domingo, 3 de julho de 2011

O Desafio do Perdão

"Na verdade não guardo raiva de ninguém. Mas há situações na vida que não dá mais para voltar a ser como antes. Eu por exemplo tive uma "amiga" por muitos anos. Eu a conheci no ensino médio. Nossa amizade acabou em 2009, por motivo chulo. Me senti traída (a história é muito longa) e menosprezada, (...). A dor que eu sinto é muito grande, não ha quem tire do meu coração. Pois estive participando de todos os momentos da vida dela, dos alegres e tristes. E o que recebi? Ingratidão. Eu fui traída e o pior, fui acusada de algo que não sou. (...) E eu fiz tudo com minha boa vontade. Não sei que eu tenho escrito na minha cara para ser tão menosprezada, tão deixada para trás? Se juízo final existir, eu quero que ela saiba da injustiça que ela cometeu contra a minha pessoa. Jamais me dobrarei para lhe pedir perdão. Jamais."



Olá,

Pelo que entendi, nesta história você não estaria na posição de pedir perdão, mas de perdoar. O que lhe coloca em grande vantagem em relação a quem lhe ofendeu.

O perdão não exige esquecimento, nem que tudo volte a ser como antes. Se o ofendido simplemente esquecesse, a lição do episódio se perderia. Nada volta a ser como antes justamente porque amadurecemos com a experiência e descobrimos naquela pessoa fraquezas que ainda não havíamos percebido em condições normais.

O perdão requer apenas que a gente entenda as limitações que outras pessoas enfrentam para compreender algumas verdades já mais claras para nós. Perdoar é viver e deixar viver, permitir que cada um siga seu caminho, por onde todos nós inevitavelmente iremos nos deparar com os resultados de nossas escolhas. Não por querer ou torcer que o ofensor sofra, pois esse simples desejo seria a melhor prova de que não perdoamos. Mas por entender que todos nós teremos de enfrentar algum dia os efeitos de nossas atitudes. É um mecanismo natural e automático, que não necessita de plateia ou torcida para funcionar perfeitamente.

Porém, mesmo colocado na expressão mais simples possível, o perdão ainda assim continua sendo a lição mais difícil do evangelho. Sem dúvida, o maior desafio do cristão. Tanto isso é verdade que, após pregá-lo em diversas ocasiões, Jesus deixou para exemplificá-lo como último ato de sua vida. O gesto final, supremo, ao qual todos deveriam prestar bastante atenção para tentar repeti-lo em suas vidas, tamanha a dificuldade que encontraríamos.

Além de ser o maior, é também um desafio pessoal. É muito fácil dizer PERDÔE, mas dizer PERDÔO, sinceramente, exige sempre sacrifício, desprendimento e uma compreensão panorâmica da vida que nem sempre conseguimos alcançar.

Não temos na alma um botão <<PERDOAR AGORA>>. É um longo exercício de autoconhencimento e autoconvencimento, através do qual vamos compreendendo os motivos que fazem do perdão a melhor atitude para o nosso próprio bem.

Se alguém me algemou a uma bola de chumbo, abrir esta algema não seria útil para a bola, nem para quem me algemou a ela, mas sim para mim mesmo, que ficaria livre deste peso. O perdão é a chave desta algema e encontrá-la é um desafio individual, intransferível e inevitável.

Conheço pessoas religiosas, de muito bom coração, que pregam o perdão por ser o tema da reunião do dia, mas que pessoalmente ainda não conseguem aplicá-lo a sua própria vida. Cada um tem seu tempo e suas dificuldades a vencer nesse aprendizado. Mas não devemos adiar a reflexão sobre a importância desta escolha, sem a qual permaneceremos acorrentados a lembranças e emoções que impedem ou retardam nosso crescimento pessoal.

Também falo do tema como estudante, pois até hoje me deparei apenas com pequenas decepções, cuja superação não merecem ser chamadas de perdão. Mas sei que vítimas de ofensas monstruosas relatam um imenso alívio em seu coração ao optarem pelo perdão.

Em 1997, um casal paulista perdeu o filho, Ives Ota, assassinado depois de ser seqüestrado. Ives tinha apenas oito anos quando foi executado, por reconhecer um de seus sequestradores, vigilante da empresa de seu pai. Massataka Ota, pai do garoto, atravessou toda a tortura emocional que podemos imaginar. Não lhe saía da cebeça a ideia de vingança. Ao final, após diversos acessos de ira e revolta, conseguiu perdoar os assasinos de seu filho, na presença deles. Algum tempo depois, declarou à imprensa que esta opção havia lhe proporcionado uma indescritível sensação de alívio que ele nunca havia experimentado antes, numa intensidade proporcional à sua dor. Hoje, o casal Ota coordena o Movimento da Paz e Justiça Ives Ota, para difundir a ideia de que "somente através do perdão a verdadeira paz se instala em sua vida".

Para mim, simples estudante do tema, perdoar é libertar-se para seguir adiante, compreendendo que todos atingiremos a mesma meta, em seu próprio tempo. E esta consciência não dimunui o desafio, apenas aumenta (muito) o compromisso e (um pouco) as chances de sucesso quando ele se apresentar.

Recomendo a leitura dos textos abaixo, para reflexão.

Forte abraço e boas conclusões!

Ramon de Andrade
Palmares-PE



> BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS (clique para ler online)



Decepções. Ingratidão. Afeições destruídas

Para o homem de coração, as decepções oriundas da ingratidão e da fragilidade dos laços da amizade não são também uma fonte de amarguras?

"São; porém, deveis lastimar os ingratos e os infiéis: serão muito mais infelizes do que vós. A ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta topará mais tarde com corações insensíveis, como o seu próprio o foi. Lembrai-vos de todos os que hão feito mais bem do que vós, que valeram muito mais do que vós e que tiveram por paga a ingratidão. Lembraivos de que o próprio Jesus foi, quando no mundo, injuriado e menosprezado, tratado de velhaco. Seja o bem que houverdes feito a vossa recompensa na Terra e não atenteis no que dizem os que hão recebido os vossos benefícios. A ingratidão é uma prova para a vossa perseverança na prática do bem; ser-vos-á levada em conta e os que vos forem ingratos serão tanto mais punidos, quanto maior lhes tenha sido a ingratidão."

As decepções oriundas da ingratidão não serão de molde a endurecer o coração e a fechá-lo à sensibilidade?

"Seria um erro, porquanto o homem de coração, como dizes, se sente sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se esse bem for esquecido nesta vida, será lembrado em outra e que o ingrato se envergonhará e terá remorsos da sua ingratidão."

Mas, isso não impede que se lhe fira o coração. Ora, daí não poderá nascer-lhe a idéia de que seria mais feliz, se fosse menos sensível?

"Pode, se preferir a felicidade do egoísta. Triste felicidade essa! Saiba, pois, que os amigos ingratos que os abandonam não são dignos de sua amizade e que se enganou a respeito deles. Assim sendo, não há de que lamentar o tê-los perdido. Mais tarde achará outros, que saberão compreendê-lo melhor. Lastimai os que usam para convosco de um procedimento que não tenhais merecido, pois bem triste se lhes apresentará o reverso da medalha. Não vos aflijais, porém, com isso: será o meio de vos colocardes acima deles."

A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.

O Livro dos Espíritos
Das Penas e Gozos Terrestres
Perguntas 937 e 938



BENEFÍCIOS PAGOS COM A INGRATIDÃO

Que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em paga de benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos?

Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus. Há também orgulho, porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o beneficiado lhes vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento. Aquele que procura, na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu. Deus, entretanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.

Deveis sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão. Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem.

E sabeis, porventura, se o benefício momentaneamente esquecido não produzirá mais tarde bons frutos? Tende a certeza de que, ao contrário, é uma semente que com o tempo germinará. Infelizmente, nunca vedes senão o presente; trabalhais para vós e não pelos outros. Os benefícios acabam por abrandar os mais empedernidos corações; podem ser olvidados neste mundo, mas, quando se desembaraçar do seu envoltório carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará deles e essa lembrança será o seu castigo. Deplorará a sua ingratidão; desejará reparar a falta, pagar a dívida noutra existência, não raro buscando uma vida de dedicação ao seu benfeitor. Assim, sem o suspeitardes, tereis contribuído para o seu adiantamento moral e vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um benefício jamais se perde. Além disso, também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos desanimassem.

Ah! meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que vos concede reviver para chegardes a ele. – Guia protetor. (Sens, 1862.)
 
O Evangelho Segundo o Espiritismo
CAPÍTULO XIII, Item 19
Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita

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