"Ramon, Fiquei chocada com o que li aqui. Em pleno século XXI ainda somos vítimas de preconceito." Magda.
Oi, Meg.
Vi isso na TV.
Trata-se de uma minoria ruidosa, já muito preocupada com a acelerada diminuição de seu espaço na história. Enquanto estes se refugiam em comunidades inexpressivas na internet, com o propósito de fazer barulho para expurgar suas frustrações, uma maioria esmagadora fez questão de expressar sua solidariedade, em forma de donativos que não param de chegar. Sem falar nos voluntários que surgiram de todas as partes. A ajuda chegou até de países vizinhos, exigindo a participação as forças armadas para a entrega do material.
Suzi e eu acompanhamos por alguns dias o trabalho de um grupo ecumênico que recebia, separava e distribuía donativos. Caminhões repletos não paravam de chegar do todas as partes do país, apesar da dificuldade de acesso causada pela interdição de muitas pontes e estradas. Foi uma experiência inesquecível, que nos deixou três certezas: 1. a solidariedade no mundo está aumentando, como provam os recentes episódios em Santa Catarina, no Haiti e no Nordeste; 2. a fome está cada vez menos associada às situações de calamidade, deixando de ser sua principal consequencia, como era no passado; 3. o mar de lama foi rapidamente encoberto por uma caudalosa enchente de solidariedade, que ainda ocupa um espaço menor na imprensa, mas já não pode deixar de ser notada.
O preconceito é um impulso essencialmente irracional, que se alimenta da ignorância e não aceita dialogar coma razão. Tão irracional, aliás, que o preconceituoso nem percebe que é sempre uma vítima de si mesmo. Um carioca que declare ódio aos nordestinos, por exemplo, talvez não saiba que nos Jogos Panamericanos de 2007, no Rio, os ateltas norteamericanos receberam uma cartilha que os previnia sobre os riscos do contato com uma civilização mais atrasada. E nada garante que na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016, também no Rio, esta mesma cartilha não venha a ser reeditada.
Cada vez mais somos chamados a decidir em que mundo escolheremos viver. Um mundo transparente, honesto, solidário e fraterno se mostra cada dia mais nítido. É para este mundo que estamos migrando. E é neste mundo que a ignorância não conseguirá sobreviver.
Forte abraço.
Comunidade no Orkut declara ódio as vítimas das enchentes do Nordeste
Desde que as fortes chuvas caídas no mês de junho devastaram 67 municípios de Pernambuco e quase 30 de Alagoas, a solidariedade, não só dos nordestinos, mas de todo o Brasil tem sido vista em forma de doações para aqueles que perderam tudo. Na contramão, internautas que se utilizam da rede social Orkut passaram a demonstrar outro tipo de "preocupação" com as vítimas das enchentes: um possível aumento da migração de nordestinos para o Sudeste.
Cheias de depoimentos preconceituosos e discriminatórios - os usuários chegam a se referir aos nordestinos como merdestinos e animais -, as comunidades abrigam declarações do tipo: "Pessoal com essas enchentes no nordeste acho que os cabeçudos vão vir em massa pra SP, tô muito preocupada com isso. Vai ter mais lixo do que já tem aqui", declarou a usuária Julia Shellman, membro da comunidade Eu odeio nordestino.
As frases postadas pelos membros da comunidade causam estarrecimento não só pelo preconceito com a região, mas igualmente pela falta de sensibilidade e respeito aos mais de 50 mortos e mais de 100 mil desabrigados e desalojados nos dois estados.
Confira trechos do diálogo entre os jovens sobre o assunto:
Nadine Santos: "eles deviam aproveitar que alagou tudo por la e nadar um pouquinho eles adoram agua suja..."
Thomas Rebel: "Eles não conseguem nadar, pois a cabeça deles os faz afundar como uma ancora! Mas o q seria mais sujo, a agua da enchente ou os merdestinos? // Seria bom se todos eles morressem na enchente, afinal nordestino é um animal q não sabe nadar!!!"
Outras comunidades similares também existem (algumas desde 2008) como a intitulada Não queremos nordestinos em SP e Eu odeio o Nordeste, mas o conteúdo ganhou proporção o marcador Enchente no Nordeste começou a ser divulgado na rede de microblogs Twitter. Ofendidos, nordestinos passaram a responder no mesmo tom de ofensas com que foram atacados e prometeram denunciar aos responsáveis legais do Orkut e à Polícia Federal a prática discriminatória do grupo.
O psicólogo americano Allport, criador do método para medir o preconceito na sociedade, definiu: "o preconceito é o resultado das frustrações das pessoas, que em determinadas circunstâncias podem se transformar em raiva e hostilidade". Já para o filósofo Adorno (1950) o preconceituoso possui "uma personalidade autoritária ou intolerante". Seja qual forem os motivos que levaram estas pessoas a divulgar o ódio que sentem pelos nordestinos, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) já está adotando as medidas necessárias para punir os responsáveis.
"Identificamos na comunidade o crime de racismo, incitação a violência, incitação ao crime e vamos levar o caso a Polícia Federal. Há ainda a possibilidade de o estado de Pernambuco entrar com uma ação contra o Google que permitiu e permite que estas páginas estejam no ar", explicou o procurador do MPPE José Lopes, especialista em crimes cibernéticos.
Por Ana Luiza Machado
Fonte: DiarioDePernambuco
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