quinta-feira, 8 de julho de 2010

Movimentos Dissidentes no Espiritismo

OS ARAUTOS DA QUARTA REVELAÇÃO E OS REFORMADORES
 
A "religião espírita", fundada na idéia da "revelação divina", estimula a eclosão de movimentos que se atribuem a missão de ampliá-la superando o espiritismo para dar lugar a uma sonhada "4ª revelação", com a presença de um "Allan Kardec reencarnado" e com o anúncio da volta triunfal de Jesus Cristo.
 
Em todos os países onde detém alguma influência, o espiritismo tem presenciado o surgimento de movimentos, a partir de lideranças messiânicas que, tomando-o como uma revelação de caráter religioso, reconhecem-se como reencarnações de Allan Kardec ou de históricos líderes do cristianismo. Personagens carismáticas fundam, assim, novos movimentos com a suposta missão de suplantar o espiritismo que, para eles, estaria ou desviado de suas finalidades, "tomado pelas trevas", ou superado em algumas de suas crenças e práticas.
 
No Brasil, entre outros, três movimentos com origem no meio espírita oferecem esse perfil messiânico- religioso:
 
LBV e a Religião de Deus
 
Dentre os movimento surgidos no seio do espiritismo, a Legião da Boa Vontade, fundada em 1949 pelo radialista Alziro Zarur (1914-1974), foi talvez o de maior impacto. Zarur acreditava-se a reencarnação de Allan Kardec. Estimulado pela audiência de seu programa radiofônico "A Hora da Boa Vontade", onde popularizou a oração do copo d'água, na Rádio Globo do Rio de Janeiro, estruturou a Legião da Boa Vontade, afirmando que, para isso, recebera missão expressa em mensagem mediúnica de São Francisco de Assis.
 
Roustainguista convicto, Alziro Zarur, a par de consistente obra social que se espalhou por todo o Brasil, terminou também por proclamar o que chamou de "a religião de Deus", uma proposta ecumênica, partindo da idéia de que, em sua síntese "todas as religiões são cristãs" e que deverão ser reunidas numa única, com "a volta triunfal de Jesus", por eles chamado "o Cristo estadista".
 
A LBV pressupõe a existência de quatro grandes revelações religiosas: a mosaica; a cristã; a dos espíritos, instrumentalizada por Kardec e Roustaing: e, finalmente, a "religião de Deus", revelada a Alziro Zarur.
 
Com a morte de Zarur, assumiu a direção da LBV o também radialista e advogado José de Paiva Netto, figura igualmente carismática, dotada de elevado espírito empreendedor e que seria, na interpretação de seus seguidores, a reencarnação do advogado francês Jean Baptiste Roustaing.
 
Recentemente, a partir de denúncias formuladas pela Rede Globo de Televisão, a LBV passou a ser objeto de investigações, sob a acusação de desvios de recursos da instituição beneficiando alguns de seus dirigentes, especialmente Paiva Netto, que teria acumulado considerável patrimônio, gerindo recursos do movimento que se espalha por vários países da América e alguns da Europa.
 
O Divinismo de Osvaldo Polidoro
 
Osvaldo Polidoro (1910-2000), sem ter a mesma expressão de Zarur, e dizendo-se, igualmente, a reencarnação de Kardec (e, antes, de Elias), é o criador de um movimento chamado "Divinismo".
 
Polidoro também teve sua formação no meio espírita. Foi um dos fundadores da Federação Espírita do Estado de São Paulo, quando já se anunciava como Kardec reencarnado, "revelação" que havia recebido aos 15 anos de idade. Seus seguidores afirmam que Polidoro deixou o movimento espírita porque, ali, desejavam "dogmatizar sobre Kardec" e porque "não aceitaram a restauração da obra" que ele veio terminar e que fora prevista pelo próprio Kardec em "Obras Póstumas".
 
Tais afirmações podem ser vistas no site www.divinismo.org , onde também o movimento estruturado por Polidoro descreve-o como alguém que, após sua última encarnação, é hoje um  "Espírito, que já completou a sua evolução e encontra-se deificado ou plenamente reintegrado ao Princípio". Diz que a doutrina por ele deixada, complementando a missão que interrompera no Século 19, com a personalidade de Allan Kardec, "ensina que sobrará apenas um ismo, o único que retrata fielmente a Doutrina do Caminho do Senhor, o "Divinismo".
 
O Divinismo sustenta que Jesus deverá voltar, através da reencarnação, neste Século 21, porque é apenas um "espírito a caminho da deificação", diferentemente de Polidoro (Elias/João Batista/Kardec), que não precisa mais reencarnar por já estar deificado.
 
Home-page do "Divinismo" sustenta que Polidoro, reencarnação de Kardec, já está "deificado"
 
O Protestantismo espírita de José Queid
 
Dirigente de uma dinâmica casa espírita de São José do Rio Preto –SP, (Grupo Espírita Bezerra de Menezes), o piloto aviador José Queid Tufaile Huaixan liderou, na década de 90, o chamado Movimento de Reformas, com propostas de dinamização do movimento e da administração de casas espíritas. Promovendo eventos denominados ENTRADE – Encontro de Trabalhadores da Doutrina Espírita, de sucessivas edições, com ampla participação de dirigentes e trabalhadores espíritas, Queid também editava um jornal denominado "A Voz do Espírito", com grande circulação no movimento espírita brasileiro. Defensor intransigente da "religião espírita", nessa mesma época, sustentou, pela imprensa, vários debates com dirigentes da CEPA, criticando seu laicismo, que confundia com materialismo, e concitando-a a deixar o movimento espírita, pois que, segundo ele, as propostas da Confederação Espírita Pan-Americana contrariavam os postulados do "cristianismo redivivo" que é a terceira revelação divina.
 
A partir do ano 2.000. apoiando-se em mensagens que, dizia, eram recebidas mediunicamente por seu grupo, firmadas por entidades que se apresentam como José de Arimatéia, São Luís, Erasto, Simeão e João Huss, seu site na Internet (www.novavoz.org.br)  passou a veicular críticas generalizadas ao movimento espírita. Uma delas, com o título de "Momentos de Decisão" registrou que os espíritas "a cada dia, destoam-se da realidade sem o perceber". Fala da decadência do movimento espírita, atribuindo-a à presença de "mescla de católicos, protestantes e livre-pensadores". E que "pela predominância absoluta dos primeiros (católicos) e vaidade dos derradeiros (livre-pensadores), é natural que os rumos não fossem outros senão o que observais". A mensagem prevê que "o movimento espírita será sufocado pela aproximação do mundo que se avizinha" e que "quem tem olhos de ver pode perceber que nas casas espíritas pouco se encontra que, em verdade, seja capaz de reformar vidas". Em tom profético e apocalíptico, a mensagem faz esta exortação àqueles que teriam desviado os rumos da "3ª revelação": "vós que não temeis ao Pai, nem à Sua justiça, sereis condenados a humilhações tenazes no fim dos tempos".
 
A ruptura com o movimento espírita
 
Nesse mesmo tom, concretizando a ruptura com o movimento espírita, o site do antigo Grupo Bezerra de Menezes  informou, em comunicado nele inserido em 1°/01/03, que dali por diante, as instituições adesas à União de Irmãos (nome adotado pelo grupo) formariam um "novo movimento religioso, denominado Renovação Cristã", deixando, assim "de fazer parte definitiva e completamente do chamado Movimento Espírita que, ao nosso ver, não tem identidade com a proposta evangelizadora de Jesus Cristo, nem com Allan Kardec".
 
Com destaque em seu site, expressa o que chama de "Pensamento Reformista", nesta sentença de Martinho Lutero, fundador do Protestantismo: "Quem não quiser vagar como os cegos deve olhar para além das obras, dos mandamentos ou da doutrina sobre as obras. Antes de mais nada, deve considerar a pessoa e a maneira de ela se tornar justa. Contudo ela só se tornará justa por meio da Palavra de Deus e da fé".
 
José Queid lidera o movimento religioso "Renovação Cristã" proveniente do movimento espírita

Nossa Opinião
 
AFASTAMENTOS NATURAIS
 
São tantos que seria impossível fazer uma lista exaustiva das religiões, movimentos ou seitas surgidos às margens do espiritismo. O caráter do "livre exame" que lhe atribuiu Allan Kardec, favorece dissensões e derivações, como ele próprio previu. Afinal, não estamos tratando de questões de fé, mas de entendimento.
 
Não parece haver dúvida, contudo, que é precisamente do caráter exacerbado de religião, a ele atribuído ao curso do tempo, que derivaram suas mais graves distorções. Também disso o lúcido espírito de Kardec apercebeu-se antecipadamente ao afirmar, no debate travado com o Padre Chesnel, que, na medida em que se classificasse o espiritismo como uma religião, equívoco no qual reincidia o abade,  se o estaria jogando em um terreno novo.
 
Revelações religiosas não estão necessariamente submetidas a critérios racionais de interpretação. Como está assentado em "A Gênese", a revelação religiosa implica em "passividade absoluta e é aceita sem verificação, sem exame, nem discussão". Já no que tange à revelação espírita, nada  há que dispense  o emprego de um criterioso exame racional. O livre exame, conquista da modernidade tão respeitada pelo sistematizador da teoria espírita, só ganha real sentido se não se apartar da bússola da razão, que é outro signo do pensamento moderno.
 
Por isso tudo, Kardec preferiu rejeitar nove verdades a aceitar uma única mentira. E das mentiras e das mistificações vindas dos espíritos ninguém está livre, a menos que se acautele mediante sólidos critérios de racionalidade. Comunicações mediúnicas não são por si sós selos de autenticação. Mormente quando, à evidência, contrariam princípios fundamentais doutrinários como o da crença nos valores do homem, que jamais deve ser visto como um ser em decadência, mas como agente do próprio progresso. E que este se dá não pela adesão incondicional a sistemas de fé, mas pela busca incessante do conhecimento, da tolerância, da perseverança no trabalho produtivo e pela prática da justiça e do amor.
 
Que haja, ademais, espíritos cuja presença entre nós seja destinada a promover o avanço da humanidade não há como duvidar. Encarnações missionárias de personagens vindas para dar continuidade a nobres tarefas antes interrompidas dispensam, no entanto, a "mise-en-scène" de revelações fantásticas a atestarem seus currículos reencarnatórios. A eventual presença de espíritos dessa condição em nosso meio há de se evidenciar por si só, mercê suas qualidades intelectuais e morais, pois estas sempre deixam marcas no trabalho realizado.
 
De outra parte, renovar o espiritismo é tarefa contínua, a ser desempenhada pela comunidade de encarnados e desencarnados dispostos a uma ação conjunta, em clima de respeito aos valores essenciais formadores de sua base doutrinária. Claramente não tem autoridade para renová-lo quem parte para o menosprezo agressivo a um movimento que, mesmo com deficiências, conta, na sua maciça maioria, com homens dotados de honestidade de propósitos, dedicação, firme disposição de acertar, e que, dessa forma, soube construir um patrimônio de credibilidade.
 
Por fim, o homem não é um ser decaído que encarna para ser reformado, como o dizem as religiões, mas para progredir, como defende o espiritismo. Doutrinas  que não reconhecem esse princípio estão filosoficamente muito distanciadas da mensagem espírita. Por isso mesmo, terminam por, espontaneamente, afastar-se de seu movimento, eis  que este, mesmo com algumas dificuldades, pouco a pouco, tende a ajustar-se à sua proposta original. (A Redação).
 
Fonte: Espiritnet

Um comentário:

  1. progredir como? Com sofrimentos,impedimentos?
    progredir mental e espiritualmente é com esclarecimento,ensinamento e compreenção e perdão.
    Tem algo errado nesta grande fantasia.

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