segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Do Luto à Luta

"Prezado Ramon, Tomei a liberdade de te escrever após ter lido no site sobre espiritismo alguns esclarecimentos seus. Eu fiquei viúva há 6 meses, quando estava grávida (de 8 meses) de meu primeiro filho, eu estava com 36 anos e o meu marido tinha 40, ele sofreu um acidente indo para o trabalho. Eu e meu marido nos dávamos muiiittttooooo bem, era amor de verdade. Agora, tenho meu amado pequeno bebê, que nem conheceu o pai, e que é de minha total e solitária responsabilidade. Como posso me conformar com isso? Como pode a vida tornar a ser vida???? ME sinto apenas sobrevivendo....o que Deus quer ensinar a gente com essas tragédias? Desculpe o desabafo.... abraços, Luciana."
 

 
Olá, Luciana!
 
O texto mais lembrado em situações como esta é o que transcrevi abaixo, retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo. Tenho certeza de que você já leu, ou no livro, ou em suas pesquisas pela internet.
 
Mas entendo que isso nunca é o bastante. Por mais que a gente leia a respeito, tudo sempre parece impessoal demais, porque nosso real desejo é saber as razões de nosso caso em particular, não é mesmo?
Acontece que a Terra é um planeta-escola, um lugar de experimentações. Antes de entrarmos nesta escola, nosso currículo é todo planejado, com maior ou menor participação de nossa parte, dependendo de nossa maturidade para escolher. Mas o fato é que a maioria de nós participa ativamente deste planejamento e escolhe não os aconteceimentos pripriamente ditos, mas as experiências que precisamos (note: precisamos, não desejamos) vivenciar.
 
No entanto, a condição mais difícil para entrar nesta escola é o esquecimento de quem somos, quem fomos, o que fizemos e que fatores motivaram nossas escolhas para a vida atual. Isso torna tudo mais difícil exatamente porque esquecemos os motivos de nossas escolhas, principalmente das mais "estranhas". Então por que temos de esquecer? Não seria mais fácil se lembrássemos dos detalhes? Na verdade, não!
 
Lembrar tornaria as coisas mais complicadas ainda, pois nossas experiências passadas (principalmente nossos erros) poderiam interferir demais em nossas experiências presentes, pondo a perder todo nosso planejamento. Não lembrando, nos sentimos mais livres para tomar decisões novas, novas atitudes, sem os medos e culpas provocados por nossos erros anteriores. Esquecer também nos dá motivação para agir, tomar iniciativas, aprender e melhorar: imagine se lembrássemos que planejamos uma vida que se encerraria aos vinte anos de idade. Não teríamos uma infância e juventude tranquilas, nem nos esforçaríamos por nada, já que iríamos morrer tão cedo. Por isso, para estudar nessa escola chamada Terra, esquecer é tão necessário.
 
Mas o planejamento de nossa vida também se cruza com o planejamento de outras pessoas. Como numa viagem de ônibus, onde todos tem um itinerário parecido, mas cada um sobre e desce do ônibus em paradas diferentes, dependendo do destino que precisava alcançar. Assim acontece numa família, onde cada um embarca numa viagem parecida, mas tem suas próprias necessidades que os obriga a subir ou descer em momentos diferentes da viagem. Nossos filhos, por exmplo, sempre embarcam anos depois de nós. Mas nem sempre desembarcamos antes deles, embora esta seja a ordem natural. Tudo depende da necessidade individual e do planejamento feito para cada um.
 
Porém, ao contrário do que acontece num ônibus, os que desembarcam antes não esquecem de nós. Muito pelo contrário: sentem um forte desejo de dizer que estão bem e que alcançaram o seu destino naquela viagem. E frequentemente estarão nos aguardando com alegria na estação, quando chegar o momento de nosso desembarque, quando tudo, enfim, fará sentido de novo, pois teremos novamente a visão do conjunto.
 
O detalhe mais importante é que o sucesso desta viagem, desta matrícula na escola da Terra, depende diretamente de nosso desempenho diante das frustrações, decepções, aborrecimentos e "imprevistos" que encontramos durante a jornada. Assim como numa maratona, o mais importante é completar a prova, cruzar a linha de chegada, felizes por constatar nossa resistência, determinação e vigor espiritual.
 
O filme Nosso Lar retrata bem alguns aspectos desta realidade. Ele é baseado no primeiro de uma série de 15 livros que descrevem alguns detalhes da vida no mundo espirutual. Um detalhe importante é que pessoas com uma vida emocional saudável, como a de vocês, não se deparam com as tantas dificuldades descritas no livro (e no filme).
 
Quando temos uma vida sem excessos nem arrastamentos, encontramos uma situação mais parecida com a descrita no livro A Vida nos Mundos Invisíveis, de Anthony Borgia, Editora Pensamento. Neste livro, um ex-sacerdote católico, Monsenhor Benson, relata suas surpresas com as realidades encontradas após sua morte, tudo muito diferente do que ele poderia imaginar. Tanto neste, quanto nos livros de André Luiz, devemos ter em mente que os cenários descritos nem sempre são familiares ao que estamos habituados a ver na Terra. O que não é de espantar, pois quando viajamos pelo mundo também nos surpreendemos bastante com as diferenças de culturas e modos de vida que encontramos. O que dizer então da vida em outras dimensões?!
 
Quanto aos filmes, além de Nosso Lar, recomendo outros três de excelente qualidade: Amor Além da Vida, Um olhar no Paraíso e Falando com os Mortos (não se assuste com o título, não se trata de um manual, ok ;-) Efeitos especiais à parte, eles nos dão uma idéia muito precisa da manutenção dos laços que nos ligam às pessoas que amamos, e que nos amam, mesmo após a separação temporária provocada pela morte física.
 
Portanto, convido você a transformar o que parece ser o fim no início de novos conceitos sobre os reais objetivos da vida.
 
Espero ter ajudado de alguma forma e permaneço a sua disposição para continuarmos conversando sobre qualquer dúvida que surgir, ok!
 
Um forte abraço!
 
Ramon de Andrade
Palmares-PE
 

 
Perda de Pessoas Amadas e Mortes Prematuras
 
SANSÃO
Antigo membro da Sociedade  Espírita de Paris, 1863
 
Quando a morte vem ceifar em vossas famílias, levando sem consideração os jovens em lugar dos velhos, dizeis freqüentemente: "Deus não é justo, pois sacrifica o que está forte e com o futuro pela frente, para conservar os que já viveram longos anos, carregados de decepções: leva os que são úteis e deixa os que não servem para nada mais; fere um coração de mãe, privando-o da inocente criatura que era toda a sua alegria".
 
Criaturas humanas, são nisto que tendes necessidades de vos elevar, para compreender que o bem está muitas vezes onde pensais ver a cega fatalidade. Por que medir a justiça divina pela medida da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infligir-vos penas cruéis? Nada se faz sem uma finalidade inteligente, e tudo o que acontece tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos atingem, sempre encontraria nela a razão divina, razão regeneradora, e vossos miseráveis interesses representariam umas considerações secundárias, que relegaríeis ao último plano.
 
Acreditai no que vos digo: a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as famílias respeitáveis, ferem um coração de mãe, e fazem branquear antes do tempo os cabelos dos pais. A morte prematura é quase sempre um grande benefício, que Deus concede ao que se vai, sendo assim preservado das misérias da vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à perdição. Aquele que morre na flor da idade não é uma vítima da fatalidade, pois Deus julga que não lhe será útil permanecer maior tempo na Terra.
 
É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperanças seja cortada tão cedo! Mas de que esperanças querem falar? Das esperanças da Terra onde aquele que se foi poderia brilhar, fazer sua carreira e sua fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue elevar-se acima da matéria! Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida tão cheia de esperanças, segundo entendeis? Quem vos diz que ela não poderia estar carregada de amarguras? Considerais como nada as esperanças da vida futura, preferindo as da vida efêmera que arrastais pela Terra? Pensais, então, que mais vale um lugar entre os homens que entre os Espíritos bem-aventurados?
 
Regozijai-vos em vez de chorar, quando apraz a Deus retirar um de seus filhos deste vale de misérias. Não é egoísmo desejar que ele fique, para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe entre os que não tem fé, e que vêem na morte a separação eterna. Mas vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor quando livre de seu invólucro corporal. Mães, vós sabeis que vossos filhos bem-aventurados estão perto de vós; sim, eles estão bem perto: seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os inebria de contentamento; mas também as vossas dores sem razão os afligem, porque revela uma falta de fé e constituem uma revolta contra a vontade de Deus.
 
Vós que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações de vosso coração, chamando esses entes queridos. E se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós mesmas a consolação poderosa que faz secarem as lágrimas, e essas aspirações sedutoras, que vos mostram o futuro prometido pelo soberano Senhor.
 
Allan Kardec

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