domingo, 23 de janeiro de 2011

O Fio de Prata (ou Cordão Prateado)

"(...) durante a vida, nunca o Espírito se acha completamente separado do corpo. Do mesmo modo que alguns médiuns videntes, os Espíritos reconhecem o Espírito de uma pessoa viva, por um rastro luminoso, que termina no corpo, fenômeno que absolutamente não se dá quando este está morto, porque, então, a separação é completa. Por meio dessa comunicação, entre o Espírito e o corpo, é que aquele recebe aviso, qualquer que seja a distância a que se ache do segundo, da necessidade que este possa experimentar da sua presença, caso em que volta ao seu invólucro com a rapidez do relâmpago. Daí resulta que o corpo não pode morrer durante a ausência do Espírito e que não pode acontecer que este, ao regressar, encontre fechada a porta, conforme hão dito alguns romancistas, em histórias compostas para recrear."
 
Livro dos Médiuns
Capítulo VII
Item 118



"Poucos minutos antes de meia-noite, Narcisa permitiu minha ida ao grande portão das Câmaras. Os Samaritanos deviam estar nas vizinhanças. Era imprescindível observar-lhes a volta, para tomar providências.

O vento calmo parecia sussurrar concepções grandiosas, como que desejoso de me espertar a mente para estados mais altos.

Torturavam-me as inquirições internas, mas, prendendo-me então aos imperativos do dever justo, aproximei-me da grande cancela, investigando além, através dos campos de cultura.

Tudo luar e serenidade, céu sublime e beleza silenciosa! Extasiandome na contemplação do quadro, demorei alguns minutos entre a admiração e a prece.

Instantes depois, divisei ao longe dois vultos enormes que me impressionaram vivamente. Pareciam dois homens de substância indefinível, semiluminosa. Dos pés e dos braços pendiam filamentos estranhos, e da cabeça como que se escapava um longo fio de singulares proporções. Tive a impressão de identificar dois autênticos fantasmas. Não suportei. Cabelos eriçados, voltei apressadamente ao interior. Inquieto e amedrontado, expus a Narcisa a ocorrência, notando que ela mal continha o riso.

- Ora essa, meu amigo - disse, por fim, mostrando bom humor -, não reconheceu aquelas personagens?

Fundamente desapontado, nada consegui responder, mas Narcisa continuou:

- Também eu, por minha vez, experimentei a mesma surpresa, em outros tempos. Aqueles são os nossos próprios irmãos da Terra. Trata-se de poderosos espíritos que vivem na carne em missão redentora e podem, como nobres iniciados da Eterna Sabedoria, abandonar o veículo corpóreo, transitando livremente em nossos planos. Os filamentos e fios que observou são singularidades que os diferenciam de nós outros. Não se arreceie, portanto. Os encarnados, que conseguem atingir estas paragens, são criaturas extraordinariamente espiritualizadas, apesar de obscuras ou humildes na Terra.

E, encorajando-me bondosamente, acentuou:

- Vamos até lá. Temos quarenta minutos depois de meia-noite. Os Samaritanos não podem tardar.

Satisfeito, voltei com ela ao grande portão.

Lobrigava-se, ainda, a enorme distância, os dois vultos que se afastavam de "Nosso Lar", tranqüilamente.

A enfermeira contemplou-os, fez um gesto expressivo de reverência e exclamou:

- Estão envolvidos em claridade azul. Devem ser dois mensageiros muito elevados na esfera carnal, em tarefa que não podemos conhecer.
 
André Luiz
Nosso Lar
Capítulo 33

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