"Prezado Ramon, Tomei a  liberdade de te escrever após ter lido no site sobre espiritismo alguns  esclarecimentos seus. Eu fiquei viúva há 6 meses, quando estava grávida (de 8  meses) de meu primeiro filho, eu estava com 36 anos e o meu marido tinha 40, ele  sofreu um acidente indo para o trabalho. Eu e meu marido nos dávamos  muiiittttooooo bem, era amor de verdade. Agora, tenho meu amado pequeno  bebê, que nem conheceu o pai, e que é de minha total e solitária  responsabilidade. Como posso me conformar com isso? Como pode a vida tornar a  ser vida???? ME sinto apenas sobrevivendo....o que Deus quer ensinar a gente com  essas tragédias? Desculpe o desabafo.... abraços, Luciana."
  
  
 
  
 Olá, Luciana!
  
 
O texto mais lembrado em situações como esta é o que  transcrevi abaixo, retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo. Tenho certeza de  que você já leu, ou no livro, ou em suas pesquisas pela internet.
 
 Mas entendo que isso nunca é o bastante. Por mais que a gente  leia a respeito, tudo sempre parece impessoal demais, porque nosso real desejo é  saber as razões de nosso caso em particular, não é mesmo?
 Acontece que a Terra é um planeta-escola, um lugar de  experimentações. Antes de entrarmos nesta escola, nosso currículo é todo  planejado, com maior ou menor participação de nossa parte, dependendo de nossa  maturidade para escolher. Mas o fato é que a maioria de nós participa  ativamente deste planejamento e escolhe não os aconteceimentos  pripriamente ditos, mas as experiências que precisamos (note:  precisamos, não  desejamos) vivenciar.
  
 No entanto, a condição mais difícil para entrar nesta  escola é o esquecimento de quem somos, quem fomos, o que fizemos e que fatores  motivaram nossas escolhas para a vida atual. Isso torna tudo mais difícil  exatamente porque esquecemos os motivos de nossas escolhas, principalmente das  mais "estranhas". Então por que temos de esquecer? Não seria mais fácil se  lembrássemos dos detalhes? Na verdade, não!
  
 Lembrar tornaria as coisas mais complicadas ainda, pois  nossas experiências passadas (principalmente nossos erros) poderiam interferir  demais em nossas experiências presentes, pondo a perder todo nosso planejamento.  Não lembrando, nos sentimos mais livres para tomar decisões novas, novas  atitudes, sem os medos e culpas provocados por nossos erros anteriores. Esquecer  também nos dá motivação para agir, tomar iniciativas, aprender e melhorar:  imagine se lembrássemos que planejamos uma vida que se encerraria aos vinte anos  de idade. Não teríamos uma infância e juventude tranquilas, nem nos  esforçaríamos por nada, já que iríamos morrer tão cedo. Por isso, para estudar  nessa escola chamada Terra, esquecer é tão necessário.
  
 Mas o planejamento de nossa vida também se cruza com o  planejamento de outras pessoas. Como numa viagem de ônibus, onde todos  tem um itinerário parecido, mas cada um sobre e desce do ônibus em paradas  diferentes, dependendo do destino que precisava alcançar. Assim acontece numa  família, onde cada um embarca numa viagem parecida, mas tem suas próprias  necessidades que os obriga a subir ou descer em momentos diferentes da  viagem. Nossos filhos, por exmplo, sempre embarcam anos depois de nós. Mas  nem sempre desembarcamos antes deles, embora esta seja a ordem natural. Tudo  depende da necessidade individual e do planejamento feito para cada um.
  
 
Porém, ao contrário do que acontece num ônibus, os que  desembarcam antes não esquecem de nós. Muito pelo contrário: sentem um forte  desejo de dizer que estão bem e que alcançaram o seu destino naquela viagem. E  frequentemente estarão nos aguardando com alegria na estação, quando chegar o  momento de nosso desembarque, quando tudo, enfim, fará sentido de novo, pois  teremos novamente a visão do conjunto.
 
 O detalhe mais importante é que o sucesso desta viagem, desta  matrícula na escola da Terra, depende diretamente de nosso desempenho diante das  frustrações, decepções, aborrecimentos e "imprevistos" que encontramos durante a  jornada. Assim como numa maratona, o mais importante é completar a  prova, cruzar a linha de chegada, felizes por constatar nossa resistência,  determinação e vigor espiritual.
  
 O filme Nosso Lar retrata bem alguns  aspectos desta realidade. Ele é baseado no primeiro de uma série de 15 livros  que descrevem alguns detalhes da vida no mundo espirutual. Um detalhe importante  é que pessoas com uma vida emocional saudável, como a de vocês, não se deparam  com as tantas dificuldades descritas no livro (e no filme).
  
 
Quando temos uma vida sem excessos nem arrastamentos,  encontramos uma situação mais parecida com a descrita no livro 
A  Vida nos Mundos Invisíveis, de Anthony Borgia, Editora Pensamento.  Neste livro, um ex-sacerdote católico, Monsenhor Benson, relata suas  surpresas com as realidades encontradas após sua morte, tudo muito diferente do  que ele poderia imaginar. Tanto neste, quanto nos livros de André Luiz, devemos  ter em mente que os cenários descritos nem sempre são familiares ao que estamos  habituados a ver na Terra. O que não é de espantar, pois quando viajamos pelo  mundo também nos surpreendemos bastante com as diferenças de culturas e modos de  vida que encontramos. O que dizer então da vida em outras dimensões?!
 
 Quanto aos filmes, além de Nosso Lar,  recomendo outros três de excelente qualidade: Amor Além da  Vida, Um olhar no Paraíso e Falando com os  Mortos (não se assuste com o título, não se trata de um  manual, ok ;-) Efeitos especiais à parte, eles nos dão uma idéia muito  precisa da manutenção dos laços que nos ligam às pessoas que amamos, e que nos  amam, mesmo após a separação temporária provocada pela morte física.
  
 Portanto, convido você a transformar o que parece ser o fim  no início de novos conceitos sobre os reais objetivos da vida.
  
 Espero ter ajudado de alguma forma e permaneço a sua  disposição para continuarmos conversando sobre qualquer dúvida que surgir,  ok!
  
 Um forte abraço!
  
 Ramon de Andrade
Palmares-PE
  
  
   
 Perda de Pessoas Amadas e Mortes  Prematuras
  
 SANSÃO
Antigo membro da Sociedade  Espírita de Paris,  1863
  
Quando a morte vem ceifar em vossas famílias, levando sem  consideração os jovens em lugar dos velhos, dizeis freqüentemente: "Deus não é  justo, pois sacrifica o que está forte e com o futuro pela frente, para  conservar os que já viveram longos anos, carregados de decepções: leva os que  são úteis e deixa os que não servem para nada mais; fere um coração de mãe,  privando-o da inocente criatura que era toda a sua alegria".
   
 Criaturas humanas, são nisto que tendes necessidades de vos  elevar, para compreender que o bem está muitas vezes onde pensais ver a cega  fatalidade. Por que medir a justiça divina pela medida da vossa? Podeis pensar  que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infligir-vos penas  cruéis? Nada se faz sem uma finalidade inteligente, e tudo o que acontece tem a  sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos atingem,  sempre encontraria nela a razão divina, razão regeneradora, e vossos miseráveis  interesses representariam umas considerações secundárias, que relegaríeis ao  último plano.
  
 Acreditai no que vos digo: a morte é preferível, mesmo numa  encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as  famílias respeitáveis, ferem um coração de mãe, e fazem branquear antes do tempo  os cabelos dos pais. A morte prematura é quase sempre um grande benefício, que  Deus concede ao que se vai, sendo assim preservado das misérias da vida, ou das  seduções que poderiam arrastá-lo à perdição. Aquele que morre na flor da idade  não é uma vítima da fatalidade, pois Deus julga que não lhe será útil permanecer  maior tempo na Terra.
  
 É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de  esperanças seja cortada tão cedo! Mas de que esperanças querem falar? Das  esperanças da Terra onde aquele que se foi poderia brilhar, fazer sua carreira e  sua fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue elevar-se acima da  matéria! Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida tão cheia de esperanças,  segundo entendeis? Quem vos diz que ela não poderia estar carregada de  amarguras? Considerais como nada as esperanças da vida futura, preferindo as da  vida efêmera que arrastais pela Terra? Pensais, então, que mais vale um lugar  entre os homens que entre os Espíritos bem-aventurados?
  
 Regozijai-vos em vez de chorar, quando apraz a Deus retirar  um de seus filhos deste vale de misérias. Não é egoísmo desejar que ele fique,  para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe entre os que não tem fé, e que  vêem na morte a separação eterna. Mas vós, espíritas, sabeis que a alma vive  melhor quando livre de seu invólucro corporal. Mães, vós sabeis que vossos  filhos bem-aventurados estão perto de vós; sim, eles estão bem perto: seus  corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os  inebria de contentamento; mas também as vossas dores sem razão os afligem,  porque revela uma falta de fé e constituem uma revolta contra a vontade de  Deus.
  
 Vós que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações  de vosso coração, chamando esses entes queridos. E se pedirdes a Deus para os  abençoar, sentireis em vós mesmas a consolação poderosa que faz secarem as  lágrimas, e essas aspirações sedutoras, que vos mostram o futuro prometido pelo  soberano Senhor.
  
  Allan Kardec