sábado, 13 de agosto de 2011

Berçário do Céu

A ESFERA DAS CRIANÇAS
 
Uma das inúmeras perguntas que fiz a Edwin logo após minha chegada referia-se ao destino dado às crianças que passavam a espírito.
 
Há um período de nossa vida terrena a que estamos acostumados a chamar Flor da idade. Há uma também aqui, e é na direção desse período que todas as almas ou voltam ou se adiantam, conforme a idade em que tem lugar seu passamento. Quanto tempo leva, depende inteiramente delas, visto que é apenas uma questão de progresso espiritual e desenvolvimento, apesar, de que para os jovens este período seja geralmente mais curto. Aqueles que passam a espírito depois da flor da idade, sejam eles idosos ou de meia-idade, tornar-se-ão mais jovens na aparência apesar de amadurecerem espiritualmente. Não se deve concluir com isso que nós todos chegamos a um nível estático de vulgar uniformidade. Externamente parecemos jovens: perdemos aqueles sinais que a passagem dos anos causa e que tanto nos perturbam quando mortais. Mas nossas mentes tornam-se mais velhas ao ganharmos conhecimento e sabedoria e maior espiritualidade, e essas qualidades da mente são manifestas a todos com quem entramos em contato.
 
Quando visitamos o templo da cidade, e, à distância, vimos o radiante visitante que viéramos honrar, ele apresentava o aspecto perfeito e eterno da juventude. No entanto o grau de sabedoria e espiritualidade que difundia e que podíamos sentir com nossas mentes, era avassaladoramente grande. Acontece o mesmo, em vários graus, com aqueles que vêm dos mais altos planos para nos visitar. Se, portanto, verificamos este rejuvenescimento de pessoas adultas, o que se dará com as almas dos que morreram crianças ou dos que morreram ao nascer?
 
A resposta é que crescem como o fariam na terra. Mas às crianças daqui — de todas as idades — é dado um tratamento e cuidado que nunca seria possível na terra.
 
A criança cuja mente ainda não está completamente formada e não está contaminada pelos contatos terrenos, ao passar a espírito acha-se num reino de extrema beleza, presidido por almas igualmente belas. O reino destas crianças chama-se o berçário do céu e quem quer que tenha a fortuna de visitá-lo sabe que não há termo mais adequado. E foi em resposta à minha pergunta que Edwin propôs levar Rute e eu para o conhecermos.
 
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Vimos vários esplêndidos edifícios ao caminharmos pela grama macia. Não eram muito altos mas largos e extensos, e todos agradavelmente situados entre jardins floridos.
 
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Os prédios leiam construídos de uma substância semelhante ao alabastro, e de tonalidades as mais delicadas; o estilo da arquitetura lembrava os de nossa própria esfera.
 
Mas o que nos provocou maior surpresa foi o ver, confundidas no meio dos bosques, as mais engraçadas casinhas de campo, tais como costumamos ver em livros de fadas. Havia minúsculas casas de vigas recurvas, telhados vermelhos e janelas de minúsculos vidros, e cada uma com o seu encantador jardim ao redor.
 
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Grande número de crianças vivem nessas minúsculas habitações, cada uma presidida por uma criança mais velha, perfeitamente capaz de enfrentar qualquer situação que surja entre os habitantes.
 
Ao andarmos víamos grupos de crianças felizes, algumas jogando, outras sentadas na grama enquanto uma professora lia para elas. Outras ouviam atentamente as explicações sobre flores numa aula de botânica. Mas era uma botânica muito diferente da da terra, no que se refere às flores essencialmente espirituais.
 
Edwin levou-nos a uma das professoras e explicou-lhe a razão de nossa visita. Imediatamente nos deram as boas-vindas e a professora teve a bondade de responder a algumas perguntas. Seu entusiasmo pelo trabalho aumentava o prazer de nos contar o que desejássemos. Ela estava aqui havia um bom número de anos. Como tivera filhos na terra e como se interessasse muito por crianças resolveu encarregar-se desse trabalho.
 
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Nesta esfera, nos disseram, há crianças de todas as idades, desde o bebê, cuja existência na terra não foi além de alguns minutos ou que nem chegou a ter existência própria, ao jovem de dezesseis ou dezessete anos.
 
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O crescimento mental e físico da criança no mundo espiritual é mais rápido do que no mundo terrestre. Vós vos lembrais da retenção da memória de que já vos falei? Ela começa assim que a mente seja capaz de aprender algo, e isso acontece bem cedo. A aparente precocidade é perfeitamente natural, porque a mente jovem absorve conhecimentos facilmente. O temperamento é cuidadosamente estudado pelas linhas espirituais e as crianças são treinadas primeiro a respeito de assuntos espirituais e depois é que são instruídas acerca do mundo.
 
(...)
 
Surge sempre esta pergunta na mente de pessoas da terra, com referência a crianças que já morreram: "Poderemos nós reconhecer nossos filhos quando chegarmos ao mundo espiritual?", A resposta é um enfático sim, fora de qualquer dúvida. — "Mas como? se eles cresceram no mundo espiritual e longe de nossas vistas?"
 
Para responder, é necessário conhecer um pouco mais a respeito de nós mesmos.
 
Deveis saber que, quando dormimos, o espírito se retira temporariamente do corpo físico, se bem que permaneça ligado a ele por um fio magnético. Esta ligação é o fio da vida entre o espírito e o corpo. O espírito, assim liberto, ou permanece nas vizinhanças do corpo ou gravitará para a esfera que seus atos terrenos lhe terão dado direito de freqüentar. O espírito passa, portanto, parte da sua existência em terras espirituais. E é nestas visitas que encontramos parentes e amigos que morreram antes de nós; é também nessas visitas que os pais podem encontrar seus filhos, e assim observar seu crescimento. Na maioria dos casos os pais não podem penetrar na esfera dos próprios filhos, mas há inúmeros lugares onde tais encontros podem ocorrer. Lembrando o que eu disse sobre a retenção da memória subconsciente, vereis que, em tais casos não pode haver problema para reconhecer um filho, porque o pai viu o filho e observou seu crescimento da mesma maneira que o teria feito se a criança permanecesse na terra.
 
Deve haver, é claro, suficientes laços afetivos entre os dois, do contrário esta lei não funciona. Onde eles não existem, a conclusão é óbvia. O laço de afeição e interesse deve também existir entre todas as relações humanas no mundo espiritual, seja entre marido e mulher, pai e filho ou entre amigos. Sem ele é problemático que as pessoas se encontrem, a não ser ocasional e fortuitamente.
 
O reino das crianças é uma cidade em si, contendo tudo que grandes mentes, inspiradas pela Mente Suprema, podem fornecer para o bem-estar, conforto, educação, prazer e felicidade de seus jovens habitantes. Os templos do saber estão equipados com todo o necessário para a difusão do saber, daqueles que não o possuem ainda no menor grau, e que portanto precisam começar pelo começo. Isto se refere a crianças que morreram muito cedo. Crianças que deixam o mundo nos seus primeiros anos continuarão seus estudos onde os largaram, eliminando todos os que não lhes serão de utilidade futura, e acrescentando os espiritualmente necessários. Assim que alcançam idade adequada podem escolher seu futuro e estudar de acordo com suas preferências. E elas têm, como era de esperar, as mesmas oportunidades, os mesmos direitos à herança espiritual, como os temos todos, velhos ou novos.
 
E todos fixamos o mesmo alvo — a felicidade perfeita e perpétua.
 
A VIDA NOS MUNDOS INVISÍVEIS
Monsenhor Robert Hugh Benson
Por Anthony Borgia
Editora Pensamento

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