
O Evangelho Segundo o Espiritismo
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Falar de tragédia logo às vésperas do Natal? Essa dúvida me foi trazida. Não vejo, porém, por que o assunto possa ter incompatibilidade com o Natal, momento especialmente propício às reflexões mais profundas sobre as contribuições do cristianismo para a formação ética e humanitária do que hoje chamamos de civilização. Um trecho do artigo que acompanha a reportagem sobre Darfur resume bem esse sentimento:
"Precisamos do Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror".
Um forte abraço e até a próxima semana,
Eurípedes Alcântara
Diretor de Redação
Fonte: VejaOnLine
4) Porque utilizar parábolas e figuras do dia-a-dia?
Torna-se necessário fazer uma observação sobre o objetivo dos ensinos ministrados pelo Mestre Jesus em três aspectos: 1 - se eram direcionados exclusivamente para a sociedade hebraica da época, 2 – se todas as pessoas que escutaram tinham condições de compreender o seu significado e 3 – em que aspectos desejava Jesus que estes ensinamentos fossem utilizados.
Partindo do último para o primeiro temos, hoje, plena consciência que o Mestre desejava que seus ensinamentos fossem utilizados em todos os aspectos de nossas vidas, em todos os momentos e todos os dias; desde que estejamos preparados para utilizá-los, prontos para abrir mão de determinadas ambições, rivalidades, vícios que trazemos dentro em nós.
Isso nos leva ao segundo aspecto: o de termos condições de compreender os ensinamentos de Jesus seja intelectualmente ou moralmente. Analisando Intelectualmente somos forçados a compreender que, desde antes do tempo de Jesus, vivem na terra diversos povos que apresentam variados graus de desenvolvimento, além da natural limitação de aprendizado que temos todos, uns em relação aos outros; desta forma entendemos que o que um de nós compreende pode não ser compreendido por outras pessoas ao mesmo tempo.
No aspecto moral devemos salientar que o nível em que cada consciência estagia é diferente para todos nós. Desta forma o que é errado para um pode ser completamente normal para outro, e este outro não irá modificar sua forma de pensar sem a ação do tempo em sua vida, mostrando através das experiências vividas que nem tudo que é possível é correto.
Jesus tem consciência plena de tudo isso. Por este motivo preparou seus ensinamentos de forma a atender nossas necessidades em qualquer estágio que nos encontremos.
Falou sob formas alegóricas de parábolas, histórias contadas sobre fatos da vida, buscando vincular estes fatos às lembranças que temos dos nossos próprios fatos, assim quando passássemos por situação semelhante seria instantâneo o retorno daquela lembrança.
Utilizou em suas parábolas de imagens do dia-a-dia de todos nós. Os pássaros, as flores, uma luz acesa, uma porta, uma montanha... imagens que temos em nosso inconsciente e com as quais nos deparamos diariamente, fazendo assim as mensagens mais verossímeis e fáceis de compreender e interpretar.
Guardou sob a forma de simples histórias as verdades imorredouras de todos os tempos, que somente se abrirão para aqueles que tiverem a chave em seu coração, ou seja, que já estiverem em condição moral de compreender o sentido profundo do ensinamento por trás das palavras. Prova disso é que, independente do grau de instrução, muitas parábolas, ainda hoje, não são compreendidas por vários de nós; enquanto outros menos letrados tem plena compreensão do que significam em sua pureza.
Assim, o Mestre respondeu ao nosso primeiro aspecto diretamente, preparando para todos os povos, de todos os tempos, a oportunidade de compreender as verdades da Lei de Deus e a importância do amor em nosso crescimento espiritual.
3) Porque escolher gente do povo para seguí-lo?
Ao iniciar seu trabalho neste orbe Jesus convidou algumas pessoas para seguí-lo, aprendendo seus ensinamentos e destinados a dar continuidade ao nascimento da consciência cristã no mundo.
Algumas destas pessoas foram chamadas entre pescadores, outras entre gente do povo, uma delas foi coletor de impostos, porém se engana quem acredite que aquele foi o primeiro encontro entre estas pessoas. No mundo espiritual, desde muito antes, eles se conheciam e se preparavam para seguir o Mestre.
Encarnaram entre pessoas simples, de vida rude e sem expressão social; e podemos perguntar porque? Obteremos a resposta quando lembrarmos que Jesus foi o único espírito puro que aportou em nosso planeta, portanto é de se esperar que os outros, por mais adiantados que fossem, não era puros ainda. Prova disso teremos quando Jesus nos fala que "dos homens nascidos de mulher nenhum é maior que João Batista, mas o menor no reino dos céus é maior que ele".
Se os seguidores do Cristo (os apóstolos e os seguintes) eram espíritos ainda passíveis de falhas e defecções, seria normal que eles reencarnassem em ambientes onde tivessem menor possibilidade de se deixar influenciar pelos valores negativos do materialismo, objetivando o poder, como os poderosos da época, de acordo com as informações que a história nos trás.
Entre pessoas simples e trabalhadoras apenas teriam bons exemplos e a oportunidade de preparar seu espírito para a missão que viria, enriquecendo-o com Esperança, Humildade, Fraternidade e Respeito a Deus; diferente dos fariseus, escribas e príncipes dos sacerdotes que vivam da exploração do povo, de seus bens e da mentira, sendo inclusive chamados por Jesus de "Sepulcros caiados".
Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo" teremos a oportunidade de ver Kardec discorrer sobre a frase de Jesus "graças de dou, meu Pai, por ocultares estes mistérios aos doutos e prudentes e os revelares aos simples e humildes".
Os "Doutos" são os homens de poder e inteligência, influentes na sociedade e na religião, e por isso mesmo corrompidos pela ilusão que este poder dá; assim despreparados para entender a mensagem de consolação do Cristo, tão preocupados com os valores materiais.
Os "humildes" por sua vez são os que nada mais têm a perder. São os parias da sociedade hebréia, os doentes, os ulcerados, as prostitutas, os abandonados da família e sociedade, que em Jesus encontravam a Esperança e a consolação. Que entendiam os postulados de perdão e amor, pois estes sentimentos os aliviavam dos sofrimentos vividos.
Para eles as palavras "bem aventurados os que sofrem...os que choram...os que tem fome e sede...os pacificadores" tinham um significado real e verdadeiro; pois expressava seus sentimentos mais constantes e os dava a certeza de um mundo onde serão saciados e auxiliados.
Nos evangelhos veremos poucas pessoas de influência seguindo o Mestre, pela divergência dos valores que Jesus representava, mas para os que decidiram seguí-lo a vida se transformou em um mar de oportunidades representado por sofrimentos físicos, porém repleta de satisfação espiritual.
2) Porque nascer entre os humildes?
Israel Já aguardava pelo Messias havia muitos séculos e, devido aos valores que foram passados pelas gerações passadas, esperavam que o seu "Rei" fosse um bravo líder guerreiro que iria libertar o povo e dominar o dominador, visto que o Deus dos hebreus recompensava em bens materiais a dedicação do povo.
Jesus trouxe a negação dos os valores que estavam sendo passados erroneamente pela tradição Judaica. Por este motivo não deveria Ele ser concebido em uma casa de esplendor, poder e riqueza; mas, pelo contrário, em uma casa simples de trabalhadores do povo, embora com uma linhagem real – porque José descendia de David.
Estar próximo ao povo permitiu que Jesus conhecesse de perto as necessidades e as dores dos seus semelhantes, das ovelhas que ele mais tarde apascentaria. Porém seu nascimento não se passou despercebido. Os poderosos reis da época, com medo de perder o poder temporal e a riqueza, desejavam encontrá-lo e matá-lo, o que demonstra mais uma vez a sabedoria divina escondendo-o entre um qualquer do povo.
Jesus pôde então crescer em um lar normal, repleto de carinho e atenção, mas também de trabalho e dedicação ao dever. Crescendo e aprendendo a profissão do pai pôde manter sua família, após o desencarne de José, enquanto não chegava o tempo de sua missão iniciar-se.
Hoje podemos compreender de seus ensinamentos que não nos é necessário quantidades exorbitantes de dinheiro ou posses imensas e rentabilidades descontroladas para sermos felizes; Seguindo o seu exemplo de vida podemos encontrar a felicidade na convivência fraterna entre os irmãos e na compreensão de nosso direcionamento maior na vida: atender ao próximo com resignação perante os desígnios da providência e amor incondicional pelos que nos prejudicam.
Toda a nossa concepção da criatura Jesus é embasada em um erro de interpretação que, sendo proposital ou não, mudou todo o contexto de seu significado para o homem comum. Todas as principais religiões cristas se baseiam no paradigma que Jesus é Deus e é Espírito santo, formando o dogma da trindade, que se mostra incoerente por si só, pois uma vez que deus é único e perfeito não poderia estar dividido, portanto imperfeito. Mas a história, e os historiadores, vem nos mostrar que tal conceito foi absorvido, como tantos outros, da antiga babilônia e assíria, da trindade dos deuses hindus e etc. Mas, isto não vem necessariamente ao caso.
É importante verificar que Jesus em todas as passagens bíblicas se coloca como "filho do homem", "filho de Deus" e se refere a Deus como "meu Pai", "aquele que me enviou". Apenas em uma única passagem, em João 10:30, ele ressalta: "eu e o pai somos um", colocacao que uma tradução mais apurada dos originais identificará como "somos uno" – revelando o verdadeiro intento de Jesus que era declarar-se unido com o Pai em seus ensinamentos, unido com a força criadora porquanto único espírito perfeito e conhecedor de suas leis, único com o pai como um embaixador de Deus representando sua vontade em nosso orbe.
Jesus, espírito perfeito, se fez homem como nós. E, como sendo melhor que nós, venceu as vicissitudes e tentações do mundo e do corpo (como ensina a parábola das tentações, que erroneamente foi transcrita como sendo o próprio Jesus que fora tentado, mas que espírito do mal teria condições de tentar Jesus, o governador do nosso orbe? É mais lógico entender que Jesus contou esta parábola e o evangelista, achando que o fato de vencer o demônio é um feito tão imenso,que somente poderia ter sido realizado pelo próprio Jesus), até porque Ele estaria nos enganando ao declarar " tendes fé, eu venci o mundo" se ele fosse Deus, porque Deus, tudo podendo, não tem o que vencer.
Jesus homem é a figura que anda lado a lado conosco em nossos caminhos mais tortuosos, conhece nossa fome e sede de pão e água, mas também de justiça e amor. Desce até o pântano de nossos sentimentos negros sem se manchar com nossa imundície ou macular com nossas tristezas. Desce, simbolicamente, da montanha para que nós possamos ascender, seguindo até onde ele se encontra.
Nem totalmente homem, porque sendo do céu transcendeu nossas imperfeições, nem nunca Deus, porque criatura do altíssimo, sem dever ser confundido com o criador, e ligado a nós pelo lado humano de seu ser – e a humanidade são todas as formas de vida inteligentes do cosmo.
Jesus representa a e ligação eterna entre o céu e a terra, a qual nós podemos, segundo suas próprias palavras, atingir um dia "de acordo com nossas obras", sendo ao mesmo tempo nosso guia e modelo como poderemos encontrar, "se quisermos" na questão 625 do LE.
Esta é uma das perguntas que, ao longo da história, têm trazido muita discórdia e discussão entre vários povos e crenças.
O Espiritismo nos esclarece que Jesus é o "mais perfeito modelo e guia" que Deus entregou a humanidade; Espírito puro desde antes da criação da terra; Arquiteto e Governador de nosso planeta. Mas, que mesmo com todos estes atributos, ainda é filho de Deus e, por consequência, nosso irmão maior, enviado a nós para nos mostrar o caminho para a evolução moral.
Muito embora cada um de nós possa ter uma visão única e diferente de Jesus, o entendimento que possuímos de Deus sempre vai ser único e invariável: Nosso Pai criador e amoroso, Incriado, Eterno, Imutável,Justo e Bom.
A idéia errônea que Jesus é Deus talvez venha de uma <strong>ÚNICA</strong> afirmação na bíblia - João, 10:30, onde o Mestre afirma " Eu e o Pai somos um". Porém, se olharmos a precariedade da língua hebraica e as traduções para o Grego e Latim, teremos, após um estudo mais coerente, a tradução "eu e o pai somos UNO" - onde UNO assume o significado de sintonizados, unidos ou harmonizados. E não a significação que Jesus e Deus são a mesma pessoa.
Lembremos que em TODOS os outros momentos nos evangelhos Jesus sempre utiliza as palavras "meu pai", "nosso pai", "o que me enviou". E apenas para dar alguns exemplos tomemos no mesmo evangelho: João 14:28, João 5:30, João 12:49-50, João, 8:28-29 e João 20:17.
A Idéia da divindade de Jesus remonta ao Concílio de Nicéia, no ano 325 d.C.; Onde por apenas um voto de diferença o então Imperador Constantino forçou a Igreja Cristã a assumir esta afirmação, por motivos puramente políticos e de manobra das massas. Sacrificando a liberdade de pensamento, ameaçando com a excomunhão e até a morte os que não concordassem com ele, Perpetuando através dos séculos uma afirmação ilógica, que na verdade é um engodo milenar.
A Doutrina Espírita, eliminando a Fé cega e trazendo para nós a FÉ RACIOCINADA, que busca o real sentido e significado de nossa crença, nos instrui a aprendermos cada vez mais, seguindo a orientação dada pelo Espírito Verdade: "Espíritas amaivos... Espíritas instruívos!"
Em conversa com uma amiga que reside na cidade de Maceió, este final de semana, veio à tona um dos temas mais controversos do Espiritismo: O umbral.
Contava ela que em uma das reuniões do centro que frequenta na cidade alagoana aconteceu um fato no mínimo curioso: Uma jovem, recém saída de uma Igreja Protestante, perguntou a um dos que orientava a reunião a respeito do Umbral, o que era? Qual sua função? Onde é? E coisas do gênero.
O esclarecedor, com certeza profundo conhecedor do assunto, teceu longos comentários a respeito desta temida região espiritual, porém, de acordo com minha amiga, exaltando o lado do sofrimento e da dor, da solidão e desespero e coisas assim.
Ela me disse que ficou por demais angustiada ao ver a expressão da jovem que havia feito apergunta pois, acredito eu, aquilo que estava sendo divulgado naquele momento era por demais parecido com o inferno que é pregado em todas as demais religiões.
Sentindo-se incomodada com aquela situação, minha amiga disse que parecia que a moça estava se afundando no umbral de verdade, até que, quando terminou o esclarecimento, ela pediu a palavra e tirou a moça de lá com um simples comentário: "sem dúvida a existencia do umbral é um fato e é para onde vamos por atração energética, é inegável isto. Porém, o que precisamos também deixar claro é que no momento em que mostramos o mínimo sinal de arrependimento e abrimos o espaço para sintonizarmos com frequencias mais altas de pensamento, somos socorridos e levados a locais de auxílio". E ela disse brincando: "pronto, em um minuto eu tirei ela do umbral".
Este fato, que com certeza acontece em muitas casas pelo brasil afora, vem, em meu entender, apenas demonstrar o quanto estamos ainda arraigados a antigos sistemas e preceitos que nos "prendem" e "assustam".
Ao meu ver, limitado e simples, o Espiritismo deve ser encarado como um princípio libertador frente aos ditames da religiosidade convencional. É a Doutrina do esclarecimento, devemos então levar as informações até as pessoas da forma mais completa que pudermos, porém sem desejar incutir nestas informações ameaças veladas tipo: "se você não agir bem vai sofrer terrivelmente". Isso vem sendo tentado há séculos e não fez o efeito desejado.
Prova disso é a queda vertiginosa nos números de fieis da entidade religiosa dominante da cristandade (média de 7% ao ano) e o crescimento de outros braços cristãos, como o protestantismo (8% ao ano) e o Espiritismo (4% ao ano).
Acredito que o esclarecimento embasado em observações sólidas, coerentes e lógicas, juntamente com um estudo sério em conjunto com outras pessoas vem formar uma nova consciência em cada um de nós, e esta consciência vai nos levar pelos caminhos que desejarmos ir. Sabedores que seremos das nossas limitações, dos nossos rumos e das consequências que teremos seguindo qualquer um dos caminhos que nos for apontado.
Em tempos que se fala de alteridade é ainda muito triste ver a figura dos religiosos, principalmente dos espíritas, utilizando as figuras que constituem elementos de estudo profundo como armas, em nome de uma "preocupação" com o melhor do próximo.
Analisando friamente o umbral, do qual tantos de nós temos muito medo, encontraremos Abdré Luiz esclarecendo que "o umbral se inicia na crosta terrestre", ou seja, querendo ou não nos já estamos no umbral.
Veremos mais tarde que ele se expande até vários quilômetros na atmosfera terrestre, então, e não se espante com o que vou dizer agora, a cidade de "nosso lar" e várias outras colônias espirituais estão localizadas no umbral. Em um local denominado "umbral leve", mas continua sendo umbral.
Somos informados pelas entidades espirituais que várias casas de socorro são colocadas em prelo "umbral denso" para o socorro mais imediato daqueles que estão preparados para tanto, e novamente recorro a André Luiz que classifica o umbral não como um lugar de sofrimento, mas como um lugar onde vamos eliminar as energias densas que trazemos em nós.
Infelizmente, e isso também é da lei, trazemos junto com estas energias densas a consciência pesada, os vícios, a culpa, o remorso, o egoismo, a ira e várias outras situações que nos tornam mais "pesados" internamente, impedindo que nós sintonizemos com os espíritos socorristas que desejam nos auxiliar constantemente.
O Livro "memórias de um suicida" nos traz um relato espetacular sobre o resgate de sofredores no umbral e sobre a nossa participação ATIVA neste processo.
Ao final deste pequeno texto desejo apenas nos lembrar que "céu" e "inferno" são estados de consciência. Quantas pessoas verificamos todos os dias que estão felizes com suas vidas (mesmo não tendo uma quantidade enorme de dinheiro como muitos de nós deseja) e vivem "em um pedacinho de céu; enquanto tantas outras vivem encarceradas em seus sentimentos negativos e formam para sí mesmo uma vida "infernal", aqui mesmo na terra dos encarnados?
Tenhamos, pois, a certeza que as afinidades que se fizerem presentes em nosso desencarne serão áquelas que fizermos durante nossa encarnação. Por isso sigamos ao exemplo maior e melhor que recebemos, tentando angariar valores melhores hoje que ontem. Lembrando as palavras de jesus "ajuntai tesouros no céu, pois onde estiver o teu tesouro alí estará teu coração."
Não tenhamos medo, porém nos esforcemos no melhor.