sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

TESTEMUNHAS PRESENCIAIS

"9) 'Porque me abandonaste?' (...) todos os discípulos se afastaram de Jesus na hora da morte, MENOS JOÃO. Ele foi o único que permaneceu a seu lado até o momento final e, por conseqüência, o único que escutou e presenciou todos os acontecimentos no ato de sua crucificação. Os outros discípulos apenas relataram o que ouviram falar de bocas de terceiros, uma vez que nenhum estava lá, desta forma, o relato de João se torna o mais verossímil dentre todos. E neste relato não encontramos o chamado a deus perguntando porque o abandonou."
 

 
Olá, amigo João!
 
Seu comentário a respeito de João haver sido o único evangelista a testemunhar pessoalmente os acontecimentos finais da vida de Jesus me fez lembrar de outras passagens que nem sequer deveriam ter sido narradas, por não haverem sido presenciadas por nenhum de seus discípulos.
 
As tentações no deserto e o diálogo com a samaritana no poço de Jacó são algumas delas, mas sem dúvida a mais impressionante é a prece final de Jesus no Horto das Oliveiras, onde claramente é narrado que os dois únicos discípulos que o acompanhavam dormiram ao pé do monte, havendo sido advertidos diversas vezes por Jesus sobre a necessidade de vigília e oração. Logo em seguida, Jesus é detido e levado à presença das autoridades, sem que tenha havido tempo dele mesmo narrar suas palavras finais pronunciadas na oração derradeira.
 
Como então foram narradas com riqueza de detalhes por mais de um evangelista, se nenhuma testemunha houve deste momento terminal?
 
Claro que nada disso retira ou diminui a beleza daquelas palavras, muito coerentes e dignas de Jesus, especialmente quando coloca a vontade de Deus acima da sua própria.
 
No entanto, esta expressa ausência de testemunhas, coloca em dúvida precisamente um de seus raros momentos de fragilidade e de dúvida, quando pede a Deus que retirasse dele aquele cálice. Este pedido, além de estar em dasacordo com a plena consciência que ele tinha de sua missão, também parace incompatível com a firmeza e sobriedade com que ele recebeu o séquito de Judas que o veio buscar para prendê-lo.
 
A idéia de que até mesmo Jesus tenha experimentado sentimentos puramente humanos, como a dúvida e o medo, certamente nos é muito simpática e favorável, pois o coloca mais próximo de nossa realidade. Mas não podemos deixar de considerar também a possibilidade de que esse trecho da narrativa esteja eivado da imaginação dos narradores, que teriam dramatizado a passagem com palavras que consideraram mais adequadas à tensão daquele momento de aflição.
 
Certamente estes são detalhes cosméticos ante a grandeza de sua doutrina. Mas confesso que não resisti ao exercício de reflexão.
 
Aquele abraço!
 
Ramonde Andrade
raesa@ig.com.br
Palmares-PE

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