadas a igrejas, o acordo, na avaliação da PGR, afronta o princípio da laicidade.
 
Fonte: Terra

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Digerindo Emoções

"Obrigada pela atenção. Entao, como vou saber se ela vai estar preparada para se comunicar comigo? Pelo menos uma vez, queria tanto, tanto... Sinto uma saudade dela que dói na minha alma. Eu não sei o que estaria acontecndo comigo se não tivesse as informações que tenho hoje, graças à Doutrina. Mais uma vez, obrigada."
 

 
Amiga, voltando um pouco a atenção para o lado de cá, o processo que você está vivenciando, embora desagradável, é absolutamente natural, conhecido como "elaboração do luto".
 
Assim como nosso corpo precisa digerir os alimentos, nossa alma precisa digerir as emoções. E o tempo desta digestão varia de acordo com a intensidade de cada uma delas. As pequenas, como raiva, ciúmes, etc, são digeridas rapidamente, como frutas. As mais complexas, como a perda diante da morte, levam bem mais tempo, como uma gordurosa feijoada. Mas tanto as pequenas quanto as grandes emoções encontrarão seu ponto de equilíbrio.
 
Indico estes dois artigos para que você leia, reflita e acima de tudo compreenda que está passando por um processo completamente natural, embora incômodo, de readaptação.
 
 
 
Este processo, inclusive, se estende a outras situações de nossa vida, como as grandes perdas materiais como as que enfrentamos durante as últimas enchentes, por exemplo. Todas elas foram ou serão superadas e, no final, compreenderemos o propósito educacional destas experiências em nossas vidas, pois sempre saímos destes episódios mais fortes, experientes e inegavelmente transformados.
 
Nas palavras de Paulo (Romanos, 12:2):
 
"Não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus."

Um abraço.
 
Suzana e Ramon
Palmares-PE

Telefone sem Teclas

"Oi, Ramon. Recebi seus emails, e tenho algumas duvidas , e gostaria que se possivel fossem respondidas. Escrevi para uma medium por indicaçao da minha cunhada, pedi noticias de ..., porem ela me respondeu que ela estaria naquele tempo impossibilitada de contato, mais me afirmou que ela sempre visitava os familiares acompanhada de seu mentor espiritual. Eu fiquei muito inconformada sem entender o porque e continuo ate hoje, nao perdi a esperança e vou tentar de novo em breve, vc pode responder o porque disso, voce me ajudaria a encontrar uma pessoa de confiança para fazer esse intercambio?"
 

 
Olá, amiga.
 
É natural sua ansiedade por entrar em contato direto com sua pequenina. Embora tudo indique que isso já venha acontecendo durante o sono, você deseja algo mais claro e objetivo do que um sonho. É muito compreensível.
 
Porém a condição ainda muito material da vida na Terra impõe uma série de obstáculos a esse contato direto, tão desejado. Existe uma série de fatores que precisam ser conhecidos e considerados para evitarmos frustrações.
 
Esse contato direto ainda é uma exceção. Como você pôde ver naquela mensagem sobre o Lar da Bênção, nosso principal meio de interação direta com o mundo espiritual continua sendo o sono. Se a Terra é uma escola, o sono é o recrieo da alma. Os motivos pelos quais trazemos tão poucas lembraças destes contatos ao acordarmos são muito bem explicados naquela mensagem.
 
O médium que lhe trouxe notícias de sua pequenina foi muito honesto ao dizer que ela ainda está impossibilitada de se comunicar diretamente. A passagem dela ainda é bem recente. A doença foi longa, o tratamento difícil, de modo que ela precisa de tempo para se recuperar e se adaptar à nova situação. Até mesmo estas visitas acompanhada por seu mentor seria algo muito precoce, creio eu.
 
É bem mais provável que ela esteja recebendo a visita dos familiares mais próximos. A religião, neste caso, não importa, pois como você já percebeu, o sentimento é tudo e mesmo quem tem crenças bem diferentes pode fazer estas visitas sem ficar assustado. Eis mais uma utilidade do esquecimento.
 
Por mais bondoso, caridoso e bem intencionado que seja um médium, nenhum pode garantir se ou quando um contato direto acontecerá. O médium mais experiente nada pode se o espírito não estiver em condições de atender ao chamado. Uma insistência maior de nossa parte, além de causar desconforto à pessoa querida, que sente nosso apelo sem poder responder, também pode abrir espaço para mentirinhas doces de médiuns bem intencionados ou mesmo trotes de espíritos interessados em se distrair com nossa persistência.
 
Chico Xavier é a maior referência quando falamos de mediunidade. Mas poucos sabem que até ele decepcionou muitas pessoas que o procuravam em busca de uma mensagem de parentes falecidos. No trecho abaixo, tirado de sua biografia, retrata bem essa dificuldade:
 
"As sessões de Pedro Leopoldo eram exaustivas e, às vezes, terminavam muito mal. As mensagens de mortos a seus parentes, apesar de escassas e de dirigidas ao público espírita, causavam transtornos.

Companheiros de Chico, alguns deles interessados em fazer média com ricos e poderosos do Rio e de São Paulo, convidavam figurões para tentar a sorte em Pedro Leopoldo.

Quem sabe eles não receberiam recados do além de seus familiares? A maioria absoluta voltava para casa frustrada. Chico tentava explicar: não dependia dele, não era má vontade, ele não tinha poder para obrigar um morto a mandar recados para a Terra. E insistia:
- O telefone só toca de lá para cá.
Alguns dos inconformados sentiam vontade de bater aquele telefone imaginário na cara do pobretão ignorante. Resultado: Chico foi atacado quatro vezes com tapas no rosto por não conseguir atender aos pedidos."
 
As Vidas de Chico Xavier
Marcel Souto Maior
Capítulo 7
Chuva de Pétalas
 
Portanto, a questão não está nos poderes ou nas intenções do médium, nem na nossa persistência, mas na possibilidade que o espírito tenha ou não de se comunicar. Todas as mesangens recebidas por Chico vieram de espíritos que tiveram permissão e estavam em condições para o contato. Porém, eram a minoria. A maioria das milhares de pessoas que iam a Uberaba em busca de uma carta voltava pra casa sem resposta. E algumas delas, por não entender os detalhes deste intercâmbio, ficavam magoadas e culpavam Chico pelo mau resultado.
 
No Livro dos Médiuns, encontramos algumas explicações sobre isso:
 
O Espírito evocado atende sempre ao chamado que se lhe dirige?
 
"Isso depende das condições em que se encontre, porquanto há circunstâncias em que não o pode fazer."
 
Quais as causas que podem impedir atenda um Espírito ao nosso chamado?
 
"Em primeiro lugar, a sua própria vontade; depois, o seu estado corporal, se se acha encarnado, as missões de que esteja encarregado, ou ainda o lhe ser, para isso, negada permissão."
 
O Livro dos Mediuns
Capítulo 25
Das evocações
 
E nossa responsabilidade pelos pensamentos que enviamos às pessoas queridas fica bem clara nestas passagens:
 
"(...) aqui se passa um fenômeno difícil de vos ser explicado porque ainda não podeis compreender o modo de transmissão do pensamento entre os Espíritos. O que te posso afirmar é que o Espírito evocado, por muito afastado que esteja, recebe, por assim dizer, o choque do pensamento como uma espécie de comoção elétrica que lhe chama a atenção para o lado de onde vem o pensamento que o atinge. Pode dizer-se que ele ouve o pensamento, como na Terra ouves a voz."
 
O Livro dos Mediuns
Capítulo 25
Das evocações
 
"Depois de ter passado a espírito, uma das minhas primeiras experiências foi a consciência de uma sensação de tristeza, não minha, porque me sentia supinamente feliz, mas dos outros, e ficava intrigado por saber de onde provinha. Edwin me contou que essa tristeza se elevava do mundo terreno, e era causada pela dor do meu passamento."
 
A Vida nos Mundos Invisíveis
Robert Rugh Benson
Por Antony Borgia
 
Portanto, amiga, a maior prova de amor que podemos demonstrar às pessoas queridas que partiram são os pensamentos de carinho que lhes dirigimos, especialmente por meio da prece. Elas perceberão a força destes pensamentos e se sentirão alegres ou tristes, de acordo com os sentimentos em que os envolvemos.
 
Em suas preces, peça a Deus que a proteja e que vocês tenham muitas oportunidades de se encontrar durante os passeios noturnos dos sonhos, com lembranças mais claras destes momentos.
 
Sei que não era exatamente o que você queria ouvir, mas acredito que seja o que você mais precisa compreender neste momento.
 
Um abraço!
 
Suzana e Ramon
Palmares-PE

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CRIANÇAS NO ALÉM

CRIANÇAS  NO  ALÉM
  
PREFÁCIO
 
Emmanuel
 
Por que a desencarnação de crianças, vidas taladas em flor?
 
Muitos problemas observados exclusivamente do lado físico, assemelham-se a enigmas de solução impraticável; entretanto, examinados do ponto de vista da imortalidade e do burilamento progressivo da alma, reconhecer-se-á que o espírito em evolução pode solicitar conscientemente certas experiências ou ser induzido a elas em benefício próprio.
 
Nas realizações terrestres, é comum a vinculação temporária de alguém a determinado serviço por tempo previamente considerado. .
 
Há quem renasça em limitado campo de ação para trabalho uniforme em decênios de presença pessoal e há quem se transfira dessa ou daquela tarefa para outra, no curso da existência, despendendo, para isso, de quotas marcadas de tempo. Encontramos amigos que efetuam longos cursos de formação profissional em lugares distantes do recanto em que nasceram e outros que se afastam, a prazo curto, da paisagem que lhes é própria, buscando as especializações de que se observam necessitados. E depois dos empreendimentos concluídos, através de viagens que variam de tipo, segundo as escolhas que façam, ei-los de regresso aos locais de trabalho em cuja estruturação se situam.
 
Esta é a imagem a que recorremos para que a desencarnação de crianças seja compreendida, no Plano Físico, em termos de imortalidade e reencarnação.
 
Marcos é o companheiro em readaptação na Vida Maior, após haver deixado o corpo de menino num acidente de trânsito.
 
Ainda a sentir-se criança, no degrau evolutivo em que se acha, escreve aos pais, de modo comovedor, trazendo notícias dele mesmo e dos irmãos que se lhe associaram à prova.
 
A palavra simples e eloqüente do garoto amigo, a identificar-se, quanto possível, para reconforto dos entes queridos, aqui se encontra, demonstrando que, além da morte do corpo, o espírito prossegue atendendo aos condicionamentos indispensáveis à conquista da evolução que não dá saltos.
 
Marcos - menino continuará Marcos - menino, por algum tempo, na Espiritualidade, qual acontece ao espírito, mesmo quando procede de Altos Cimos da Vida Superior, ao retornar à Terra, para certos fins, sempre compelido a passar pela estação da infância.
 
Mas, muito acima de nossas modestas argumentações, o que vale neste livro é o consolo iluminado de esperança que ressuma destas páginas, não somente para os genitores do comunicante, mas também para aqueles outros pais e mães do mundo que perderam filhos amados no alvorecer da existência.
 
Marcos, o suave mensageiro, deixa claro que a vida prossegue no Mais Além; que novas áreas de assistência se descerram depois da experiência física, em auxílio dos pequeninos carentes de instrução e ternura; que os laços afetivos não desaparecem e que Deus concede filhos aos pais humanos, não a fim de separá-los para sempre, e sim para que, na vida ou além da morte, haja entre eles a bênção da união eterna com a luz perene do amor.
 
Emmanuel
 
Uberaba, 3 de outubro de 1976.
 

  
APRESENTAÇÃO
 
A mensagem do pequeno Marcos foi psicografada por Francisco Cândido Xavier no dia 12 de dezembro de 1975, 10 meses após o seu falecimento.
 
Marcos Hideo Hayashi, com 12 anos e os irmãos, João Batista Hayashi, 11 anos e Sheila Tieko Hayashi, com 7 anos, desencarnaram no dia 9 de fevereiro do ano passado, em acidente na Via Anhangüera, próximo a Perus, onde residiam. Eram os únicos filhos de Ukuru Hayashi e de D. Elite Diogo de Oliveira Hayashi.
 
Em rápidas pinceladas, vamos situá-lo, leitor amigo, no drama familiar, envolvendo os pais e os três filhos, desde um pouco antes do acidente que vitimou as crianças até o recebimento da mensagem do Marcos por Chico Xavier.
 
Caio Ramacciotti
 
S. Bernardo do Campo, 3 de outubro de 1976.
 

  
A  SEPARAÇÃO
 
Tão grande era o apego de Ukuru Hayashi - o Roberto - aos filhos, que não fora fácil convencê-lo a deixar Marcos e seu irmão João Batista passarem uma semana em Ribeirão Preto, junto de amigos da família.
 
Os argumentos de D. Elite eram muitos: as férias se aproximavam do fim; Marcos, o mais velho dos três, fora aprovado, em primeiro lugar, nos exames de dezembro e ajudara bastante o pai, nas entregas com o "Mercedinho"; 'tudo, enfim, servia de motivo para que Roberto cedesse.
 
Calado, introvertido, efetivamente o Roberto pouco falava. E, para agravar sua sisudez, muito ocorreu uma revelação que tivera anos atrás, antes mesmo de conhecer a esposa, D. Elite.
 
Quando solteiro, um amigo profetizou com convicção que o destino lhe reservara uma esposa brasileira, sem qualquer ascendência japonesa, e que o casal teria três filhos que, contudo, morreriam, ainda crianças. Tal fato, que marcou profundamente Roberto, somente foi revelado à esposa, após o falecimento das crianças.
 
Como dizíamos, com a insistência de D. Elite e das próprias crianças, Roberto concordou que os filhos mais velhos, Marcos e João Batista, fossem passar a primeira semana de fevereiro de 1975 em Ribeirão Preto.
 
Seguiram de ônibus, com uma amiga do casal e, no fim da semana seguinte, D. Elite, com a filha caçula Sheila, com o irmão, Saulo Prestes de Oliveira, e a cunhada, Maria Prestes de Oliveira, foram de Volkswagen buscar os filhos em Ribeirão Preto. Seguia também no carro o filhinho do casal que acompanhava D. Elite, pequeno, ainda de colo.
 
No domingo, 9 de fevereiro, voltavam a Perus. Saulo ao volante, D. Elite ao lado, com a filha Sheila no colo. Atrás, Marcos, João Batista e D. Maria com o filhinho. Muita alegria, músicas, comemorações, pois no dia anterior, 8 de fevereiro, o João Batista completara 11 anos. Assim descontraídos, chegaram até a entrada de Perus, quando uma Veraneio colheu e arremessou longe o Volks que- já deixava a Via Anhangüera para atingir o acesso que leva a Perus.
 
Todos os ocupantes do banco traseiro do carro tiveram morte instantânea: D. Maria e os três irmãos, Marcos, João Batista e Sheila. Segundo D. Elite, apenas três minutos antes do acidente, em virtude de um mal-estar súbito da cunhada, a Sheilinha precisou ir para trás, a fim de que D. Elite segurasse no colo o sobrinho.
 
O menino sobreviveu, mas a Sheila, em função da troca de lugar, veio a falecer com os dois irmãos e com a tia.
 

  
DO  ACIDENTE
 
Do acidente à psicografia da mensagem – uma nova realidade
 
A adaptação diante da realidade nova se fazia à custa de lágrimas incontroláveis. De chofre, a família alegre, feliz, estava destruída.
 
Sobravam os pais que, em desespero, se arrastavam na busca dos filhos ausentes: do Marcos, do João Batista e da Sheilinha, a suave gueixa da casa.
 
Roberto pouco falava; era, de hábito, calado e com o duro golpe, mais se fechou em si mesmo; continuava firme no trabalho, pois os compromissos exigiam que seu "Mercedinho" riscasse o Vale do Paraíba, para as entregas comerciais inadiáveis.
 
D. Elite, entre calmantes e crises de desespero, foi empurrando o tempo, na saudade dos filhos; ao lar, não voltara mais, morando com a genitora, alimentando a idéia única, implacável de rever os filhos, pois não podia acreditar que tivessem morrido.
 
Que poemas não terão nascido, nessas horas de dor, dos corações simples de Ukuru e Elite, ao mergulharem nas recordações dos três anjos que partiram. Certamente tão belos quanto o Salmo 23 de David - o Salmo da despedida - que, uma semana antes de morrer, como que prevendo a desencarnação iminente, o filhinho João Batista pediu para que todos cantassem, durante uma reunião que D. Elite fizera em seu lar com companheiros de crença religiosa. O cântico de David, entre outras reverências ao Senhor, diz:
 
"Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque estás comigo ..."
 
Embora na época se achasse ligada a outro campo de fé, um mês depois do 9 de fevereiro, por sugestão de D. Consuelo Andrade Carvalho, sua vizinha, D. Elite estava em Uberaba. Queria conhecer Francisco Cândido Xavier.
 
Misturou-se com a multidão que ali se encontrava para abraçar o Chico e, embora rapidamente, teve a oportunidade de mostrar-lhe uma fotografia das três crianças, pedindo ao Chico que a confortasse.
 
- "Quem sou eu para confortá-la? Eu não sou ninguém ..." respondeu Chico Xavier.
 
O diálogo com o médium se resumiu nesse rápido intercâmbio, suficiente, contudo, pelo respeito do Chico aos sofrimentos de D. Elite, para que ela voltasse um pouco melhor para casa.
 
Retornou a Uberaba mais quatro vezes, durante o ano de 1975, sempre sem entrar em detalhes com o Chico, pois os entendimentos se resumiam em saudações rápidas. Na última visita, no dia 12 de dezembro, eis que o Marcos traz a exuberante mensagem de quase 80 laudas psicografadas.
 
Após o recebimento da mensagem, embora a dor ainda persista,os pais acham- se mais confortados. Vez por outra um sorriso já se desenha no rosto de D. Elite e, nos olhos do Roberto, observam-se lampejos de alento, cada vez menos fugazes.
 
É a renovação, com a decidida certeza da sobrevivência do espírito, reconstruindo no casal a estrutura abalada pelos golpes da separação provisória. E: a convicção plena de que seus três filhos não morreram, convicção, aliás, solidificada pela mensagem que veremos adiante, onde as revelações surgem pelas mãos de Chico Xavier que desconhecia detalhes do acidente e ignorava os nomes citados pelo Marcos, alguns dos quais até D. Elite e Roberto tiveram dificuldade em identificar.
 

  
A  MENSAGEM
 
Minha querida Mamãe, meu querido Papai.
 
Estou  obedecendo ao meu  avô Joaquim (1 ) que me ,trouxe para escrever.
 
Peço para que me abençoem.
 
Querida  Mamãe, a senhora pede notícias e rogou tanto, mas tanto, perante as orações, que me vejo aqui para trazer a esperança ao seu coração e fortalecer em meu pai a confiança na vida.
 
Não sei como fazer isso direito: escrever falando o que se passa.
 
Meu avô está me auxiliando, mas, por dentro de mim, estou como quem traz o pensamento tropeçando na vontade de chorar.
 
É preciso ser forte e ser um homem para receber um compromisso desses.
 
Papai  sempre nos ensinou que devemos ser valorosos com a luz da coragem  na frente de nossos passos, mas é tanta dor para vencer, querida Mamãe, que eu não tenho forças para remover a situação.
 
Meu avô diz que não devo procurar desculpas e sim tomar o assunto sem mais demora.
 
Por isso, quero dizer a você, Mãezinha, para confiar em Deus e na vida.
 
Papai é calado e tantas vezes sem manifestações iguais às nossas (2), mas para ele também estou garatujando esta carta.
 
Rogo a vocês para não se deixarem dominar pelo sofrimento, embora este conselho deva ser ditado para mim mesmo.
 
Estamos assim como num telefone direto, em que o fio do lápis vai formando as minhas palavras, sem que eu possa receber as palavras de meus pais queridos, ao mesmo tempo.
 
Sei tudo o que tem acontecido. Sei, Mãezinha, que a senhora, está sendo considerada uma pessoa em perturbação mental (3).
 
Mas nós entendemos daqui as suas aflições..
 
Três filhos esmagados quase ao chegarem em casa ...
 
E a nossa separação de repente.
 
Isso transtornaria o cérebro de um gigante, quanto mais os nossos corações sempre ligados pelo carinho.
 
Desde que acordei aqui, ouço os seus gritos do coração suas palavras que não são faladas, suas preces de aflição no silêncio e suas lágrimas que aí na Terra ninguém vê...
 
Mas peço à senhora, em nome da nossa Sheilinha, do João Batista e em meu nome, para viver e viver com fé em nosso reencontro.         
 
Mamãe, se não fosse a falta que a gente experimenta de casa, se não fosse a voz da senhora e do papai por dentro de mim, eu diria que tudo está bem.
 
Mas posso dizer agora que tudo melhorará, quando melhorarem na paciência e na confiança.
 
Estamos num parque de crianças que vieram para cá apressadamente
 
Temos tratamentos, exercícios lições e muito carinho.   
 
Muitos meninos já crescidos ajudam os menores e são auxiliares de enfermeiras queridas que nos amparam, como sendo filhos do coração.
 
Temos repouso, mas o repouso é atravessado pelas recordações que se fazem tão vivas como se fossem relâmpagos coloridos e parados em nossas lembranças.
 
Nessas telas da alma, vemos o que se passa à distância e, além disso, suas vozes, Mãezinha, nos alcançam por todos os meios.
 
Peço a você - a você que é nosso querido anjo da guarda - entregar a Deus os acontecimentos de fevereiro (5).
 
Não chore mais com desânimo e aflição.
 
A senhora, sempre carinhosa e sempre imensamente boa para nós, não choraria mais com tanta angústia se visse a nossa querida Sheila cair de aflição, querendo ir ao seu encontro
 
sem poder (6) ...     
 
Ajude-nos, querida Mamãe.
 
Aqui temos muita gente dedicada ao bem.
 
A Irmã Luiza nos abençoa - benfeitora que não conheci - e um santo a quem devemos chamar por Irmão Ukuru nos cerca de muito amor, quase todos os dias (7).
 
O tio Diogo (8) e o avô Joaquim são companheiros que tudo fazem por nosso auxílio.
 
De tia Maria (9) nada sei. Pergunto por ela, mas recebo apenas a notícia de que ela vai bem.
 
De certo modo ainda não estou muito em mim.
 
Se tivesse de retomar os estudos aí em casa, creio que não seria possível.
 
Tenho a cabeça assim aflita, como quem não saiu de um susto muito grande e não posso lembrar com muita insistência aquela Veraneio (10) e nem a nossa casa em Perus, porque me sobe uma emoção ao cérebro que dá para tontear; mas o avô Joaquim me diz que tudo vai melhorar quando a senhora e papai estiverem mais fortes.
 
Nós estamos todos unidos sem que eu saiba como é isso.
 
O pensamento é uma força, mas não sei ainda explicar o que sinto.
 
Mamãe, não fique parando o olhar em nossas lembranças.
 
Tudo o que foi nosso –de nós três- dê a outras crianças em nosso nome.
 
Ficará para nós o coração inteirinho, porque a senhora, papai, João Batista, Sheila e eu não nos separamos.                
 
Peça energias para nós nas preces do seu carinho de sempre.
 
Mamãe, as lágrimas são forças de Deus em nossa vida, e por isso, nenhum de nós está livre de chorar, mas as nossas lágrimas devem ser orações de gratidão e amor, paz e fé.
 
Um dia estaremos todos juntos, mas não deseje vir para cá como quem força a entrada de uma casa desconhecida.
 
Pouco a pouco, entenderemos as razões de tudo o que sucedeu.
 
Rogamos para que a ninguém seja atribuída qualquer culpa pelo acidente.
 
O veículo poderia estar sendo guiado por nós.
 
Ninguém cria problemas de trânsito por vontade própria, como no caso em que nos vimos.
 
Mamãe, queremos, a paz de todos
 
Ajudem, a senhora e meu pai, a termos paz.
 
Não se queixem.
 
Vamos cultivar a saudade na igreja do amor ao próximo.
 
Temos tantos irmãos nas calçadas e nas ruas, pedindo auxílio!
 
Sejam eles, filhos também de seu coração.
 
Aqui, muitos pais de meninos desamparados oram conosco pelos filhos sofrem no mundo,mas eu sei que a senhora e meu pai serão auxílio e bênção para esses meninos, filhos de tantos amigos bons que nos amparam aqui.
 
Não posso continuar.
 
Mamãe, abençoes os filhos que somos nós aqui, sem você, mas contando sempre com a senhora para ficar mais fortes.
 
Deus nos auxiliará.
 
Hoje, tenho mais fé.
 
Em nome dos irmãos e em meu nome, deixo a vocês, em casa, o nosso beijo de respeito e de amor.
 
E recebam, com o abraço do avô Joaquim, todo o coração do filho, sempre filho reconhecido.
 
Marcos
 
Uberaba, 12 de dezembro de 1975
 

  
COMENTÁRIOS
 
"Três filhos esmagados quase ao chegarem em casa... E a nossa separação de repente. Isso transtornaria o cérebro de um gigante, quanto mais os nossos corações sempre ligados."
 
São palavras do menino de 12 anos. Se os conceitos profundos, sobretudo se creditados ao cérebro de uma criança, quase adolescente, impressionam-nos, do mesmo modo a grandeza de seus sentimentos nos comove muito.
 
É a criança que fala aos pais, mostrando que as dificuldades são as mesmas do lado de lá, mormente quando a saudade permanece tão viva.
 
Na mensagem, o filho conversa com a mãezinha, em súplica, rogando-lhe não se detenha mais nas lágrimas, pois quem sofre mais com as lágrimas dos pais, são os filhos no outro lado da vida. É por isso que o Marcos diz;
 
- "Mamãe, se não fosse a falta que a gente experimenta de casa, se não fosse a voz da senhora e do papai por dentro de mim, eu diria que tudo está bem."
 
Da mensagem, separaremos algumas citações, obedecendo a seqüência da psicografia, para maior esclarecimento:
 
1 – "Meu avô Joaquim" – avô materno, Joaquim Diogo Oliveira, desencarnado há 16 anos, em Perus.
 
2 – "Papai é calado" – tão simples quanto surpreendente revelação. Chico mal cumprimentara pela primeira vez o Sr. Ukuru, pai das crianças, momentos antes da recepção da mensagem. Ser calado é um singular traço da personalidade do Roberto. Praticamente não fala, tendo sido difícil mesmo, nas entrevistas que realizamos com o casal, arrancar alguma palavra do pai amoroso, mas realmente quieto.
 
3 – Entre as doses de calmantes e os acessos de desespero, D. Elite era por muitos considerada já em alienação mental, desencadeada pólo trauma da separação dos filhos.
 
4- "Estamos num parque de crianças que vieram para cá apressadamente." A respeito da situação das crianças, após sua desencarnação, o leitor encontrará esclarecimentos de
 André Luiz , no livro Entre a Terra e o Céu, psicografado pelo Chico, quando fala no Lar da Bênção, em que pequenos desencarnados se reúnem, sob a proteção de dedicadas professoras do Plano Espiritual.
 
5 – Referência ao acidente que tirou a vida aos três irmãos na Via Anhanguera, na tarde de 9 de fevereiro de 1975.
 
6 – Como observamos no início destes comentários, a angústia dos pais funciona como dardos que atingem diretamente os filhos desencarnados; daí Marcos lembrar, suplicante, à Mãezinha, que ela não choraria mais, se visse a sua querida Sheila cair de aflição, querendo ir ao seu encontro, sem poder...
 
7- Irmã Luiza – possivelmente Marcos se refere à amiga da família, falecida em Guairá-SP, há muitos anos. O irmão Ukuru, homônimo do pai das crianças, não foi ainda identificado, pelo menos nas recordações mais imediatas do grupo familiar.
 
8- Diogo –Pedro Diogo de Faria, irmão do avô Joaquim, faleceu em Guairá, no ano de 1934.
 
9- Tia Maria – cunhado de D. Elite. Faleceu com as crianças no acidente. Maria Prestes de oliveira contava 21 anos e minutos antes do desastre deu o filho par D. Elite segurar no bando dianteiro do carro, pois não estava se sentido bem. A Sheilinha que estava com a mãe, precisou passar para trás e, pouco depois, também foi colhida pelo impacto mortal.
 
Estranha coincidência, o acaso reunir pouco antes do acidente justamente os espíritos que deveriam partir.
 
10- "Aquela Veraneio" – o veículo que colidiu com o carro em que se encontravam as crianças. Oportuna revelação, pois o Chico não sabia dos detalhes do acidente.
 
FIM

domingo, 14 de agosto de 2011

A Procura de Deus

Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?
"Não; falta-lhe para isso o sentido."
 
O Livro dos Espíritos
Questão 10
 

 
36 argumentos sobre a existência de Deus

Em entrevista ao site de VEJA, a "ateia com alma" Rebecca Goldstein critica o radicalismo de crentes e descrentes e comenta seu novo livro, uma saborosa "cilada" para os fanáticos de ambos os lados


Marco Túlio Pires
 
Uma ateia em missão de paz. É assim que Rebecca Goldstein, doutora em filosofia pela Universidade de Princeton e pesquisadora na área de psicologia em Harvard (EUA), se posiciona nas discussões, sempre acaloradas, entre ateus e religiosos.
 
Em seu novo livro, 36 Argumentos Para a Existência de Deus (Companhia das Letras, tradução de George Schlesinger, 536 páginas, 59 reais), Rebecca faz uma crítica ao radicalismo de ambos os lados. E um convite à conciliação. "Ateus têm que deixar o pedantismo de lado e parar de dizer como os religiosos devem pensar", diz ao site de VEJA. "E religiosos têm que parar de pensar que ateus são imorais e não sabem a diferença entre o bem e o mal."
 
Mistura de romance, ensaio filosófico e divulgação científica, 36 Argumentos... é uma saborosa provocação - para crentes e descrentes - dividida em duas partes. Na primeira, conta a história do "ateu com alma" Cass Seltzer, um psicólogo subitamente famoso por causa de um livro em que refuta... 36 argumentos sobre a existência de Deus. Ao final da aventura de Seltzer, que inclui experiências transcendentais, um apêndice reúne os 36 argumentos e os desmonta, um a um, com base em razões da biologia, astronomia, geologia, matemática, filosofia...
 
A tensão entre a parte ficcional e os argumentos científicos faz de 36 Argumentos... uma divertida cilada para fanáticos de ambos os lados. "Incluí os aspectos emocionais da discussão filosófica no formato de romance para servir de contraste ao apêndice", diz Rebecca. "Ao final de tudo, uma nova visão pode emergir do encontro entre esses dois lados antagônicos." Confira abaixo a entrevista:
 
De que Deus a senhora fala em 36 Argumentos...?
É o Deus das religiões abraâmicas - Judaísmo, Cristianismo e Islamismo -, que tem três características principais. Primeiro, esse Deus existe fora do espaço e do tempo e decidiu criar o mundo e as leis da natureza a partir do nada. Segundo, ele tem um interesse moral nesse mundo — na diferença entre o bem e o mal, naquilo que devemos ou não fazer. Por fim, esse Deus interfere nesse mundo por meio de revelações, escrituras ou milagres.
 
A senhora acredita nesse Deus que acabou de descrever?
Não. Penso que podemos estabelecer moralidade sem teologia. Mas amo a definição de Deus do filósofo holandês Spinoza (1632-1677). Ele admite experiências transcendentais, mas não as justifica a partir da existência de um Deus abraâmico. Para ele, Deus e a natureza — o próprio universo — são a mesma coisa.
 
É possível ser um "ateu com alma", como o personagem principal de seu livro, o psicólogo Cass Seltzer?
Sim, é possível. O que faz de Cass meu herói ateu é que ele se mostra aberto a experiências transcendentais. É esse amor pelo universo que se expressa tão facilmente como religião. É aquela sensação grandiosa, magnífica, difícil de verbalizar, que às vezes nos toma completamente. É o combustível da grande arte, por assim dizer. É algo que o mundo secular não consegue traduzir ainda. Mas isso é porque o idioma religioso está pronto. A humanidade está há milênios exercitando essa linguagem. Já a tradução secular dessas experiências ainda está sendo desenvolvida.
 
Existe alguma explicação racional para essas sensações transcendentais?
Não acho que entendemos o suficiente a mente humana — ainda — para explicar por que somos capazes de experimentar essas coisas grandiosas. É uma área misteriosa. Contudo, não acho que isso coloque o ateísmo em contradição.
 
Em que diferem as experiências de ateus e religiosos?
Filosoficamente, penso que temos muitas personalidades. Quando estamos lidando com questões que estão além de uma resposta definitiva, como a existência de Deus, então nossa 'personalidade filosófica' entra em cena. É a maneira como encaramos o mundo, a forma como nos orientamos. Algumas pessoas escolhem canalizar suas experiências transcendentais em termos religiosos. Outras, em termos seculares. Seja qual for a decisão tomada, precisamos considerar as limitações dos dois lados. Os seculares precisam entender os limites da ciência e tolerar os mistérios. Já os religiosos, que a ciência pretende dar respostas honestas sobre a natureza e não deturpá-la.
 
Existe um meio-termo?
Com certeza. Mas primeiro os ateus têm que acabar com o pedantismo. Eles não têm que ensinar como as pessoas religiosas devem pensar. Isso é revoltante e tem que parar. Além disso, as pessoas religiosas têm que parar de pensar que ateus são imorais e não sabem a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado. Isso é falso - existe toda uma filosofia moral que fez muito bem ao mundo e nos tirou da idade das trevas, por exemplo. Quando os dois grupos deixarem de fazer essas coisas, será ótimo. As pessoas poderão ver que o modo como enxergam o mundo é muito semelhante. Se você é religioso, tente se aproximar de um ateu e entender, sem reservas, como ele enxerga o mundo moralmente, independente de suas convicções fundamentais. Se for ateu, faça o mesmo com uma pessoa religiosa.
 
O seu livro seria então uma tentativa de pacificar o debate?
Com certeza. E as reações das pessoas têm sido muito agradáveis. Tanto de pessoas muito religiosas quanto de ateus fervorosos. Acredito que isso acontece por causa da maneira como apresento os elementos desse debate. A ficção, nesse caso, é sorrateira. O romance é capaz de seduzir pessoas de ambos os lados e superar o preconceito. Ateus e religiosos acabam achando pontos em comum e no fim percebem que concordam mais do que discordam sobre o mundo.

Por que misturar a forma do romance com um apêndice científico?
O apêndice do livro mostra como eu penso. Eu queria que ele exercesse uma tensão na história que o precede. É uma forma honesta de mostrar os argumentos mais comuns a favor da existência de Deus e as falácias de cada um deles. Já o romance retrata a emoção que envolve esse debate. A emoção raramente está presente nesses debates justamente por ser tão complicada de retratar. Isso depende do modo como vemos o mundo, as decisões que tomamos, nossa experiência de vida e assim por diante. Tudo isso fica fora das discussões filosóficas sobre a existência de Deus. Contudo, incluí a emoção no formato de romance para servir de contraste ao apêndice. Ao final de tudo, uma nova visão pode emergir do encontro entre os dois lados antagônicos.
 
Alguns ateus consideram pessoas religiosas intelectualmente inferiores, e alguns religiosos consideram imorais os ateus. Qual a sua opinião?
É algo muito, muito triste. As duas afirmações são falsas. Venho de uma família judaica muito religiosa. E muitos de meus parentes religiosos são muito mais espertos do que eu, que sou ateia. Por isso, sei que experimentar o mundo de um jeito religioso e colocar essas sensações na linguagem religiosa não é um sinal de inferioridade intelectual.
 
Onde a senhora acha que esse debate irá nos levar?
Espero que o debate seja respeitoso e honesto. Que as pessoas consigam encontrar as semelhanças e trabalhar a partir daí. A civilização é tudo o que temos.
 
Fonte: Veja
 

 
O argumento cosmológico
 
1. Tudo que existe deve ter uma causa
2. O universo deve ter uma causa
3. Nada pode ser causa de si mesmo
4. O universo não pode ser causa de si mesmo
5. Algo fora do universo deve ter causado o universo
6. Deus é a única coisa que está fora do universo
7. Deus causou o universo
8. Deus existe
 
Falha: Se tudo que existe deve ter uma causa, quem causou Deus? Os teístas dizem que suas premissas têm ao menos uma exceção, mas não explicam por que Deus precisa ser a única exceção. O próprio universo poderia existir sem causa. Já que a responsabilidade precisa ir para alguém, por que não para o universo?
 
O argumento do projeto
 
1. Sempre que existem coisas que se combinam de forma coerente apenas por causa de um propósito ou função (por exemplo, todas as complicadas partes de um relógio que lhe permitem marcar o tempo), sabemos que houve um projetista, alguém que projetou com a função em mente; são coisas improváveis demais para terem surgido por processos físicos aleatórios (um furacão soprando através de uma loja de peças não conseguiria montar um relógio).
2. Os órgãos dos seres vivos, como o olho e o coração, se mantêm coesos apenas por terem uma função (o olho tem a córnea, lente, retina, e assim por diante, que se encontram no mesmo órgão apenas porque em conjunto possibilitam que o animal veja).
3. Esses órgãos precisam ter um projetista que os desenhou com sua função em mente: assim como um relógio implica um relojoeiro, o olho implica um fazedor de olhos
4. Essas coisas não tiveram um projetista humano
5. Portanto, essas coisas devem ter tido um projetista não humano
6. Deus é o projetista não humano
7. Deus existe
 
Falha: A falácia no argumento é a premissa 1. Partes de um objeto complexo servindo uma função complexa não requerem, na verdade, um projetista. Charles Darwin mostrou como processos de replicação podem dar origem à ilusão de projeto e projetista. Replicadores podem fazer cópias de si mesmos, que fazem cópias de si mesmos e assim por diante, dando origem a um sem número de descendentes. Os replicadores precisam competir pela energia e os materiais necessários para a replicação.
 
Uma vez que nenhum processo de copiagem é perfeito, podem acabar surgindo erros, e qualquer erro que leve o replicador a se reproduzir com mais eficiência que os competidores resultará na predominância daquela linhagem na população. Após várias gerações, os dominantes parecerão ter sido projetados para replicação eficaz, mas tudo que fizeram foi acumular erros de copiagem, que no passado levaram a uma reprodução eficaz.
 
O argumento do Big Bang
 
1. O Big Bang, de acordo com a melhor opinião científica de nossos dias, foi o início do universo físico, incluindo não apenas matéria e energia, mas o espaço e o tempo e as leis da física
2. O universo veio a existir do nada
3. Algo fora do universo, inclusive de fora das leis físicas, deve ter trazido o universo para a existência
4. Somente Deus poderia existir fora do universo
5. Deus deve ter feito o universo existir
6. Deus existe
 
Falha: Nem os cosmólogos concordam que o Big Bang é uma singularidade, a aparição súbita de tudo. Ele pode representar a emergência de um novo universo a partir de outro previamente existente, situação explicada por leis físicas. Nesse caso, seria supérfluo invocar Deus para explicar o surgimento de algo a partir de nada.
 
O argumento das preces atendidas
 
1. Às vezes as pessoas rezam a Deus pedindo boa fortuna, e contrariando enormes chances, os pedidos são atendidos (por exemplo, um pai que reza pela vida de um filho moribundo, e a criança se recupera)
2. As chances de o evento benéfico acontecer são enormemente reduzidas
3. As chances de a prece ser seguida pela recuperação da criança por puro acaso são extremamente pequenas
4. A prece só poderia ter sido seguida pela recuperação se Deus a escutasse e a fizesse realizar-se
5. Deus existe
 
Falha: A premissa 3 é verdadeira. Contudo, usá-la para inferir que ocorreu um milagre (uma prece atendida é certamente um milagre) é subvertê-la. Não há nada que seja menos provável que um milagre, já que constitui violação de uma lei da natureza. Portanto, é mais razoável concluir que a conjunção de prece e recuperação seja uma coincidência do que ser uma prece atendida.
 
Além disso, dada a amostragem suficientemente grande de preces (o número de vezes que as pessoas pedem a Deus para ajudar a elas é muito grande), o improvável está sujeito a acontecer ocasionalmente.
 
O argumento do consenso da humanidade
 
1. Toda cultura em toda época tem tido crenças teístas
2. Quando povos, largamente separados tanto por espaço como por tempo, possuem crenças semelhantes, a melhor explicação é que essas crenças sejam verdade
3. A melhor explicação para o porquê de cada cultura ter crenças teístas é que essas crenças são verdade
4. Deus existe
 
Falha: A premissa 2 é falsa porque povos largamente separados poderiam muito bem inventar as mesmas crenças, só que falsas. A natureza humana é universal, e assim propensa a ilusões universais e deficiências de percepção, memória, raciocínio e objetividade.

Lar da Bênção

Selecionei o trecho abaixo, do livro Entre a Terra e o Céu, onde André Luiz narra como acontece uma visita de familiares às crianças desencarnadas. Descreve o ambiente onde estas crianças ficam abrigadas para dar continuidade ao seu desenvolvimento e como se processam as lembranças desta visita após acordarmos.
 
Diversos livros narram cenários muito semelhantes, de modo que não é são necessárias mensagens pessoais para entendermos a situação em que se encontram nossos pequeninos após a partida. Assim como na Terra consideramos a infância uma fase merecedora de cuidados especiais, sem distinções, também na espiritualidade todas as crianças são merecedoras da mesmo acolhimento e carinho, indistintamente.
 
O afastamento também é menor do que imaginamos, pois as visitas são frequentes, como nos hospitais da Terra, não só pelo interesse dos familiares, mas da próprias crianças, que se sentem mais felizes ao receberem a visita das pessoas que ama, o que facilita o seu desenvolvimento.
 
Boas reflexões!
 
Ramon de Andrade
Palmares-PE
 

 
Deliciosa excursão
 
(...)
 
Entrelaçando as mãos e conservando nossas irmãs no circuito fechado de nossas forças, empreendemos a formosa romagem.
 
Quem na Terra poderá imaginar as deliciosas sensações da alma livre?
 
Viajando com a rapidez do pensamento, avançámos à frente da sombra noturna, largando para trás o deslumbramento da aurora, em colorido e cantante dilúculo...
 
Atingindo formosa paisagem, banhada de suave luz, em que um parque imponente e acolhedor se distendia, fixei o semblante de nossas companheiras, que se mostravam extáticas e felizes.
 
Dona Antonina, amparando-se em Clarêncio qual se fora uma filha apoiada nos braços paternos, inquiriu, maravilhada:
 
— Porque não transformar esta excursão em transferência definitiva? Pesa o corpo, à maneira de insuportável cruz de carne, quando conseguimos sentir a Terra, de longe...
 
— É verdade — concordou a outra irmã, que se sustentava em nós —, porque não nos é dado permanecer, olvidando os pesares e os dissabores do mundo?
 
— Compreendemos — ajuntou o Ministro, generoso —, compreendemos quanta inquietação punge o espírito reencarnado, mormente quando desperto para a beleza da vida superior, entretanto, é indispensável saibamos louvar a oportunidade de servir, sem jamais desmerecê-la.
 
Achamo-nos ainda distantes da redenção total e todos nós, com alternativas mais ou menos longas, devemos abraçar a luta na carne, de modo a solver com dignidade nossos velhos compromissos. Somos viajores nos milênios incessantes. Ontem fomos auxiliados, hoje nos cabe auxiliar.
 
Á medida que avançávamos, ondas de perfume acentuavam-se, em torno de nós, revigorando-nos as energias e induzindo-nos a respirar a longos sorvos.
 
Flores de contextura delicada pendiam abundantemente de árvores vigorosas, embalsamando as leves virações que sussurravam encantadoras melodias...
 
Como se trouxesse agora todo o busto engrinaldado de luz, Clarêncio sorria, bondoso.
 
Emudecera-se-lhe a palavra.
 
Sentiamo-nos todos magnetizados e enternecidos ante a beleza do quadro que nos prendia a admiração.
 
Antonina, porém, como se estivesse irradiando insopitável curiosidade, mesclada de alegria, voltou a exclamar:
 
— Ah! se morrêssemos hoje!... se a carne não nos pesasse mais!...
 
O Ministro, contudo, imprimindo mais grave entonação à voz, mas sem perder a brandura que lhe era peculiar, considerou, de imediato:
 
— Se hoje abandonassem o veículo de matéria densa, quem diz que seriam felizes? Quem de nós obterá a suprema ventura, sem a perfeita sublimação pessoal?
 
E, fitando Antonina com bondade misturada de compaixão, observou:
 
— Agora, vocês visitarão filhinhos abençoados que a morte lhes arrebatou temporàriamente ao convívio terrestre. Vocês se sentem como que num palácio dourado, em pleno paraíso de amor, mas, e os filhinhos que ficam? Haverá Céu sem a presença daqueles que amamos? Teremos paz sem alegria para os que moram em nosso coração? Imaginemos que as algemas do cárcere físico se partissem agora... O atormentado lar humano cresceria de vulto na saudade que as tomaria de assalto... A lembrança dos filhos aprisionados no Planeta acorrentá-las-ia ao mundo carnal, à maneira de forte raiz retendo a árvore no solo escuro. Os rogos e os gemidos, as lutas e as provas dos rebentos menos felizes da existência lhes falariam ao espírito mais imperiosamente que os cânticos de bem-aventurança dos filhos afortunados e, naturalmente, desceriam do Céu para a Terra, preferindo a posição de angustiadas servas invisíveis, trocando a resplendente glória da liberdade pelos dolorosos padecimentos da prisão, de vez que a ventura maior de quem ama reside em dar de si mesmo, a favor das criaturas amadas...
 
As duas mulheres ouviram as sensatas ponderações sem dizer palavra.
 
(...)
 
O firmamento parecia responder às sugestões da palestra admirável.
 
Bandos de aves mansas pousavam na ramaria que brilhava não longe de nós.
 
O Sol apresentava perceptíveis raios diferentes, até agora desconhecidos à apreciação comum na Terra, provocando indefiníveis combinações de cor e luz.
 
Por abençoada e colorida colmeia de amor, harmonioso casario surgiu ao nosso olhar.
 
Centenas de crianças brincavam entre fontes e flores de maravilhoso jardim.
 

 
No Lar da Bênção
 
Clarêncio movimentou a destra, indicando-nos o quadro sublime a desdobrar-se sob a nossa vista.
 
Doce melodia que enorme conjunto de meninos acompanhava, cantando um hino delicado de exaltação do amor materno, vibrava no ar.
 
Aqui e ali, sob tufos de vegetação verde-clara, muitas senhoras sustentavam lindas crianças nos braços.
 
É o Lar da Bênção — informou o instrutor, satisfeito. — Nesta hora, muitas irmãs da Terra chegam em visita a filhinhos desencarnados. Temos aqui importante colônia educativa, misto de escola de mães e domicílio dos pequeninos que regressam da esfera carnal.
 
O Ministro, porém, interrompeu-se, de improviso.
 
Nossas companheiras pareciam agora tomadas de jubilosa aflição.
 
Vimo-las desgarrar, de inopino, qual se fossem atraidas por forças irresistíveis, precipitando-se para os anjinhos que cantarolavam alegremente. Enquanto a que nos era menos conhecida enlaçava louro petiz, com infinito contentamento a expressar-se em lágrimas, dona Antonina abraçou um pequeno de formoso semblante, gritando, feliz:
 
— Marcos! Marcos!...
 
— Mãezinha! Mãezinha!... — respondeu a criança, colando-se-lhe ao peito.
 
Clarêncio fêz sinal para as irmãs vigilantes, que se responsabilizavam pelos entretenimentos no parque, como a solicitar-lhes proteção e carinho para as nossas associadas de excursão. (...)
 
(...)
 
Hilário, aderindo à renovação da palestra, indagou da irmã Blandina se ela era a dirigente do parque em que nos achávamos, ao que ela informou, com humildade:
 
— Não me atribua tamanho crédito. Tenho tarefas variadas aqui e alhures, entretanto, sou mera servidora. O nosso educandário guarda mais de duas mil crianças, mas, sob os meus cuidados, permanecem apenas doze. Somos um grande conjunto de lares, nos quais muitas almas femininas se reajustam para a venerável missão da maternidade e conosco multidões de meninos encontram abrigo para o desenvolvimento que lhes é necessário, salientando-se que quase todos se destinam ao retorno à Terra para a reintegração no aprendizado que lhes compete.
 
— E a direção central? — inquiriu meu colega, esmiuçador.
 
— Não reside aqui. O parque é uma das várias dependências de vasto estabelecimento de assistência e educação, do qual somos hoje tutelados. No fundo, nossa casa é uma larga escola, dotada com todos os recursos indispensáveis ao nosso aproveitamento. Os melhores processos de habilitação espiritual funcionam conosco, em benefício dos que vão renascer na carne e dos que se dirigirão, mais tarde, às Esferas Superiores.
 
— Mas possuem aqui até mesmo os cursos primários de alfabetização?
 
— Como não? – falou nossa jovem amiga – precisamos movimentar todas as medidas de despertamento espiritual ao nosso alcance. A cultura intelectual pode não ser condição básica de nossa felicidade, no entanto, é imperativo de engrandecimento de nossa alma. Quem não sabe ler, não sabe ver como deve.
 
(...)
 
A conversação era fascinante e as perguntas pareciam brilhar ainda, nos olhos de Hilário, maravilhado tanto quanto nós, ante as elucidações que recebia, mas a hora esgotara-se.
 
Um sinal de Clarêncio fêz-nos sentir que havíamos alcançado o momento da volta.
 

 
Estudando sempre
 
Às despedidas, retomámos as excursionistas sob a nossa guarda e, em pouco tempo, achávamo-nos, de novo, no caminho terrestre.
 
Da faixa de luz solar, tornámos à imersão na sombra noturna, mas o espetáculo do céu não diminuíra em beleza, porque as primeiras cores da alvorada tingiam o distanciado horizonte.
 
Clarêncio restituiu a companheira de Antonina ao lar, depois de afetuoso adeus. E, sem maiores delongas, demandámos o ninho doméstico de nossa amiga.
 
Antonina mostrava-se calada, tristonha...
 
Dir-se-ia teimava em permanecer, para sempre, junto do pequenino que a precedera na longa viagem da morte. Todavia, em penetrando o estreito santuário familiar, dirigiu-se apressadamente ao quarto, de coração novamente atraído para os outros filhinhos.
 
O Ministro, paternal, fê-la deitar-se e aplicou-lhe recursos magnéticos sobre os centros corticais. A mãezinha de Marcos demonstrou experimentar leve e doce vertigem...
 
Atendendo ao orientador, demorámo-nos em observação, notando que a Antonina de nossa maravilhosa viagem aderira ao corpo denso, qual se fora por ele sugada, à maneira de formosa mulher, de forma sutil e semilúcida, repentinamente engulida por bainha de sombra. Em se justapondo ao cérebro físico, perdera a acuidade mental com que se caracterizava junto de nós. Com a fisionomia calma e feliz, despertou no veículo pesado...
 
Contudo, Antonina não mais nos viu.
 
Era agora simplesmente a mulher humana, nas cobertas agasalhantes do leito, acomodada à escuridão do recinto.
 
Lembrava-se, sim, do passeio ao Lar da Bênção, mas através de impressões a se esfumarem, rápidas.
 
Só a imagem do filhinho, tema central do seu amor, lhe persistia clara e movimentada na memória...
 
Nossa presença e todas as demais particularidades do vôo sublime lhe acudiara à lembrança por acessórios fantásticos a se lhe perderem nos obscuros escaninhos da imaginação.
 
Como quem seleciona preciosidades, a consolada mãezinha procurava, ansiosa, nos arquivos da própria mente, todas as palavras que ouvira do filho abençoado, buscando retê-las no escrínio do coração. Por isso, das valiosas observações de Clarêncio, em poucos minutos não lhe restava na alma qualquer reminiscência.
 
Antonina movimentou-se, fêz luz e ouvimo-la pensar, vibrante: — Oh!  meu Deus, que alegria! pude vê-lo perfeitamente! quero guardar a recordação deste sonho divino!... Marcos, Marcos, que saudades, meu filho!...
 
O Ministro abeirou-se dela, acariciou-lhe a cabeça, como se a envolvesse em fluidos calmantes e a simpática senhora restabeleceu a sombra no recinto.
 
Abraçando a caçula que repousava ao seu lado, novamente dormiu.
 
Nossa amiga não poderá guardar positivas recordações — informou Clarêncio com atenção.
 
Mas, porquê? — indagou Hilário, admirado.
 
Raros Espíritos estão habilitados a viver na Terra, com as visões da vida eterna. A penumbra interior é o clima que lhes é necessário. A exata lembrança para ela redundaria em saudade morta!
 
— Como isso é lamentável! — alegou o meu companheiro, penalizado.
 
O Ministro todavia, explicou paciente:
 
— Cada estágio na vida se caracteriza por finalidades especiais. O mel é saboroso néctar para a criança, mas não deve ser ministrado indiscriminadamente. Reclama dosagem para não vir a ser importuno laxativo. O contacto com o reino espiritual, enquanto nos demoramos no envoltório terrestre, não pode ser dilatado em toda a extensão, para que nossa alma não afrouxe o interesse de lutar dignamente até o fim do corpo. Antonina lembrarse-á de nossa excursão mas de modo vago, como quem traz no campo vivo da alma um belo quadro de esbatidos contornos. Recordarse-á porém, do filhinho mais vivamente, o bastante para sentir-se reconfortada e convicta de que Marcos a espera na Vida maior. Semelhante certeza ser-lhe-á doce alimento ao coração.
 
Francisco Cândido Xavier
Ditado pelo espírito André Luiz
Capítulos 8 a 12