terça-feira, 21 de junho de 2016

Olhar de Misericórdia


"Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados;
e com a medida com que medis vos medirão a vós."
Mateus, 7:1-2

"(...) Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
Respondeu ela: Ninguém, Senhor.
E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais."


"Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo."

João, 8:10-15

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Quando estamos desesperados, sermos julgados é a pior coisa que pode nos acontecer

Sílvia Marques

É cruel exigir de um deprimido ou de alguém que passa por um luto severo uma grande clareza de raciocínio, uma profunda capacidade de entender a situação que lhe ocorre de forma objetiva. É cruel exigir de um deprimido ou de alguém que passa por um luto severo que ele cumpra com as suas obrigações corretamente e que seja capaz ainda de fazer gentilezas e atender a protocolos sociais, como manter conversas frívolas e fazer passeios que não lhe interessam.

Por mais equilibrada que seja uma pessoa , alguns fatos podem bagunçar a sua rotina e desestruturar a sua forma de pensar e agir. Não podemos esperar por uma extrema eficiência e eficácia de um profissional que está passando por um luto. E quando uso a palavra luto, me refiro às diversas mortes que enfrentamos no decorrer da vida.

Não podemos esperar por palavras de bom senso quando alguém acabou de receber uma péssima notícia ou está mergulhado em uma depressão profunda. Não podemos esperar que alguém que se sente quebrado por dentro veja a vida com olhos normais e consiga se divertir naturalmente ou trabalhar produtivamente.

É cruel exigir de um deprimido ou de alguém que passa por um luto severo uma grande clareza de raciocínio, uma profunda capacidade de entender a situação que lhe ocorre de forma objetiva. É cruel exigir de um deprimido ou de alguém que passa por um luto severo que ele cumpra com as suas obrigações corretamente e que seja capaz ainda de fazer gentilezas e atender a protocolos sociais, como manter conversas frívolas e fazer passeios que não lhe interessam.

Alguém altamente deprimido ou vivenciando um luto muito grande mal tem forças para abrir a janela do quarto, lavar o rosto, tomar o café da manhã. Para alguém muito machucado, o melhor remédio é muita compreensão. É muito carinho. A pessoa muito machucada deve ser deixada livre para fazer o que sente vontade. É cruel encurralar quem está no limite das suas forças em jogos emocionais, diálogos intricados, atividades que exijam um alto nível de concentração e energia. Concentração e energia são duas coisas poderosas que o deprimido ou quem vive um luto não tem.

Um deprimido em alto grau não tem energia para suportar um ambiente caótico, em que as pessoas reivindicam a sua atenção. Um deprimido em alto grau não tem forças para suportar as demandas emocionais dos outros pois ele mal consegue sobreviver. O pouco de energia que ele tem é para tentar se salvar. É para tentar não sucumbir ao seu infortúnio. Fazendo uma analogia, é o mesmo que pedir para alguém que está se afogando , salvar outra pessoa.

Pessoas deprimidas não se animam vendo filmes engraçados ou passeando no shopping. Quer dizer, alguns até podem. Mas , o que quero dizer é que o que alegra as pessoas em seu estado normal , quase sempre não significa nada para o deprimido. Enfim, não existem caminhos simples e padronizados para sair de uma depressão. Talvez, o elemento mais recorrente para a maioria das pessoas seja receber muita compreensão.

O deprimido se volta para dentro de si e diz coisas absurdas e não enxerga nenhum caminho possível pois ele está adoecido e precisa de ajuda. Precisa de acolhimento, de pessoas que simplesmente o escutem sem julgá-lo, sem ironiza-lo ou sem minimizar o seu sofrimento. Um deprimido não precisa ser rotulado, ridicularizado, forçado a sair da sua crise à base da porrada.

Infelizmente , a nossa sociedade ainda não consegue lidar com os deprimidos e com aqueles que vivem um luto severo. Infelizmente , muitas pessoas ainda esperam de um deprimido a conduta de alguém que está em seu estado normal. A maioria das pessoas ainda não consegue entender a desestruturação emocional pela qual passa alguém em luto. Todo mundo entende que uma pessoa com a perna quebrada não pode se locomover direito. Mas quando é a alma que está fragmentada, a mente ferida, o papo é bem diferente. Os critérios de julgamento são muito mais rígidos, a paciência , muito menor, as exigências, infinitas.

Fonte: Obvius

domingo, 12 de junho de 2016

O Evangelho Segundo Chico Xavier: Aos pés do amor


"E eis que uma mulher pecadora que havia na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo; e estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo.(...) E disse a ela: Perdoados são os teus pecados. (...) A tua fé te salvou; vai-te em paz."

Lucas, Capítulo 7
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"Chico vinha sofrendo de fortes dores num dos pés e mancava, sem que os médicos que o atenderam pudessem aliviá-lo. Diariamente, os funcionários da Fazenda Modelo eram trazidos de volta para casa em charretes que, ao retornarem a Pedro Leopoldo, tinham de passar pelo Biriba, nome dado à zona de meretrício da cidade.

Uma tarde, ao passarem pelo local, Chico e seus companheiros foram chamados pelas moças que viviam ali. Uma delas, dirigindo-se ao Chico, disse: "Venha até a minha casa, preciso lhe falar". Os colegas logo fizeram gracejos e comentários maliciosos, mas ele desceu da charrete e foi até a residência da moça.

Ali, as prostitutas reunidas o receberam com profundo respeito. Pediram-lhe que sentasse. A moça que o abordara trouxe uma pequena bacia com água limpa, pediu permissão para descalçá-lo, colocou seu pé doente na bacia e, segurando uns raminhos de flores do campo, rezou, seguida pelas companheiras. Ela molhava os raminhos e os batia delicada e repetidamente no pé de Chico. Depois enxugou-o, beijou-o e calçou-o.

Dois dias depois, emocionado, Chico contava o episódio aos amigos. Sua vidência lhe mostrou que o líquido da bacia foi ficando escuro e lodoso à medida que a moça banhava seu pé, fazendo com que a dor o deixasse lentamente.

Chico Xavier: um doce olhar para o além
Sebastião Aguiar
Editora Globo
São Paulo, 2010
páginas 32/33

O Evangelho Segundo Chico Xavier: Desapropriação


"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, salvá-la-á."
Jesus (Marcos, capítulo 8)

"Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos."
Jesus (João, capítulo 15)
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Chico chegara, afinal,  aos cem livros psicografados. Porém, ao dizer ao seu guia espiritual, Emmanuel, que desejava "diminuir o ritmo" de trabalho, suas expectativas receberam mais um balde de água fria, como já havia acontecido antes.

Segundo Chico Xavier, a resposta do seu mentor foi: "Estou na obrigação de dizer a você que os mentores da vida superior que nos orientam expediram uma instrução. Ela determina que sua atual encarnação seja desapropriada em benefício da divulgação dos princípios espíritas-cristãos. Sua existência, do ponto de vista físico, fica à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto seu corpo se mostre apto para nossas atividades".

Inconformado, Chico voltou a perguntar: "Devo trabalhar na recepção de mensagens e livros até o fim da minha vida atual?".

"Sim", disse Emmanuel. "E se eu não quiser? A doutrina espírita ensina que somos portadores do livre-arbítrio para decidir sobre nossos próprios caminhos", insurgiu-se o médium.

E Emmanuel então explicou: "A instrução a quem me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação quando lançado por uma autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao cristianismo redivivo terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico".

O dialogo terminou por aí.

Chico Xavier: um doce olhar para o além
Sebastião Aguiar
Editora Globo
São Paulo, 2010.