domingo, 28 de março de 2010

A Religião Interna

Oi, Carola!
 
Gostei de seu depoimento sobre o padre Reginaldo Veloso e coloquei nos blogs de que participo.
 
Quanto ao que você disse sobre sua religião interna, me lembrou muito o diálogo entre o teólogo Leonerdo Boff e o monge budista Dalai Lama, que você já deve conhecer, mas que coloquei assim mesmo no final deste artigo.
 
É isso mesmo! Religião é tudo aquilo em que eu acredito, chego até a ter certeza, mas não posso provar. Porém, a ciência está aí pra isso mesmo: investigar a natureza (ou a criação) e separar os fatos dos mitos.

Religião é também uma manifestação cultural, um modo de sentir o mundo e de se sentir no mundo, sem perder a perspectiva do futuro. A busca de um sentido adicional para o automatismo da vida. Neste aspecto, é um instrumento de pacificação interior e tem uma importante função social.
 
Aquele abraço.

Ramon de Andrade
Palmares-PE


 
A RELIGIÃO INTERNA
 
 
Olá Meg e Ramon!

Gente, religião é um troço interessante. Como disse Meg, não há religião perfeita. E como disse Ramon, a igreja castra o que há de mais natural no ser humano. Concordo com os dois. Eu costumo dizer que eu, que não pertenço a nenhuma vertente, e que duvido plenamente de que exista algo além de nós, entendo mais do que muita gente que carrega a biblia debaixo do braço.

Para mim a fé é algo inerente. Ou se crê ou não se crê. Nao tem como pedir a alguem que vc ache que nao exista, que lhe dê forças para crer nele. Numa comparação, é como mandar um corintiano torcer para o Sao Paulo pq este é melhor. Não adianta.

Eu também costumo dizer, que se Deus realmente existir, ele sabe como é meu coração, que eu não creio nele por maldade, mas por deficiencia. Eu erro como todo ser humano, mas procuro me espelhar em um único mandamento: Não fazer com o outro o que eu não gostaria que fizesse comigo.

Respeito, consideração, o simples ato de não maltratar qdo nao gostaria que fizessem. Essa é a minha religião. Ela não é mais bonita, ou maior, ou consegue arrecadar maiores dízimos. É uma religião interna, minha para mim mesma. Na minha religião não há orações, unções, quermesses. Mas também não há críticas a quem queira enveredar por elas. Minha mãe é uma mulher idosa e frequenta a igreja católica quase todos os dias. Ela reza o terço e ora por seus filhos. Fico pensando que se ela não tivesse fé que haverá algo depois disso, como ela enfrentaria as desilusões de uma vida? A igreja, seja ela qual for, é feita para isso: dar esperanças. O homem não se conforma, em sua dita grandiosidade, em morrer como morrem todos os seres. Ele quer mais. Se este corpo aqui não consegue sobreviver à velhice, ele quer crer que haverá um paraíso onde todos finalmente viverão para sempre. Ou reencarnarão por toda a eternidade até alcançar a perfeição. Respeito isso. Para alguns é necessário crer em algo. Só que, como eu digo, não é uma escolha. Ou você é "sortudo" ou não é.

Eu conheci de perto o padre Reginaldo, que Ramon respeitosamente colocou uma matéria. Trabalhei com ele durante 2 anos. É de longe uma das melhores pessoas que conheci. E posso garantir que é mais padre que muito padre que conheço por aí. O que ele diz na matéria não foi novidade para mim. Ele vivia o celibato, na igreja que aprova ela. Mas se entregou. Por amor. Ele me disse uma vez que perdeu a virgindade com essa moça com quem casou. Achei isso lindo. Ele tinha mais de 50 anos, e foi por amor que ele resolveu abandonar a batina e viver com ela isso. E o amor não é maior ou menor. É simplesmente amor. Conversando com ele você vê o brilho nos olhos, que só há nas pessoas que nada devem. Infelizmente nao vemos isso em todo canto. Eu tenho muitos amigos padres (convivi toda a adolescencia ao lado deles), mas sei que todos eles tem suas falhas. Todos vivem plenamente sua sexualidade. Todos. Culpa de quem? Nao sei. Nao tenho o mérito de julgar. Mas acho que eles ludibriam as pessoas qdo pregam algo contra a homossexualidade (pelo menos 99% sao gays, e digo isso por conhece-los) e contra o sexo para algo que nao seja procriar (o que eles fazem entao?). Ah, dirão alguns, mas isso é problema deles. Será? Lembra daquela frase "casa de ferreiro, espeto de pau?".

Padre Reginaldo nao é assim. No nosso grupo de trabalho havia muitos jovens, de todos os tipos de crenças ou sexualidade, e nunca ouvi uma palavra dele denegrindo-os ou criticando. Nunca. Cheguei a conclusao que ele também prega a minha religião. Ele respeita os demais, e os ama como são. Acho que Deus, o Deus que vcs creem e que eu torço para realmente existir, aprova isso. A minha religião também é a de Francisco de Assis e a de Chico Xavier, dois grandes e lindos exemplos de amor à humanidade.

Sigamos esses belos exemplos.

Carla Marinho
 

 
A MELHOR RELIGIÃO
 
Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e Dalai Lama
 
No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:

- Santidade, qual é a melhor religião?

Esperava que ele dissesse: "É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo."

O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou:

- "A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus. É aquela que te faz melhor."

Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:

- "O que me faz melhor?"

Respondeu ele:

- "Aquilo que te faz mais compassivo (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."

Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irefutável.

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