domingo, 3 de janeiro de 2010

Passeio Socrático

Por Angelo Braz de Matos

Frei Betto, conhecido por suas posições políticas muitíssimo longe de serem ortodoxas, escreveu em sua coluna no jornal Estado de Minas, que estava andando no Morumbi Shopping em São Paulo, olhando as pessoas, as coisas e as vitrines.

Numa determinada loja, foi abordado pela gentil vendedora que foi logo atendê-lo, convidando-o a entrar e perguntou o que ele queria.

Ele, educadamente, agradeceu a gentileza e respondeu a ela:

- Eu só estou fazendo um passeio Socrático, quero nada não, obrigado.

E ela, sem entender nada ficou olhando para ele. Então, ele explicou para ela:

- Estou andando por aí, olhando nas vitrines das lojas a quantidade de coisas, objetos, roupas, produtos eletrônicos de tecnologia que existem e que não me são necessárias. Desculpe.

E seguiu seu caminho.

Nesta crônica que ele escreveu, resumida acima, ele falava do consumismo desenfreado e a forma como os pais, hoje, lidam com o seu consumismo e o dos filhos, sem conseguir controlá-los mais, principalmente os de classe média para baixo.

Para se ter uma idéia, no jornal Estado de Minas de domingo, 29 de novembro de 2009, a manchete foi:

"AS MARCAS DA OBSESSÃO: por causa da compulsão por produtos da moda, adolescentes de famílias pobres levam os pais a se endividar e chegam a roubar e se prostituir para conseguir comprar os cobiçados objetos do desejo."

Esta manchete e a matéria publicada no interior do caderno de economia do jornal é estarrecedora e mostra como "tá tudo dominado" (refrão da letra de um funk horrível), ou como todos estamos dominados por este consumo maluco que não nos satisfaz nunca.

E Frei Betto tem razão, pois este turbilhão de novidades em forma de produtos não nos são necessários, e, ao adquirirmos, pensamos que ficaremos mais felizes. Após conseguir é que percebemos que o vazio continua o mesmo - com a diferença, nos casos das classes média para baixo, que o vazio vem seguido de dívidas, pois, como o próprio Presidente Lula tem falado, "nunca houve tanta facilidade de crédito para as classes menos abastadas neste país como nos últimos anos".

Isto que o Frei Betto, inteligente e culto como é, citou em sua crônica, foi notado há séculos por Sócrates, e foi descrito pelo historiador e filósofo Diógenes Laércio, ao historiar Sócrates, conforme a seguir:

"Muitas vezes, observando a quantidade de objetos à venda, Sócrates dizia a si mesmo: Quantas coisas me são desnecessárias!" (Diógenes Laércio - século III - hitoriador e filósifo grego).

É algo que pode nos levar a pensar. E com certeza só nos fará bem.

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