sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Faxina Emocional

"Do que há em abundância no coração, disso fala a boca.
O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas,
e o homem mau do mau tesouro tira coisas más
."

Jesus (Mateus, Capítulo 12)
 

 
Como descartar pensamentos ruins e guardar pensamentos bons
Redação do Diário da Saúde
19/12/2012
Só imaginar que está jogando os pensamentos fora ou os está guardando não funciona. Você precisa realmente escrevê-lo e jogá-los fora ou guardá-los bem guardados.
 
Manipulando pensamentos
 
Se você quiser realmente se livrar de pensamentos negativos e indesejáveis, simplesmente rasgue-os e jogue-os no lixo.
 
Pesquisadores descobriram que, quando as pessoas escrevem seus pensamentos em um pedaço de papel e, em seguida, jogam o papel fora, elas mentalmente descartam também os pensamentos.
 
Por outro lado, as pessoas são mais propensas a usar seus pensamentos ao fazer julgamentos posteriores se primeiro elas escrevem o pensamento em um pedaço de papel e colocam o papel no bolso para protegê-lo.
 
"De certa forma pode parecer bobagem, mas nós descobrimos que realmente funciona. Fisicamente jogando fora ou protegendo seus pensamentos, você influencia o modo como acaba usando esses pensamentos. Simplesmente imaginar essas ações não tem efeito," disse o Dr. Richard Petty, da Universidade do Estado de Ohio (EUA), coautor do estudo.
 
Pensamentos materializados
 
Como você rotula seus pensamentos - como lixo ou como merecedor de proteção - parece fazer a diferença na forma como você usa esses pensamentos.
 
Os resultados do novo estudo sugerem que as pessoas tratam seus pensamentos como algo material, como objetos concretos.
 
Segundo Petty, isso é evidente na linguagem que usamos.
 
"Nós falamos sobre os nossos pensamentos como se pudéssemos visualizá-los. Nós alimentamos nossos pensamentos. Tomamos posição sobre as questões, apoiamos este ou aquele caminho. Isso tudo torna nossos pensamentos mais reais para nós," afirma.
 
Importância da ação
 
Os participantes que jogaram os pensamentos no lixo - escrevendo-os e arrastando-os para a lixeira - fizeram menos uso dos pensamentos negativos do que aqueles que salvaram os pensamentos em um arquivo.
 
Em outro experimento, os participantes foram instruídos a simplesmente imaginar que estavam arrastando seus pensamentos negativos para a lixeira, ou que os estavam salvando-os em um arquivo no disco.
 
Mas isso não teve efeito sobre seus julgamentos posteriores.
 
"Quanto mais convencida a pessoa está de que os pensamentos realmente foram embora, melhor," disse Petty. "Só imaginar que você os jogou fora não funciona."
 
Os resultados foram publicados online na revista Psychological Science.
 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Otimismo Terapêutico

"Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se dele. Jesus, porém, lhes disse: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra e na sua própria casa. E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles."
 
Mateus, Capítulo 13


 
Pessoas altruístas e otimistas têm mais benefícios do efeito placebo
Redação do Diário da Saúde
24/12/2012
A ativação dos analgésicos naturais secretados pele cérebro é maior em pessoas altruístas e otimistas.
 
"Isso não vai dar certo"
 
Apesar do "poder dos placebos", não existem ainda boas teorias para explicar tanto o efeito placebo quanto o efeito nocebo.
 
Uma das principais questões em aberto é por que o efeito placebo funciona bem para algumas pessoas mas não para outras.
 
Uma equipe de neurocientistas resolveu abordar essa problemática de um ponto de vista mais holístico, e descobriu algumas correlações muito interessantes.
 
Pessoas que experimentam os melhores efeitos ao tomar placebo têm traços de personalidade tipicamente otimistas e altruístas.
 
Geralmente são pessoas que lidam bem com as dificuldades da vida e que ajudam os outros sem esperar recompensas.
 
Por outro lado, pessoas do tipo raivoso ou irritado, que costumam ter atitudes hostis em relação à vida e aos outros, não têm os mesmos benefícios do placebo.
 
Diferença no cérebro
 
Mas será que altruístas e otimistas simplesmente teriam mais força de vontade para influir nos resultados de um tratamento, ainda que fosse um tratamento falso?
 
De fato a questão é muito mais profunda - e resposta para ela está no cérebro.
 
Ao analisar as pessoas de bem com a vida, que usufruem melhor dos efeitos do placebo, os pesquisadores descobriram diferenças fisiológicas no cérebro que podem explicar os diferentes efeitos do medicamento inerte.
 
O cérebro das pessoas possui compostos químicos similares a analgésicos que respondem à dor de forma diferente dependendo do tipo da personalidade.
 
E isso determina os benefícios que poderão ser colhidos do placebo.
 
Convertendo informação em alteração biológica
 
O Dr. Jon-Kar Zubieta, da Universidade de Michigan (EUA), afirma que o estudo envolveu tratamentos para a dor, mas que os resultados também podem ser aplicados a respostas a outras circunstâncias indutoras de estresse.
 
"Nós descobrimos que a maior influência vem de uma série de fatores relacionados com a resiliência individual, a capacidade para enfrentar e superar ocorrências estressantes e situações difíceis. Pessoas com esses fatores têm a maior capacidade para capturar informações ambientais - o placebo - e convertê-las em alterações biológicas," disse ele.
 
O pesquisador acrescenta que a descoberta poderá ter implicações para o relacionamento médico-paciente.
 
Por exemplo, pacientes com determinados traços de personalidade e tendências de resposta ao placebo terão mais facilidade para discutir as opções de tratamento com o médico, discutindo francamente quaisquer preocupações quanto à resposta ao tratamento a ser adotado.
 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Medo do Fim

"Fisicamente, a Terra teve as convulsões da sua infância; entrou agora num período de relativa estabilidade: na do progresso pacífico, que se efetua pelo regular retorno dos mesmos fenômenos físicos e pelo concurso inteligente do homem. Está, porém, ainda, em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das suas maiores comoções. Até que a Humanidade se haja avantajado suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela observância das leis divinas, as maiores perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela Natureza, isto é, serão antes morais e sociais do que físicas."
 
Allan Kardec
A Gênese
Capítulo IX



NASA desmente fim do mundo e alerta sobre suicídios
Com informações da BBC
04/12/2012
Última "folhinha" do calendário Maia: a coluna da esquerda dá a data de contagem longa. As duas colunas da direita são glifos da escrita epiolmeca.
 
Não acaba
 
Após receber uma enxurrada de cartas de pessoas seriamente preocupadas com teorias que preveem o fim do mundo no dia 21 de dezembro de 2012, a agência espacial norte-americana (NASA) resolveu "desmentir" esses rumores.
 
A NASA fez uma conferência online com a participação de diversos cientistas.
 
Além disso, a agência criou uma seção em seu site para desmentir que haja indícios de que um fim do mundo esteja próximo.
 
Suicídio
 
Segundo o astrobiologista David Morrison, do Centro de Pesquisa Ames, muitas das cartas expondo preocupações com as teorias apocalípticas são enviadas por jovens e crianças.
 
Alguns dizem até pensar em suicídio, de acordo com o cientista, que também mencionou um caso, reportado por um professor, de um casal que teria manifestado intenção de matar os filhos para que eles não presenciassem o apocalipse.
 
"Estamos fazendo isso porque muitas pessoas escrevem para a NASA pedindo uma resposta (sobre as teorias do fim do mundo). Em particular, estou preocupado com crianças que me escrevem dizendo que estão com medo, que não conseguem dormir, não conseguem comer. Algumas dizem que estão até pensando em suicídio", afirmou Morrison.
 
"Há um caso de um professor que disse que pais de seus alunos estariam planejando matar seus filhos para escapar desse apocalipse. O que é uma piada para muitos e um mistério para outros está preocupando de verdade algumas pessoas e por isso é importante que a NASA responda a essas perguntas enviadas para nós."
 
Calendário maia
 
Um rumores mais difundidos pela internet justifica a crença de que o mundo acabará no dia 21 dizendo que essa seria a última data do calendário da civilização maia.
 
Outro rumor tem origens em textos do escritor Zecharia Sitchin, dos anos 70. Segundo tais teorias, documentos da civilização Suméria, que povoou a Mesopotâmia, preveriam que um planeta se chocaria com a Terra. Alguns chamam esse planeta de Nibiru. Outros de Planeta X.
 
"A data para esse suposto choque estava inicialmente prevista para maio de 2003, mas como nada aconteceu, o dia foi mudado para dezembro de 2012, para coincidir com o fim de um ciclo no antigo calendário maia", diz o site da NASA.
 
Sobre o fim do calendário maia, a NASA esclarece que, da mesma forma que o tempo não para quando os "calendários de cozinha" chegam ao fim, no dia 31 de dezembro, não há motivo para pensar que com o calendário maia seria diferente - 21 de dezembro de 2012 também seria apenas o fim de um ciclo.
 
Alinhamento dos planetas
 
A agência espacial americana enfatiza que não há evidências de que os planetas do sistema solar "estejam se alinhando", como dizem algumas teorias, e diz que, mesmo que se isso ocorresse, os efeitos sobre a Terra seriam irrelevantes.
 
Também esclarece que não há indícios de que uma tempestade solar possa ocorrer no final de 2012 e muito menos de que haja um planeta em rota de colisão com a Terra.
 
"Não há base para essas afirmações", diz. "Se Nibiru ou o Planeta X fossem reais e estivessem se deslocando em direção à Terra para colidir com o planeta em 2012, astrônomos já estariam conseguindo observá-lo há pelo menos uma década e agora ele já estaria visível a olho nu", diz o site da NASA.
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Filosofia Moral

Os trechos a seguir foram extraídos de um artigo escrito por Allan Kardec na Revista Espírita de maio de 1859, em resposta a outro artigo de um sacerdote católico, no qual este, entre outras considerações, definia o Espiritismo como mais uma religião.


 
Senhor abade,
 
(...)
 
Intitulais vosso artigo: "Uma nova religião em Paris".

Admitindo que tal fosse, com efeito, o caráter do Espiritismo, aí haveria um primeiro erro, considerando-se que ele está longe de circunscrever-se a Paris. Conta milhões de aderentes espalhados nas cinco partes do mundo e Paris não foi o foco primitivo. Em segundo lugar, o Espiritismo é uma religião? Fácil é demonstrar o contrário.
 
O Espiritismo está baseado na existência de um mundo invisível, formado de seres incorpóreos que povoam o espaço e que nada mais são do que as almas dos que viveram na Terra ou em outros globos, onde deixaram os seus invólucros materiais. São esses seres que havíamos dado, ou melhor, que se deram o nome de Espíritos. Esses seres, que nos rodeiam incessantemente, exercem sobre os homens, mau grado seu, uma grande influência; desempenham um papel muito ativo no mundo moral e, até certo ponto, no mundo físico. O Espiritismo, pois, está em a Natureza e pode-se dizer que, numa certa ordem de idéias, é uma força, como a eletricidade também o é sob diferente ponto de vista, assim como a gravitação universal, igualmente.
 
Ele nos desvenda o mundo dos invisíveis, como o microscópio nos desvendou o mundo dos infinitamente pequenos, cuja existência nem suspeitávamos. Os fenômenos cuja fonte é esse mundo invisível devem ter-se produzido e se produziram em todos os tempos, razão por que a história de todos os povos lhes faz menção. Apenas os homens, em sua ignorância, os atribuíram a causas mais ou menos hipotéticas e, a propósito, deram livre curso à imaginação, como o fizeram com todos os fenômenos cuja natureza só imperfeitamente conheciam. O Espiritismo, melhor observado desde que se vulgarizou, vem lançar luz sobre uma multidão de problemas até aqui insolúveis ou mal resolvidos. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não o de uma religião, e a prova disso é que conta, entre seus aderentes, homens de todas as crenças, e que nem por isso renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas. Há de tudo, exceto materialistas e ateus, porque essas idéias são incompatíveis com as observações espíritas. O Espiritismo, pois, repousa sobre princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. É verdade que tem conseqüências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas conseqüências são no sentido do Cristianismo, porque, de todas as doutrinas, o Cristianismo é a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreendê-lo em sua verdadeira essência.
 
O Espiritismo não é, pois, uma religião. Se o fosse teria seu culto, seus templos, seus ministros. Sem dúvida cada um pode fazer uma religião de suas opiniões e interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja há uma grande distância e creio que seria imprudência seguir tal idéia. Em resumo, o Espiritismo se ocupa da observação dos fatos e não das particularidades de tal ou qual crença, da pesquisa das causas, da explicação que esses fatos podem dar de fenômenos conhecidos, assim na ordem moral como na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, como a astronomia não impõe o culto dos astros, nem a pirotecnia o culto do fogo. Ainda mais: do mesmo modo que o sabeísmo nasceu da astronomia mal compreendida, o Espiritismo, mal compreendido na Antigüidade, foi a fonte do politeísmo. Hoje, graças às luzes do Cristianismo, podemos julgá-lo com mais critério. Ele nos põe em guarda contra os sistemas errôneos, frutos da ignorância, e a própria religião nele pode haurir a prova palpável de muitas verdades contestadas por certas opiniões. Eis por que, contrariando a maior parte das ciências filosóficas, um dos seus efeitos é reconduzir às idéias religiosas aqueles que se extraviaram num cepticismo exagerado.
 
(...)
 
Terminais vosso artigo chamando a atenção dos católicos para o mal que o Espiritismo pode fazer às almas. Se as conseqüências do Espiritismo fossem a negação de Deus, da alma, de sua individualidade após a morte, do livre-arbítrio do homem, das penas e recompensas futuras, seria uma doutrina profundamente imoral. Longe disso, ele prova, não pelo raciocínio, mas pelos fatos, essas bases fundamentais da religião, cujo inimigo mais poderoso é o materialismo. Mais ainda: por suas conseqüências ensina a suportar com resignação as misérias desta vida; acalma o desespero; ensina os homens a se amarem como irmãos, conforme os divinos preceitos de Jesus. Se soubésseis, como eu, quantos incrédulos endurecidos ele fez renascer; quantas vítimas arrancou ao suicídio pela perspectiva da sorte reservada aos que abreviam a vida, contrariando a vontade de Deus; quantos ódios acalmou, quantos inimigos aproximou! É a isso que chamais fazer mal às almas? Não; não podeis pensar assim. Prefiro supor que, se o conhecêsseis melhor, o julgaríeis de outra maneira. Direis que a religião pode fazer tudo isso. Longe de mim contestá-lo. Mas acreditais que teria sido melhor, para aqueles que ela encontrou rebeldes, permanecerem numa incredulidade absoluta? Se o Espiritismo triunfou sobre eles, se lhes tornou claro o que antes era obscuro, evidente o que lhes parecia duvidoso, onde o mal? Para mim, em lugar de perder almas, ele as salvou.
 
Allan Kardec
Paris, 1859

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Encontro Adiado

Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

"Um sábio da antiguidade vo-lo disse:  Conhece-te a ti mesmo."
 
O Livro dos Espíritos
Questão 919
Paris, 1857
 

 
Quem sou eu? Em busca da sua história pessoal
Com informações da Agência Fapesp
09/11/2012

Distraídas da vida
 
"Quem sou eu? Qual o sentido da existência? Que papel eu desempenho nela?"
 
Premidas pelas urgências da vida prática, ou fascinadas pelas distrações que o mundo oferece, as pessoas costumam colocar essas perguntas de lado em seu atarefado dia a dia.
 
Simplesmente as descartam ou adiam, à espera de um "depois" que, muitas vezes, nunca chega.
 
Foram, no entanto, perguntas desse tipo que impulsionaram a filosofia desde antes dos gregos.
 
E, diante de uma grande crise ou de uma imprevista guinada na trajetória existencial, são elas que irrompem na tela da consciência, cobrando a atenção que merecem.
 
Historiobiografia
 
Essas perguntas estão no centro das preocupações da professora Dulce Critelli, do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que acaba de lançar um livro sobre o assunto.
 
Com poucas páginas e leitura fluente, mas conteúdo denso e longamente elaborado, o livro História Pessoal e Sentido da Vida apresenta o fundamento filosófico do método terapêutico-educativo desenvolvido pela autora, que ela chama de "historiobiografia".
 
A professora Dulce emprega esse método tanto em sessões individuais de aconselhamento como em reuniões de grupo nas quais os participantes são direcionados e instrumentalizados para refletir sobre suas autobiografias e compreendê-las.
 
Questões filosóficas
 
"Descobri que muitos de nossos problemas decorrem menos de fatores psicológicos do que filosóficos. Não são os traumas, mas uma incompreensão do sentido da vida que os originam", afirmou.
 
"Nessa perspectiva, a filosofia pode ser uma ferramenta fundamental. Quando pensamos, transformamos nossas crenças e, consequentemente, nosso modo de viver. A filosofia não é clínica, mas possui uma inequívoca força terapêutica, que reside naquilo que propriamente a caracteriza: sua estrutura reflexiva."
 
"Toda reflexão é um exercício de entendimento que retira os eventos de seu ocultamento (que vai do mero desconhecimento às interpretações corriqueiras) e os lança à luz", disse.
 
Filosofia da existência
 
Essa estrutura reflexiva é o traço comum de toda atividade filosófica.
 
Mas a autora se pauta por uma escola filosófica específica, a da chamada "filosofia da existência", desenvolvida por Martin Heidegger (1889-1976) e Hannah Arendt (1906-1975).
 
O livro de Dulce é fortemente calcado no pensamento de Heidegger e, mais ainda, no de Arendt, profusamente citado ao longo do texto.
 
Segundo Arendt, os eventos da vida precisam ser arranjados em uma história para podermos lidar com eles. Como a pensadora muitas vezes afirmou, citando uma frase da escritora dinamarquesa Karen Blixen (que escreveu sob o pseudônimo de Isak Dinesen): "Todas as mágoas são suportáveis quando fazemos delas uma história ou contamos uma história a seu respeito".
 
É essa ideia que fundamenta a "historiobiografia" e constitui o tema central da história pessoal e do sentido da vida.
 
"Nossa existência pessoal não é um conjunto desconexo de eventos. Seu sentido se articula nas histórias que, consciente ou inconscientemente, contamos para nós mesmos. E, quando percebemos o fio de nossa existência, tornamo-nos muito mais disponíveis para fazer transformações. Descobrindo o padrão, descobrimos também o potencial de ação", falou.
 
A linguagem que molda o mundo
 
Segundo Dulce, o padrão existencial se apoia em frases que as pessoas ouvem de outras ou que, acriticamente, dizem para si mesmas. Ela chama essas frases de "relatos".
 
São afirmações curtas e fragmentadas, muitas vezes aprendidas na infância, e repetidas ao longo da vida. Perpetuando-se pela repetição, perpetuam também, como se fosse fatalidade, um determinado modo de ser.
 
Frequentemente os indivíduos se sentem prisioneiros desses padrões que eles mesmos ajudaram a criar. Quando trazem tais "relatos" para a luz da consciência e os submetem ao crivo da reflexão crítica, começam a se libertar de seu poder paralisante. E colocam ou recolocam suas vidas em movimento.
 
"Temos a ilusão de que moramos em um mundo significativo em si e por si mesmo. Mas, em si mesmo, o mundo é pura coisa. É nossa linguagem que o transforma em um mundo. Habitar o mundo é habitar a linguagem", sublinhou Dulce.
 
Trata-se, então, de substituir os relatos acríticos e fragmentários que povoam a linguagem vulgar por uma história pessoal construída a partir da reflexão. A expectativa é que, ao se apoderar dessa história, o indivíduo simultaneamente se empodere. E deixe de ser vítima de uma imaginária fatalidade para se tornar senhor de si mesmo.
 
O livro História pessoal e sentido da vida, de Dulce Critelli, foi publicado pela Editora da PUC-SP. Mais informações podem ser obtidas no endereço www.pucsp.br/educ.
 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mediunidade em Foco

Cientistas analisam cérebros de médiuns durante psicografia
Redação do Diário da Saúde
19/11/2012 

Psicografia científica
 
Cientistas brasileiros e norte-americanos usaram as mais modernas técnicas de neuroimagens para analisar o cérebro de médiuns brasileiros.
 
Os estudos foram feitos durante sessões de psicografia, uma forma de comunicação em que o espírito de uma pessoa já falecida escreve por meio das mãos do médium.
 
A nova pesquisa revelou resultados intrigantes da atividade cerebral, como um estado descrito pelos cientistas como "dissociativo".
 
Os médiuns mais experientes apresentaram uma redução na atividade cerebral, apesar do complexo conteúdo escrito produzido por eles.
 
Os resultados foram publicados na revista científica PLOS ONE.
 
Ciência e mediunidade
 
"Já se sabe que as experiências espirituais afetam a atividade cerebral. Mas a resposta cerebral à mediunidade, a prática de supostamente estabelecer comunicação ou ser controlado por uma pessoa já falecida, tem recebido pouca atenção científica," disse Andrew Newberg, da Universidade Thomas Jefferson (EUA), que coordenou o estudo.
 
Segundo ele, a partir destas primeiras constatações, novos estudos sobre o assunto deverão começar a ser feitos.
 
Foram analisados 10 médiuns, cinco deles classificados como "experientes" e cinco como "menos experientes".
 
Todos receberam uma injeção de um marcador radioativo (radiofármaco) para capturar sua atividade cerebral durante processos normais de escrita e durante a prática da psicografia, que envolve um estado similar ao transe.
 
Os médiuns foram analisados usando um exame chamado SPECT (single photon emission computed tomography, tomografia computadorizada por emissão de fóton único), que é capaz de registrar as áreas ativas e as áreas inativas do cérebro a cada momento.
 
Transe mediúnico
 
O estudo mostrou que os psicografistas experientes apresentaram menores níveis de atividade no hipocampo esquerdo (sistema límbico), giro temporal superior direito e regiões do lobo frontal do cingulado anterior esquerdo e giro precentral direito durante a psicografia, em comparação com sua escrita normal, fora do transe mediúnico.
 
As áreas do lobo frontal estão associadas com o planejamento, raciocínio, produção da linguagem, movimento e resolução de problemas.
 
Os cientistas levantam a hipótese de que isto reflete, durante o transe mediúnico, uma ausência de foco, autopercepção e consciência durante a psicografia.
 
Já os médiuns menos experientes apresentaram exatamente o efeito oposto, o que os cientistas sugerem estar associado ao maior esforço que eles fazem para executar a psicografia.
 
Avaliação neurocientífica da mediunidade
 
Os textos psicografados foram analisados pelos cientistas, que verificaram que os textos produzidos durante o transe mediúnico apresentaram complexidades maiores do que aqueles produzidos espontaneamente pelo próprio médium para referência, que não eram oriundos de psicografia.
 
Em particular, os médiuns mais experientes produziram textos com maiores pontuações no quesito complexidade, que normalmente exigiriam mais atividade no córtex frontal e temporal - exatamente o oposto do que os exames verificaram.
 
O conteúdo produzido durante as psicografias versava sobre princípios éticos, a importância da espiritualidade, e a aproximação entre ciência e espiritualidade.
 
"Esta que é a primeira avaliação neurocientífica já realizada dos estados de transe mediúnico revela alguns dados interessantes para melhorar a nossa compreensão da mente e sua relação com o cérebro. Estas descobertas merecem estudos mais aprofundados, tanto em termos de replicação quanto de hipóteses explicativas," concluiu o Dr. Newberg.
 
O estudo foi orientado pelo Dr. Newberg e contou com a participação dos brasileiros Julio Fernando Peres (Universidade da Pensilvânia), Alexander Moreira Almeida e Leonardo Caixeta (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Frederico Leão (Universidade de São Paulo).
 

sábado, 17 de novembro de 2012

A Cura Interior

Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

"Um sábio da antiguidade vo-lo disse:  Conhece-te a ti mesmo."
O Livro dos Espíritos
Pergunta 919
Paris, 1857


 
Meditação reduz morte, ataque cardíaco e derrame
Redação do Diário da Saúde
16/11/2012
Recentemente um outro grupo de cientistas apresentou uma nova teoria para explicar os benefícios da meditação.
 
Meditação Transcendental
 
Pacientes cardíacos que praticaram Meditação Transcendental regularmente apresentaram 48% menos probabilidade de ter um ataque cardíaco ou de morrer por qualquer causa.
 
Desta vez os médicos fizeram a comparação com outros pacientes cardíacos que participaram de aulas de educação e mudança de comportamento em relação à manutenção da própria saúde.
 
Ainda que os participantes deste segundo grupo tenham recebido orientações e incentivos para adotar hábitos mais saudáveis, aqueles que praticaram meditação tiveram benefícios significativamente superiores.
 
O estudo foi publicado pela renomada Associação Americana do Coração.
 
Ganhos cumulativos
 
Os pacientes que praticaram meditação também apresentaram uma diminuição na pressão arterial e relataram menos estresse e menos raiva.
 
E, quanto mais regularmente os pacientes meditavam, maior foi o aumento de sua sobrevida, afirmam os cientistas que realizaram o estudo, na Faculdade de Medicina de Wisconsin (EUA).
 
"Trabalhamos com a hipótese de que a redução do estresse pelo gerenciamento da conexão mente-corpo é responsável pelos resultados benéficos em relação a essa doença epidêmica," disse o Dr. Robert Schneider. "Parece que a Meditação Transcendental é uma técnica que aciona a farmácia do próprio corpo, para que ele repare-se e mantenha a si próprio."
 
Vida ativa e vida contemplativa
 
Os participantes do programa de meditação sentavam-se com os olhos fechados por cerca de 20 minutos, duas vezes por dia, permitindo que suas mentes e corpos descansassem profundamente, mas permanecendo alertas.
 
Os participantes do grupo de educação em saúde, sob a instrução de educadores profissionais de saúde, foram orientados a passar pelo menos 20 minutos por dia em casa praticando comportamentos saudáveis para o coração, como exercícios, preparação de refeições saudáveis e relaxamento em geral.
 
Os pesquisadores avaliaram os participantes no início do estudo, durante os três primeiros meses, e depois de seis em seis meses, avaliando o índice de massa corporal, dieta, aderência ao programa, pressão sanguínea e hospitalizações por problemas cardiovasculares.
 
Medite sobre isso
 
O estudo chegou às seguintes conclusões:

Houve 52 eventos definitivos durante o estudo, que incluíram a morte por ataque cardíaco ou ocorrência de acidente vascular cerebral. Destes, 20 eventos ocorreram no grupo de meditação e 32 no grupo de educação em saúde;

> a pressão arterial foi reduzida em 5 mm Hg e a raiva diminuiu significativamente entre os participantes da Meditação Transcendental ao relação ao outro grupo;

> ambos os grupos apresentaram alterações benéficas nas atividades físicas e no consumo de álcool;

> o grupo de meditação mostrou uma tendência para fumar menos;

> não se verificaram diferenças significativas entre os grupos nas dietas e nas variações de peso corporal;

> a meditação regular foi correlacionada com menor risco de morte, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral.
 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Razão x Intuição

"É acertado dizer que as faculdades instintivas diminuem, a medida que crescem as intelectuais?
 
"Não. O instinto existe sempre, mas o homem o negligencia. O instinto pode também conduzir ao bem; ele nos guia quase sempre, e às vezes mais seguramente que a razão; ele nunca se engana.
 
"Por que a razão não é sempre um guia infalível?
 
"Ela seria infalível se não existisse falseada pela má educação, pelo orgulho e egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite ao homem escolher, dando-lhe o livre-arbítrio."
 
O Livro dos Espíritos
Perguntas 75/75a
Paris, 1857
 

 
Racionalizações podem estragar sua intuição
Redação do Diário da Saúde
19/10/2012
 

Intuição e julgamentos
 
A maioria das pessoas gosta de pensar que suas decisões são racionais e bem pensadas.
 
Mas os estudos científicos indicam que nossos julgamentos morais são muito frequentemente baseados na intuição.
 
Nossas emoções parecem conduzir nossas intuições, dando-nos algo como uma sensação de que algo está certo ou errado.
 
Em alguns casos, no entanto, parece que somos capazes de deixar para trás essas reações iniciais.
 
Inibindo a intuição
 
Matthew Feinberg e seus colegas da Universidade de Berkeley (EUA) levantaram a hipótese de que essa superação da intuição poderia ser o resultado da racionalização, ou reavaliação, um processo pelo qual amortecemos a intensidade de nossas emoções concentrando-se em uma descrição intelectual de porque estamos experimentando a emoção.
 
Ao longo de vários experimentos, os participantes leram histórias descrevendo dilemas morais envolvendo comportamentos geralmente considerados desagradáveis.
 
Os participantes que reavaliaram, ou racionalizaram, os cenários de forma lógica mostraram-se menos propensos a fazer julgamentos morais baseados na intuição.
 
Isto indica que, apesar de nossas reações emocionais produzirem intuições morais, estas emoções também podem ser reguladas, deixando de lado a intuição.
 
"Dessa forma", escrevem os pesquisadores, "somos simultaneamente senhor e escravo, com a capacidade de sermos controlados por eles, mas podendo também dar forma a nossos processos de julgamento carregados de emoção."
 
Vale a pena abandonar a intuição?
 
A questão que se coloca necessariamente, mas que não foi coberta por este estudo, é: devemos ou não nos esforçar para superar a intuição e tomar uma decisão racionalizada?
 
Parece que não, já que outro estudo, publicado na mesma revista Psychological Science, sugere que a intuição é muito mais eficiente do que o raciocínio lógico: a intuição supera raciocínio lógico na hora de decidir entre certo e errado.

Outro estudo mais recente demonstrou que pessoas que confiam em seus sentimentos são mais capazes de prever corretamente os resultados futuros de eventos: para prever melhor o futuro, aposte na intuição.

Assim, o trabalho que acaba de ser publicado parece servir mais como um alerta do tipo "Não estrague suas intuições racionalizando-as".
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Emancipação da Alma

"Ramon, Gostaria que me tirasse uma dúvida sobre algo: sabe aquele estado em que você está dormindo e sabe que está naquela cama, naquele quarto, mas você não está dormindo, parece estar acordado e vem alguém perto de você e lhe toca? Fiquei com tanto medo disso hoje de manhã, que eu queria gritar e o grito não saía da minha garganta. Era muito real. Eu estava com um dos braços caídos pela cama, de repente, sem olhar para o lado, as duas mãos de uma mesma pessoa (parecia mãos de homem maiores que a minha), seguravam minha mão, eu sentia o toque como se fosse alguém de carne e osso como eu, depois ele beijava as costas de minha mão delicadamente (era muito real mesmo). Isso era muito cedo com a luz do sol entrando no quarto, eu olhava para o lado e não via ninguém. Até quando ele me tocou eu não o via, era como se fosse um vulto ou sombra de alguém jovem querendo se mostrar. Eu fiquei tão paralisada que minha voz não saía de jeito nenhum. Mas enfim, o que é isso? Estou com medo que me venha me visitar de novo. Vou orar agora mesmo por ele, que eu não sei quem é. Abraço a todos" Magda
 


Oi, Meg!

Lembra daquela cena do filme O Sexto Sentido, em que o garoto recomenda ao terapeuta que falasse com sua esposa quando ela estivesse adormecendo? Ele, que se queixava de não mais ser ouvido pela esposa, resolve tentar e percebe que funciona, pois neste estado ela conseguia ouvi-lo. Por fim, ele se dá conta que a dificuldade de comunicação ocorria por estarem agora em planos diferentes.

Você acaba de vivenciar algo semelhante. Alguém que vela por você estava por perto durante seu despertar. Isso não significa que ele não estivesse ali antes, certamente em muitas outras ocasiões. Apenas você conseguiu conservar a impressão dessa presença enquanto retornava ao corpo, quando os sentidos da alma ainda não tinham sido inteiramente bloqueados pela matéria.

Certamente é alguém que você conhece bem, mas de quem não se lembra nesta existência. Pode encontrá-lo muitas vezes durante o sono, sem disso guardar a lembrança. O gesto que você descreveu é de extrema delicadeza, o que revela afeição e carinho. Ou seja, é alguém que ficará muito grato por suas preces, sempre bem-vindas, mas que não veio lhe pedir isso, e sim oferecer cuidado e proteção. Portanto, tente substituir o medo pela gratidão por ter alguém assim ao seu lado. E parabéns por mais este anjo de Deus em sua vida.

Aprendo muitas coisas nos livros que leio, mas minha convicção mais profunda vem de pessoas como você, católicas, ou protestantes, ateus, agnósticos, quando relatam espontaneamente episódios que jamais imaginaram vivenciar e que confirmam exatamente o que leio nestes livros.

Selecionei abaixo alguns trechos relacionados com esta sua experiência, mas recomendo que você consulte o texto integral nos linques abaixo:

O Livro dos Espíritos
> O Sono E Os Sonhos
> Anjos da Guarda, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos

A internet está aí e já nem precisamos de bibliotecas pra ficar bem informados sobre determinado tema, desde que tenhamos o cuidado de buscar as melhores referências.
 
Boas reflexões!
 
Ramon de Andrade
Palmares-PE
 


EMANCIPAÇÃO DA ALMA

O Sono E Os Sonhos

401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
 
— Não, o Espírito jamais fica inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo não necessita do Espírito. Então, ele percorre o espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.
 
402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
 
— Pelos sonhos. Sabei que, quando o corpo repousa, o Espírito dispõe de mais faculdades que no estado de vigília. Tem a lembrança do passado e, às vezes, a previsão do futuro; adquire mais poder e pode entrar em comunicação com os outros espíritos, seja deste mundo, seja de outro.
 
(...) O sono liberta parcialmente a alma do corpo. Quando o homem dorme, momentaneamente se encontra no estado em que estará de maneira permanente após a morte. (...) Destes fatos deveis aprender, uma vez mais, a não ter medo da morte, pois morreis todos os dias, segundo a expressão de um santo.
 
(...) Por efeito do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos (...) O sonho é a lembrança do que o vosso Espírito viu durante o sono; mas   observai que nem sempre sonhais, porque nem sempre vos lembrais daquilo que vistes ou de tudo o que vistes. Isso porque não tendes a vossa alma em todo o seu desenvolvimento; freqüentemente não vos resta mais do que a lembrança da perturbação que acompanha a vossa partida e a vossa volta, a que se junta a lembrança do que fizeste ou do que vos preocupa no estado de vigília. Sem isto, como explicaríeis esses sonhos absurdos, a que estão sujeitos tanto os mais sábios quanto os mais simples?
 
Comentário de Kardec: Os sonhos são o produto da emancipação da alma, que se torna mais independente pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de  clarividência indefinida, que se estende aos lugares os mais distantes ou que jamais se viu, e algumas vezes mesmo a outros mundos. Daí também a lembrança que retraça na memória os acontecimentos verificados na existência presente ou nas existências anteriores. A extravagância das imagens referentes ao que se passa ou se  passou em mundos desconhecidos entremeadas de coisas do mundo atual formam esses conjuntos bizarros e confusos que parecem não ter senso nem nexo.
 
A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas decorrentes da lembrança incompleta do que nos apareceu no sonho. Tal como um relato ao qual se tivessem truncado frases ou partes de frases ao acaso: os fragmentos restantes sendo reunidos, perderiam toda significação racionai.
 
403. Por que não nos recordamos sempre dos sonhos?
 
— Nisso que chamais sono só tens o repouso do corpo, porque o Espírito esta em movimento. No sono, ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja neste ou em outros mundos. Mas como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo.
 
407. É necessário o sono completo, para a emancipação do Espírito?
 
— Não. O Espírito recobra a sua liberdade quando os sentidos se entorpecem; ele aproveita para se emancipar, todos os instantes de descanso que o corpo lhe oferece. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, e quanto mais fraco estiver o corpo, mais o Espírito estará livre.
 
Comentário de Kardec: É assim que o cochilar, ou um simples entorpecimento dos sentidos, apresenta muitas vezes as mesmas imagens do sonho.
 
408. Parece-nos, às vezes, ouvir cm nosso íntimo palavras pronunciadas distintamente e que não têm nenhuma relação com o que nos preocupa. De onde vêm elas?
 
— Sim, e até mesmo frases inteiras, sobretudo quando os sentidos começam a se entorpecer. É, às vezes, o fraco eco de um Espírito que deseja comunicar-se contigo.
 
409. Muitas vezes, num estado que ainda não é o cochilo, quando temos os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras das quais apanhamos os pormenores mais minuciosos. É um efeito de visão ou de imaginação?
 
— Entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar a sua cadeia: ele se  transporta e vê, e se o sono fosse completo, isso seria um sonho.
 
410. Têm-se às vezes, durante o sono ou o cochilo, idéias que parecem muito boas e que, apesar dos esforços que se fazem para recordá-las, se apagam da memória. De onde vêm essas idéias?
 
— São o resultado da liberdade do Espírito, que se emancipa e goza, nesse momento, de mais amplas faculdades. Freqüentemente, também, são conselhos dados por outros Espíritos.
 
410 – a) De que servem essas idéias ou esses conselhos, se a sua recordação se perde e não se pode aproveitá-los?
 
— Essas idéias pertencem, algumas vezes, mais ao mundo dos Espíritos que. ao mundo corpóreo, mas o mais freqüente é que, se o corpo as esquece, o Espírito as lembra, e a idéia volta no momento necessário, como uma inspiração do momento.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Fim de Era

"Em 21 de dezembro de 2012, Nibiru irá passar pelo plano da eclíptica e será visto como uma estrela vermelha brilhante e irá parecer um segundo sol, do tamanho aproximado da nossa Lua.  (...) Ramon, se tens vídeo que ilustre melhor as informações acima, ficarei muito grato se enviares." Marcondes Calazans
 

 
Diga lá, Vizinho!
 
Felizmente, a respeito do fim do mundo, tenho notícias melhores que estas que andam espalhando por aí.
 
Segundo os astrônomos, qualquer corpo celeste do tamanho de um planeta que estivesse a caminho de uma aparição pública em dezembro deste ano, já seria facilmente detectável, não apenas pela NASA ou grandes telescópios, mas também por astrônomos amadores, destes que observam os céus de suas janelas, espalhados aos milhares em todo o mundo. Ou seja, mesmo que os governos conseguissem silenciar seus órgaos de pesquisa e os observatórios astronômicos de todo o mundo (o que já seria bem difícil), jamais poderia ocultar um evento destas proporções dos astrônomos independentes. Portanto, quanto a esta versão cinematográfica do apocalipse, me sinto bem tranquilo.
 
Mas e como ficam as profecias? É tudo mentira? Pessoalmente, acredito que não. Muitas culturas antigas fizeram referência ao fim de uma era, que coincidem com a época atual. Temos presenciado muitas catástrofes naturais que conduzem a cenários melhores. As tragédias climáticas tem estimulado o exercício da fraternidade universal, com envio de ajuda e doações de um ponto a outro do planeta. A questão ambiental, considerada incômoda pelas grande economias mundiais, ocupa o centro dos debates internacionais. O tsunami ocorrido no Japão fez grandes nações considerarem a necessidade de desativar suas usinas nucleares. Enfim, muita coisa mudando muito rápido no mundo todo, forçando o abandono de velhos modelos, em busca de outros mais perfeitos.
 
É o que podemos chamar de FIM de uma ERA, e é o único FIM que consigo imaginar, o que melhor interessa a todos nós. O medo é uma arma poderosa e é nele que se baseiam essas teorias que incendeiam a internet. Prefiro interpretar tudo a meu favor e não vejo utilidade nestas doutrinas do pânico, além do lucro que gera.
 
Par aprofundar a questão a abrandar seu coração, recomendo a leitura dos seguintes artigos:
 
> 2012: As Profecias e o Espiritismo
 
> Chico Xavier e 2019 - Artigo Completo
 
> Portal de Luz - Revelações sobre os acontecimentos de 2012
 
No fim das contas, engano por engano, prefiro os que proporcionam alguma paz.

Boas reflexões!
 
Ramon de Andrade
Palmares-PE

sábado, 29 de setembro de 2012

Paciência NÃO tem limite

"Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. Dá a quem te pedir, e não voltes as costas ao que quiser que lhe emprestes."
Jesus (Mateus, Capítulo 5)
 

 
Autocontrole não é um recurso limitado, ele pode ser treinado
Redação do Diário da Saúde
20/09/2012

O que é autocontrole?
 
O autocontrole sempre foi visto como um arsenal limitado: você aguenta durante um tempo, mas se o problema for insistente, chega um ponto em que você explode.
 
Isso funcionaria assim também em episódios mais benignos, como recusar o segundo pedaço de bolo de chocolate, passar sem parar à frente da vitrine com os últimos modelos de quinquilharias eletrônicas ou deixar de assistir TV para preencher seu imposto de renda logo nos primeiros dias.
 
É o autocontrole que nos permite manter hábitos saudáveis e fazer as coisas importantes, mesmo que nem sempre sejam as mais agradáveis.
 
Mas o que é realmente o autocontrole? Como ele funciona?
 
Visão científica do autocontrole
 
Michael Inzlicht (Universidade de Toronto) e Brandon Schmeichel (Universidade do Texas) acreditam que essas questões se colocam mais do que nunca.
 
Isto porque, para eles, o modelo do autocontrole mais usado pelos cientistas está errado.
 
De acordo com este modelo, o autocontrole é um recurso limitado - por exemplo, se você usar um monte de autocontrole para recusar uma segunda fatia de bolo, poderá não tê-lo em quantidade suficiente no final do dia para ir caminhar, em vez de ficar assistindo TV.
 
Em vez de ser um recurso limitado, que se esgota rapidamente, Inzlicht e Schmeichel argumentam que o autocontrole pode na verdade se parecer mais como uma motivação, um processo guiado pela atenção consciente.
 
Segundo eles, o novo modelo já encontra fundamentação em centenas de artigos científicos relatando pesquisas sobre o autocontrole nos últimos anos.
 
Esses estudos mostram que incentivos, percepções individuais da dificuldade das tarefas, crenças pessoais sobre força de vontade, feedback sobre o próprio desempenho e mudanças no humor, todos estes fatores influenciam nossa capacidade de exercer o autocontrole.
 
Isso não ocorreria se o autocontrole fosse simplesmente um recurso limitado, que se esgota pelo uso, e depois deve se acumular novamente.
 
Produzindo mais autocontrole
 
"Autocontrolar-se é, por definição, um trabalho difícil; envolve vontade explícita, atenção e vigilância", escrevem os dois pesquisadores em seu artigo, publicado na revista Perspectives on Psychological Science.
 
Assim, eventos sucessivos podem ser simplesmente encarados com níveis de atenção diferentes.
 
A diferença é fundamental, porque isso abre a possibilidade de criar mecanismos para desenvolver, aprimorar e reforçar o autocontrole, uma vez que não se terá mais a "desculpa" de que o autocontrole simplesmente acabou.
 
"A ideia de que o autocontrole é um recurso é uma possibilidade, mas há possibilidades alternativas que acomodam uma quantidade maior dos dados acumulados [pelos estudos científicos]", afirmam.
 
Importância do autocontrole
 
Identificar os mecanismos que estão na base do autocontrole pode ajudar a compreender comportamentos relacionados a uma ampla gama de problemas importantes, incluindo a obesidade, gastos impulsivos, vícios em jogos de azar e abuso de drogas.
 
Inzlicht e Schmeichel afirmam esperar que, usando melhores teorias, os cientistas possam usar os conhecimentos para projetar métodos mais eficazes para melhorar o autocontrole e evitar esses e outros problemas.
 

sábado, 15 de setembro de 2012

No Ventre de Deus

No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro:
 
- Você acredita na vida após o útero?
 
- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.
 
- Bobagem, não há vida após o útero. Como seria essa vida?
 
- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.
 
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Só sei de uma coisa: A vida após o útero é um absurdo – o cordão umbilical é muito curto.
 
- Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
 
- Mas ninguém nunca voltou de lá de fora pra contar. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que esta angústia prolongada na escuridão.
 
- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
 
- Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela está?
 
- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.
 
- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.
 
- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente, como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela…

Quem não acredita em vida após a morte, pode começar acreditando na Vida.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O Mordomo Infiel

"Dizia Jesus também aos seus discípulos: Havia certo homem rico, que tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de estar dissipando os seus bens.
 
"Chamou-o, então, e lhe disse: Que é isso que ouço dizer de ti? Presta contas da tua mordomia; porque já não podes mais ser meu mordomo.
 
"Disse, pois, o mordomo consigo: Que hei de fazer, já que o meu senhor me tira a mordomia? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. Agora sei o que vou fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.
 
"E chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? Respondeu ele: Cem cados de azeite. Disse-lhe então: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve cinqüenta. Perguntou depois a outro: E tu, quanto deves? Respondeu ele: Cem coros de trigo. E disse-lhe: Toma a tua conta e escreve oitenta.
 
"E louvou aquele senhor ao injusto mordomo por haver procedido com sagacidade; porque os filhos deste mundo são mais sagazes para com a sua geração do que os filhos da luz.
 
"Eu vos digo ainda: Granjeai amigos por meio das riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
 
Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; quem é injusto no pouco, também é injusto no muito. Se, pois, nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?"
 
Lucas, capítulo 16
 

 
ATO DE CARIDADE
A.C.
 
Em nossa reunião da noite de 7 de Junho de 1956, nossos Benfeitores trouxeram-nos ao recinto o Espírito de A. C., que nos contou a sua significativa experiência, aqui transcrita.
 
Oxalá possa ela acordar-nos para mais ampla exatidão, no desempenho de nossos compromissos, na esfera da caridade que, realmente, seja onde for e com quem for, é nosso simples dever.
 
Espiritismo...
 
Sou espírita...
 
Fora da caridade não há salvação...
 
Maravilhosas palavras!...
 
Contudo, quase sempre chegamos a perceber-lhes o divino significado depois da morte, com o desapontamento de uma pessoa que perdeu o trem para uma viagem importante, guardando, inutilmente, o bilhete na mão.
 
Utilizei-me de um corpo físico durante cinqüenta e cinco anos, na derradeira romagem física.
 
Era casado.
 
Residia no Rio de Janeiro.
 
Mantinha a esposa e duas filhas.
 
Desempenhava a função de operoso corretor de imóveis.
 
E era espírita à maneira de tantos...
 
Nunca me interessei por qualquer meditação evangélica.
 
Não cheguei a conhecer patavina da obra de Allan Kardec.
 
Entretanto, intitulava-me espírita...
 
Freqüentava sessões.
 
Aplaudia conferencistas.
 
Acompanhava as orações dos encarnados e as preleções dos desencarnados, com a cabeça pendida em reverência.
 
Todavia, encerrados os serviços espirituais, tinha sempre afeiçoados no recinto, a quem oferecer terras e casas, a quem vender casas e terras...
 
E o tempo foi passando.
 
Cuidava devotadamente do meu conforto doméstico.
 
Meu rico dinheiro era muito bem empregado.
 
Casa bem posta, mesa farta, tudo do bom e do melhor...
 
Às vezes, um companheiro mais persistente na fé convidava-me a atenção para o culto do Evangelho no lar.
 
Mas eu queria lá saber disso?...
 
A meu ver, isso daria imenso trabalho.
 
Minha mulher dedicava-se à vida que lhe era própria.
 
Minhas filhas deveriam crescer tão livremente como desejassem, e qualquer reunião de ordem moral, em minha casa, era indiscutìvelmente um tropeço ao meu bem-estar.
 
E o tempo foi passando...
 
Fui detentor de uma bronquite que me recebia a melhor enfermagem.
 
Era o dodói de meus dias.
 
Se chamado a qualquer atividade de beneficência, era ela o meu grande escolho.
 
No verão, estimava a sombra e a água fresca.
 
No inverno, preferia o colchão de mola e o cobertor macio.
 
E o tempo foi passando...
 
Sessões semanais bem freqüentadas...
 
Orações bem ouvidas...
 
Negócios bem feitos...
 
Aos cinqüenta, e cinco anos, porém, um edema do pulmão arrebatou-me o corpo.
 
Francamente, a surpresa foi grande.
 
Apavorado, compreendi que eu não merecia o interesse de quem quer que fosse, a não ser das entidades galhofeiras que me solicitaram a presença em atividades criminosas que não condiziam com a minha vocação.
 
Entre o Centro Espírita e o lar, minha mente conturbada passou a viver uma experiência demasiado estranha...
 
Em casa, outros assuntos não surgiam a meu respeito que não fossem o inventário para a indispensável partilha dos bens.
 
E, no Centro, as entidades elevadas e amigas surgiam tão intensivamente ocupadas aos meus olhos, que de todo não me era possível qualquer interferência, nem mesmo para fazer insignificante petitório.
 
Para ser verdadeiro, não havia cultivado a oração com sentimento e, por isso mesmo, passei a ser uma espécie de estrangeiro em mim próprio, ilhado no meu grande egoísmo.
 
Ausentando-me do santuário de minha suposta fé, interiormente desapontado, encontrava o circulo doméstico, e, por vezes, ensaiava, na calada da noite, surpreender a companheira com meus apelos ; entretanto, nos primeiros tentames senti tamanha repulsão da parte dela, a exprimir-se na gritaria mental com que me induzia a procurar os infernos, que eu, realmente, desisti da experiência.
 
Minhas filhas, visitadas por minha presença, não assinalavam, de modo algum, qualquer pensamento meu, porquanto se encontravam profundamente engolfadas na idéia da herança.
 
Não havia outra recordação para o carinho paterno que não fosse à herança... a herança... a herança...
 
Passei a viver, assim, dentro de casa, a maneira de um cão batido por todos, porque, francamente, não dispunha de outro clima que me atraísse.
 
Apenas o calor de meu lar sossegava-me as ânsias.
 
Alguns meses decorreram sobre a difícil posição em que me encontrava.
 
Alimentava-me e dormia nas horas certas, copiando os meus antigos hábitos.
 
Certa noite, porém, tive tanta sede de espiritualidade, tanto anseio de confraternização que, vagueando na rua, procurei o Alto da Tijuca para meditar, chorar e penitenciar-me...
 
Minha lágrimas, contudo, eram dessa vez tão sinceras que alguém se compadeceu de mim.
 
Surgiu-me à frente um irmão dos infortunados e, com muita bondade, reconduziu-me ao velho templo espírita a que antigamente me afeiçoara.
 
Era noite avançada, mas o edifício estava repleto.
 
Um mensageiro do Plano Superior dirigia grande assembléia.
 
E o enfermeiro que, paciente, me encaminhara, esclareceu-me que ali se verificava o encontro de um benfeitor do Alto com os desencarnados que se caracterizavam por mais ampla sede de luz.
 
Esse Instrutor penetrava-nos a consciência, anotando o mérito ou o demérito de que éramos portadores para demandar a suspirada renovação de clima.
 
Muitos irmãos eram ouvidos pessoalmente.
 
Após duas horas de expectativa, chegou minha vez.
 
Pelo olhar daquele Espírito extremamente lúcido, deduzi que nenhum pensamento meu lhe seria ocultado.
 
Aqueles olhos varriam os mais fundos escaninhos do meu ser.
 
Anotei meu problema.
 
Desejava mudança.
 
Ansiava melhorar minha triste situação.
 
Perguntou-me o Instrutor qual havia sido o meu modo de vida.
 
Creio que ele não tinha necessidade de indagar coisa alguma, no entanto, a casa acolhia numerosos necessitados e, a meu ver, a lição administrada a qualquer de nós deveria servir a outrem.
 
Aleguei, preocupado, que havia protegido corretamente a família terrestre e que havia preservado a minha saúde com segurança.
 
Ele sorriu e respondeu que semelhantes misteres eram comuns aos próprios animais.
 
Pediu que, de minha parte, confessasse algum ato que pudesse enobrecer as minhas palavras, algo que lhe fosse apresentado como justificativa de auxilio às minhas pretensões de trabalho, melhoria e ascensão.
 
Minha memória vasculhou os anos vividos, inutilmente...
 
Não encontrei um ato sequer, capaz de alicerçar-me a esperança.
 
Não que o serviço de corretor de imóveis seja indigno, mas é que eu capitalizava o dinheiro haurido em minhas lides profissionais, qual terra seca coletando a água da chuva: chupava... chupava... chupava... sem restituir gota alguma.
 
Depois de agoniados instantes, lembrei-me de que em certa ocasião encontrara três amigos de nosso templo, na Praça da Bandeira, a insistirem comigo para que lhes acompanhasse a jornada caridosa até um lar humilde, na Favela do esqueleto.
 
Fiz tudo para desvencilhar-me do convite que me pareceu aborrecido e imprudente.
 
Mas o grupo, que se constituía de uma senhora e dois companheiros, desenvolveu sobre mim tamanho constrangimento afetivo, que não tive outro recurso senão atender à carinhosa exigência.
 
Dai a alguns minutos, varávamos estreita choupana de lata velha, onde fomos defrontados por um quadro desolador.
 
Pobre mulher tuberculosa agonizava.
 
Nosso conjunto, entretanto, logo à chegada, fragmentou-se, pois a companheira foi convocada pelo esposo ao retorno imediato e o outro amigo deu-se pressa em voltar, pretextando serviço urgente.
 
Não pude, todavia, imitar-lhes a decisão.
 
Os olhos da enferma eram de tal modo suplicantes que uma força irresistível me fez dobrar os joelhos para socorrê-la no leito, mal amanhado no chão.
 
Perguntei-lhe o nome.
 
Gaguejou... gaguejou... e informou chamar-se Maria Amélia da Conceição.
 
Seus familiares, uma velha e dois meninos que se assemelhavam a cadáveres ambulantes, não lhe podiam prestar auxílio.
 
Inclinei-me e coloquei-lhe a cabeça suarenta nos braços, tentando suavizar-lhe a dispnéia ; no entanto, depois de alguns minutos, a infeliz, numa golfada de sangue, entregou-se à morte.
 
Senti-me sumamente contrafeito.
 
Mas para ver-me livre de quadro tão deprimente, pela primeira vez arranquei da bolsa uma importância mais farta, transferindo-a para as mãos da velhinha, com vistas aos funerais.
 
Afastei-me, irritadiço.
 
E, antes da volta a casa, procurei um hotel para um banho de longo curso, com desinfetante adequado.
 
E, no outro dia, consultei um médico sobre o assunto, com receio de contágio...
 
O painel que o tempo distanciara assomou-me à lembrança, mas tentei sufocá-la na minha imaginação, pois aquele era um ato que eu havia levado a efeito constrangidamente, sem mérito algum, de vez que o socorro a Maria Amélia da Conceição fora simplesmente para mim um aborrecimento indefinível...
 
Contudo, enquanto a minha mente embatucada não conseguia resposta, desejando asfixiar a indesejável reminiscência, alguém avançou da assembléia e abraçou-me.
 
Esse alguém era a mesma mulher da triste vila do Esqueleto.
 
Maria Amélia da Conceição vinha em meu socorro.
 
Pediu ao benfeitor que nos dirigia recompensasse o meu gesto, notificando que eu lhe havia ofertado pensamentos de amor na extrema hora do corpo e que lhe havia doado, sobretudo, um enterro digno com o preço de minha dedicação fraternal, como se a fraternidade, algum dia, houvesse andado em minhas cogitações...
 
As lágrimas irromperam-me dos olhos e, desde aquela hora, para felicidade minha, retornei ao trabalho, sendo investido na tarefa de amparar os agonizantes, tarefa essa em cujo prosseguimento venho encontrando abençoadas afeições, reerguendo-me para luminoso porvir.
 
Bastou um simples ato de amor, embora constrangidamente praticado, para que minha embaraçosa inquietação encontrasse alívio.
 
É por isso que, trazido à vossa reunião de ensinamento e serviço, sou advertido a contar-vos minha experiência dolorosa e simples, para reafirmar-vos o imperativo de sermos espíritas pelo coração e pela alma, pela vida e pelo entendimento, pela teoria e pela prática, porque em verdade, como espíritas, à luz do Espiritismo Cristão, podemos e devemos fazer muito na construção sublime do bem.
 
Por esse motivo, concluo reafirmando:
 
Espiritismo...
 
Sou espírita...
 
Fora da caridade não há salvação...
 
Maravilhosas palavras!...
 
Que Jesus nos abençoe.

Francisco Cândido Xavier
Vozes do Grande Além
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