quinta-feira, 29 de abril de 2010

PARALISIA CEREBRAL NO SÉCULO 21

"Oi Carla e Ramon, É uma coisa triste pessoas de religiões ditas "cristãs" não conviver de maneira tolerante com os outros diferentes credos. A frase (...) resume tudo: 'vamos aprender com as nossas diferenças ou nossas diferenças nos destruirão'."


Pois é, Meg!

Bom episódio pra refletir sobre um outro tipo de paralisia cerebral: o fanatismo.
Enquanto o demônio está muito ocupado com os centros espíritas, os dízimos milionários escoam dos bolsos dos atletas para os cofres das igrejas.

Mas felizmente, após pisarem feio na bola, souberam virar o jogo contra o preconceito, salvando a partida (ver último artigo).

Deus aguarda por todos nós, e teremos muitas chances, quantas forem necessárias, para nos curarmos de nossa ignorância.

Que Ele nos abençoe a todos!

Ramon de Andrade
Palmares-PE



Amar ao próximo como a si mesmo

Será que eles leram a Bíblia direitinho?



Aconteceu um incidente grave em São Paulo, que contraria tudo aquilo que se fala sobre o lado bom e generoso do povo brasileiro.

O incidente abaixo foi primeiramente noticiado pelo jornal Folha de SP ontem e depois pelos demais em todo o país.

O Lar Mensageiros da Luz é um abrigo de crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos, com deficiência, especificamente paralisia cerebral. Atualmente atendem 38 pessoas da Baixada Santista, SP

E de onde vêm esses deficientes? São deficientes em risco pessoal e social encaminhados pelo Poder Judiciário, Conselho Tutelar, Poder Executivo Municipal ou espontaneamente.

O INACREDITÁVEL

Como tudo começou.

Foi programada na Semana Santa uma visita de jogadores do Santos F.C. ao Lar Mensageiros da Luz, que dá assistência à paralisia cerebral. Seriam entregues ovos de Páscoa.

Quando o ônibus parou á porta da instituição, alguns jogadores como Neymar, Robinho, Fábio Costa, Durval, Léo, Marquinhos e Brum se recusaram a descer.

Ganso chegou com seu próprio carro e, antes de entrar no local, foi chamado pelos colegas que estavam no ônibus (eles gritaram e bateram nas janelas). Ganso entrou no ônibus e não saiu mais.

A razão? Souberam que a instituição tinha sido fundada por espíritas.

O presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro foi até o ônibus e conversou com os atletas. "Falei para os jogadores que o Santos tem que provar que não é apenas um time de futebol"

O técnico Dorival Júnior, visivelmente constrangido, disse que deixara claro que era uma atividade paralela às atividades do clube e que não era obrigatória a presença de todos. "Era pra ser algo fraterno, buscando uma troca com aquelas crianças que têm muito mais para nos ensinar do que temos para lhes oferecer" - disse o técnico santista.

Dentro da instituição, os jogadores que participaram da doação dos 600 ovos, entre eles Felipe, Edu Dracena, Arouca, Pará e Wesley, conversaram e brincaram com as crianças.

Em entrevista à TV Bandeirantes, Robinho e Neymar disseram que sua religião (evangélica) precisa ser respeitada. Por isso não desceram do ônibus para visitar os deficientes que os esperavam.

"Só ficamos sabendo quando chegamos ao local que se tratava de um ambiente espírita" – disse Robinho

Evangélico, Neymar disse o seguinte: "Fiquei sabendo dos rituais religiosos (sic) realizados no local somente quando cheguei lá. Tomei essa atitude, pois tinha receio de não me sentir bem".

E DEPOIS?

Essa notícia me foi trazida pelo meu filho e companheiro de jornada, Átila Nunes Neto, que como eu, estava chocado

Meu filho é um homem de 36 anos e foi criado num lar espiritualista, mas sempre alertado para que jamais sua fé passasse por cima dos princípios básicos da fraternidade.

Chico Xavier dizia que se Allan Kardec tivesse dito que "Fora do Espiritismo não há salvação", ele não teria seguido os passos da Doutrina Espírita.

Mas, Kardec disse que "Fora da caridade não há salvação". E a gente aprende que na caridade não há excessos e que deve ser a felicidade dos que dão e dos que recebem.

O preconceito no caso de alguns jogadores do Santos superou a caridade. É uma pena. Eles teriam invadido de alegria os corações daquelas crianças com paralisia cerebral.

Mas, o preconceito é uma opinião não submetida à razão.

Pior mesmo, é quando o preconceito religioso surge de quem pensa com os pés.

ÁTILA NUNES



Ação beneficente vira estopim de crise no Santos

Recusa de jogadores em presentear deficientes pode ter por trás mais do que motivos religiosos: há problemas no clube


03 de abril de 2010

Sanches Filho - O Estadao de S.Paulo

Uma má sucedida ação beneficente pode ter sido a gota d"água para que aflorassem no Santos problemas que estão se arrastando, mas vêm sendo encobertos pelo brilhante desempenho do time. A recusa de vários jogadores, entre eles Robinho, Neymar e Paulo Henrique Ganso, em entrar na instituição de caridade Lar Espírita Mensageiros da Luz, anteontem, para entregar ovos de Páscoa a pessoas com deficiência, teria sido uma forma de mostrar insatisfação.

Os problemas, entre outros, seriam o atraso do pagamento dos direitos de imagem dos atletas ? só Robinho estaria recebendo em dia ? e o fato de o técnico Dorival Júnior não ter atendido ao pedido de não punir o atacante Madson, que chegou atrasado no treino da manhã de quinta-feira. O presidente do clube, Luís Álvaro de Oliveira Neto, e o treinador negam o atraso nos pagamentos.

A turbulência por que passa o líder do Paulista começou na tarde de quinta-feira. Com exceção de Madson e de Roberto Blum, os jogadores foram representar o Santos na entrega de 640 ovos de Páscoa à entidade beneficente, que cuida de 34 pacientes, entre crianças, adolescentes e adultos, vítimas de paralisia cerebral. Mas os principais jogadores se recusaram a entrar na instituição e sequer desembarcaram do ônibus do clube, no qual permaneceram por duas horas. A informação foi que a decisão teria sido por motivos religiosos.

Diante da repercussão negativa, Neymar e Paulo Henrique foram ontem à TV Bandeirantes, para pedir desculpas. "Conversei com o meu pai, e percebi como foi ruim a nossa postura. Por isso, temos que pedir desculpas"", afirmou Neymar, alegando que teve receio de entrar na casa espírita e não se sentir bem diante de algum ritual. "Mas há outro motivo e isso não pode ser dito aqui e tem de ficar fechado no grupo.""

Ao participar do programa por telefone, Robinho afirmou que Neymar tinha falado demais e procurou se justificar. "Só ao chegar soubemos que se tratava de um ambiente espírita. Cada jogador tomou a atitude que achou conveniente, e acho que a religião de cada um precisa ser respeitada. Ninguém orientou a gente para que tomássemos essa atitude. Ela foi movida pela religiosidade de cada um. Isso não tem de virar polêmica."

"Essa situação não agrada a ninguém"", repetiu ontem Dorival Júnior. "Mas temos de respeitar a posição dos jogadores." A atitude fere cartilha de conduta do clube, que proíbe manifestações religiosas.

Onze jogadores entraram no Lar Mensageiros da Luz e deram atenção aos doentes. Dos titulares, apenas Felipe, Edu Dracena, Pará, Arouca e Wesley. Os outros foram Wladimir (goleiro reserva), Zé Eduardo, Maikon Leite, Breitner,

Zezinho e Gil.

Fonte:
Estadao



Presidente do Santos: 'Amor ao próximo não tem a ver com religião'


Publicada em 04/04/2010 às 18h56m

RIO - Pela primeira vez depois do episódio no Lar Espírita Mensageiros da Luz, o presidente do Santos, Luis Álvaro Ribeiro, falou sobre o assunto. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, ele lamentou a atitude de parte dos jogadores do Peixe, que decidiram não entrar no local para participar da doação de ovos de Páscoa, mas entende os atletas.

- Respeito a decisão de cada um. Não tem nenhuma cláusula no contrato paraque eles sejam caridosos. Lamento, mas entendo. Já tive 18 anos e, nessa idade, a gente é radical e fundamentalista nas decisões. Quando vivemos mais, aprendemos a relativizar as coisas. Ajudar ao próximo é obrigação de quem tem coração e alma. Caridade está acima de tudo, porque ajudar ao próximo é também ajudar a Deus. Amor ao próximo não tem nada a ver com religião. Caridade é uma atitude universal. Não tem nada a ver com credo religioso - comentou.

De acordo com Ribeiro, alguns atletas não quiseram entrar no local por motivo religioso e outros por terem sido alertados sobre as "cenas chocantes" que encontrariam no Lar. Mesmo lamentando a atitude de parte dos atletas, o presidente do Peixe fez questão de elogiar as iniciativas de Neymar e Paulo Henrique, que pediram desculpas após o ocorrido.

- O erro merece perdão e o perdão merece aplausos. Todo mundo erra. Um ser humano de 20 ou 21 anos comete atos que, pensando melhor, depois voltam atrás. Conheço bastante os dois e vejo que são meninos de caráter. Se fossem meus filhos, eu teria muito orgulho. Eles admitiram o erro e pediram perdão.Isso é uma grandeza de caráter - defendeu.

Por fim, o presidente disse que, tanto ele, como alguns jogadores arrependidos, vão voltar ao Lar Espírita Mensageiros da Luz, mas sem a presença da imprensa.

Fonte:
OGlobo



Após polêmica, Robinho, Neymar, Ganso e Brum visitam entidade
12/04/2010 - 16:12

A polêmica envolvendo o grupo de jogadores do Santos que se recusou a entrar no Lar Mensageiros da Luz, instituição que cuida de crianças, adolescentes e adultos, portadores de paralisia cerebral e outras deficiências, no dia 1 de abril, teve mais um capítulo nesta segunda-feira.

Mas, ao contrário do que aconteceu naquela oportunidade, quando apenas 11 jogadores visitaram a entidade, alguns dos atletas que não estiveram presentes à ação, que consistia na entrega de 600 ovos de Páscoa, casos de Robinho, Neymar, Paulo Henrique e Roberto Brum, conheceram a casa.

Esses jogadores, que foram os mais criticados pelo episódio, que gerou críticas, principalmente, dos próprios torcedores do clube, resolveram não anunciar a visita que, por um pedido anterior da própria instituição de caridade, não teve a cobertura da imprensa.

O primeiro a chegar à entidade foi Robinho, logo após o treino da manhã desta segunda, no CT Rei Pelé. Em seguida, Neymar e Ganso estiveram por lá, fazendo a alegria, em especial, das crianças. Por fim, Brum, que levou a sua família (filhos e esposa) preparou uma surpresa para os 34 internos do local, ao presentear cada um com uma réplica em miniatura da Baleinha (mascote alvinegro).

Fora isso, outras ações estão previstas para ajudar o Lar Mensageiros da Luz. O 'Rei das Pedaladas' irá doar a camisa de seu 200 jogo pelo Santos, na vitória sobre o São Caetano, por 3 a 1, no Anacleto Campanella, no dia 4 de abril, para a casa. A quantia adquirida será toda revertida para a instituição.

Além do que, no final da semana passada, o presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro já havia dito que o elenco tinha se comprometido a doar os uniformes da partida contra o São Paulo, a primeira das semifinais do Campeonato Paulista, para um leilão, que terá a sua verba revertida para a entidade.
Fonte: Abril

sábado, 24 de abril de 2010

Maturidade Espiritual

"Quando eu era menino, pensava como menino;
mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face;
agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente,
como também sou plenamente conhecido." (I Coríntios 13: 11-12)



"Qual o problema de ser menino? (...) os melhores momentos é quando brinco com ele e me torno criança mais uma vez, isso é muito gostoso. Não é meu jeito que me define e sim os meus atos. Entrando no lado da ética, o que é maturidade? (...) atos imaturos são os que ofendem os outros e acho que se todos agem desta forma ninguém é imatudo."
Matheus Sobral



Fala, Pacheco!

O problema aqui é o conceito das palavras "criança" e "menino".

No Novo Testamento, estas palavras foram usadas tanto para significar
pureza de coração:

"(...) se não vos converterdes e não vos fizerdes como
crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus."
Jesus (Mateus 18:3-4)

"Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, e fingimentos, e invejas, e toda a maledicência, desejai como
meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação, se é que já provastes que o Senhor é bom"
Pedro (I Pedro 2: 1-3)

... como para significar
imaturidade espiritual, especialmente nas cartas de Paulo:

"Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é
criança; mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal."
Paulo (Hebreus 5:13-14)

"Ora, digo que por todo o tempo em que o herdeiro é
menino, em nada difere de um servo, ainda que seja senhor de tudo; mas está debaixo de tutores e curadores até o tempo determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos rudimentos do mundo"
Paulo (Gálatas 4: 1-3)

"(...) até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de
homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro"
Paulo (Efésios 4: 13-14)

Hoje em dia, também usamos estas palavras nestes dois sentidos, quando dizemos "
fulano é um menino", sobre uma pessoa alegre e incapaz de ofender alguém; ou dizemos que "fulano se comporta como criança", para destacar sua imaturidade e falta de discernimento.

Mas é o próprio Paulo quem põe fim à confusão, num único versículo:

"Irmãos, não sejais
meninos no entendimento; na malícia, contudo, sede criancinhas, mas adultos no entendimento."
Paulo (I Corintios: 20)
Então, fique tranquilo, pois você escolheu a melhor maneira de ser um menino ;-)

Aquele abraço!

Ramon de Andrade
Palmares-PE

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O Livro dos Espíritos - 153 anos de elucidações...

 


Queridos amigos, bom dia.

Neste próximo domigo, 18/04, temos um amigo que estará fazendo aniversário: O Livro dos Espíritos - e, por consequência, a Doutrina Espírita também.

Notadamente aqui no Brasil, devido a forte onda de comemorações e celebrações do centenário de Chico Xavier (mais do que merecida, diga-se de passagem)deveremos ter poucas comemorações do aniversário de 153 anos de "o Livro dos Espíritos"; o que não impede que também se faça o merecido reconhecimento ao esforço que Kardec empreendeu na década de 1850 para nos trazer este marco no estudo do mundo espiritual.

Certamente poderemos marcar este estudo e estes esclarecimento em A.K e D.K (antes de Kardec e depois de Kardec) - pois tudo que se tinha como "sobrenatural", "assombrações", "bruxaria" ou "fantasmagórico" se encontra esclarecido nas páginas deste livro e dos outros quatro de sua autoria, a saber: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

Brincadeiras e observações à parte, minha maneira de agradecer este trabalho de incalculável importância será mostrar uma imagem do fruto original do trabalho de Kardec, e embora não tenha conseguido uma foto do original de 1857, consegui uma de 1860, então acho que serve :-)



Deixo aqui meu agradecimento e reconhecimento a este que enfrentou, em uma época ainda violenta e primária, o preconceito e o escarnecimento de muitos dos que se achavam com a verdade ou com a autoridade divina em suas mãos e que, com muita humildade e coragem, soube seguir o seu caminho sem enviar em retorno nenhum ato de violência ou denegrimento, servindo assim de exemplo para nós, os que hoje tentamos seguir o seu caminho com Jesus.

Obrigado Kardec.

Paz com todos.

--
          João Batista Sobrinho
     -----------------------------------------
         www.bomespirito.com
      www.radiobomespirito.com
www.biblioteca.radiobomespirito.com

sábado, 10 de abril de 2010

Uma Mancada Super Interessante!

Carta de Richard Simonetti à Revista Superinteressante a respeito de reportagem sobre Chico Xavier

Senhor Sérgio Gwercman
Diretor de redação da revista Super Interessante

Sou assinante dessa revista há muitos anos. Sempre a encarei como publicação séria, fonte de informações a oferecer subsídios para meu trabalho como escritor espírita, autor de 49 livros publicados.

Essa concepção caiu por terra ao ler, na edição de abril, infeliz reportagem sobre Francisco Cândido Xavier, pretensiosa e tendenciosa, objetivando, nas entrelinhas, denegrir e desvalorizar o trabalho do grande médium.

Isso pode ser constatado já na seção "Escuta", com sua assinatura, em que V.S. pretende distinguir respeito de reverência, como se reverência não fosse o respeito profundo por alguém, em face de seus méritos.

Podemos e devemos reverenciar Chico Xavier, não por adesão de uma fé cega, mas pela constatação racional, lúcida, lógica, de que estamos diante de uma personalidade ímpar, que fez mais pelo bem da Humanidade do que mil edições de Superinteressante, uma revista situada como defensora do bom jornalismo, mas que fez aqui o que de pior existe na mídia - a apreciação superficial e tendenciosa a respeito de alguém ou de uma notícia, com todo respeito, como pretende seu editorial, como se fosse possível conciliar o certo com o errado, o boato com a realidade, o achincalhe com o respeito.

Para reflexão da repórter Gisela Blanco e redatores dessa revista que em momento algum aprofundaram o assunto e nem mesmo se deram ao trabalho de ler os principais livros psicografados pelo médium, sempre com abordagem superficial, pretendendo "explicar" o fenômeno Chico Xavier, aqui vão alguns aspectos para sua reflexão e - quem sabe? - um cuidado maior em futuras reportagens.

De onde a repórter tirou essa bobagem de que "toda essa história começou com as cartas dos mortos?" Se as eliminarmos em nada se perderá a grandeza de Chico Xavier. A história começa bem antes disso, com a publicação, em 1932, do livro Parnaso de Além-Túmulo, quando o médium tinha apenas 22 anos.

A reportagem diz: "Ele dizia que não escolhia os espíritos a quem atenderia, só via fantasmas e ouvia vozes. Mas parecia ser o escolhido por celebridades do céu. Cruz e Souza, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos e Castro Alves lhe ditaram versos e prosa."

Afirmativa maliciosa, sugerindo o pastiche, a técnica de copiar estilo literário. O repórter não se deu ao trabalho de observar que no próprio Parnaso há, nas edições atuais, 58 poetas desencarnados, menos conhecidos e até desconhecidos, como José Duro, Alfredo Nora, Alma Eros, Amadeu, B.Lopes, Batista Cepelos, Luiz Pistarini, Valado Rosa. Poetas do Brasil e de Portugal que se identificam pelo seu estilo, em poesias personalíssimas enriquecidas por valores de espiritualidade.

Não sabe ou preferiu omitir a repórter que Chico psicografou poesias de centenas de poetas desencarnados, ao longo de seus 75 anos de apostolado, na maior parte poetas provincianos, conhecidos apenas nas cidades onde residiam no interior do Brasil.

Pesquisadores constatam que esses poemas não são "razoavelmente fiéis ao estilo dos autores". São totalmente fiéis.

Não tem a mínima noção de que a técnica do pastiche, a imitação de estilo literário, é extremamente difícil, quase impossível. Pastichadores conseguem imitar uma página, uma poesia de alguém, jamais toda uma obra ou as obras de centenas de autores.

Afirma que Chico foi autodidata e leitor voraz durante toda a vida, sempre insinuando o pastiche. Leitor voraz?

Passava os dias lendo? Só quem não conhece sua biografia pode falar uma bobagem dessa natureza, já que Chico passava a maior parte de seu tempo atendendo pessoas, psicografando, participando de reuniões e atendendo à atividade profissional. Não conheço um único documentário, uma única foto mostrando Chico lendo "vorazmente". Ah! Sim! Para a repórter Chico certamente escondia isso.

Fala também que Chico teria 500 livros em sua biblioteca e que "a lista inclui volumes de autores cujo espírito o teria procurado para escrever suas obras póstumas, como Castro Alves e Humberto de Campos".

E as centenas de poetas e escritores que se manifestaram por seu intermédio. Chico tinha livros deles? E de poetas que sequer publicaram livros?

Quanto a Humberto de Campos, cuja família tentou receber na justiça os direitos autorais pelas obras psicografadas por Chico, o que seria ótimo acontecer, o reconhecimento oficial da manifestação dos Espíritos, esqueceu-se a repórter de informar que Agripino Grieco, o mais famoso crítico literário de seu tempo, recebeu uma mensagem do escritor, de quem era amigo. Reconheceu que o estilo era autenticamente de Humberto de Campos, mas que o fato para ele não tinha explicação, já que, como católico praticante, não admitia a possibilidade de manifestação dos espíritos.

Esqueceu ou ignora que Chico, médium psicógrafo mecânico, recebia duas mensagens simultaneamente, com ambas as mãos sendo usadas por dois espíritos. DesafioSuperinteressante a encontrar um prestidigitador capaz de fazer algo semelhante.

Uma pérola de ignorância jornalística está na referência sobre materialização de Espíritos: "seria necessário produzir um total de energia duas vezes maior do que é hoje produzido pela hidroelétrica de Itaipu por ano, segundo os cálculos feitos por especialistas exibidos por reportagens sobre Chico nos anos 70." Seria superinteressante a repórter ler sobre as pesquisas de Alfred Russel Wallace, Oliver Joseph Lodge, Lord Rayleigh, William James, William Crookes, Ernesto Bozzano, Cesare Lombroso, Alexej Akzacof e muitos outroscientistas respeitáveis que estudaram o fenômeno da materialização e o admitiram. Leia, também, sobre quem eram esses cientistas, para constatar que não agiam levianamente como está na revista.

A repórter reporta-se às reuniões mediúnicas das quais Chico participava como shows que o tornaram famoso e destila seu veneno. Cita o sobrinho de Chico que, dizendo-se médium, confessou que era tudo de sua cabeça, o mesmo acontecendo com o tio. Por que passar essa informação falsa, se o próprio sobrinho de Chico, notoriamente perturbado e alcoólatra, pediu desculpas pela sua mentira? Joga penas ao vento e espera que o leitor as recolha? Omitiu também a informação de que ele confessou que pessoas interessadas em denegrir o médium pagaram-lhe pela acusação.

Eram frequentes nas reuniões a ocorrência de fenômenos como a aspersão de perfumes no ambiente, algo que, deveria saber a repórter, costuma ocorrer com os médiuns de efeitos físicos.

No entanto, recusando-se a colher informações mais detalhadas sobre o assunto, limitou-se a dizer que em 1971 um repórter da revista Realidade, José Hamilton Ribeiro, denunciou que viu um dos assessores de Chico Xavier levantar o paletó discretamente e borrifar perfume no ar. Sugere que havia mistificação, aliás, uma tônica na reportagem.

Por que não foram consultadas outras pessoas, inclusive centenas que tiveram seus lenços inexplicavelmente encharcados de perfume ou a água que levavam para magnetizar, a exalar também um olor suave e desconhecido que perdurava por muitos dias?

Na questão das cartas, milhares e milhares de cartas de Espíritos que se comunicavam com os familiares, sugere a repórter que assessores de Chico conversavam com as pessoas, anotando informações para dar-lhes autenticidade. Lamentável mentira. E ainda que isso acontecesse, Chico precisaria ser um prodígio para ler rapidamente as informações e inseri-las no contexto de cada mensagem, de cada espírito, mistificando sempre.

E as mensagens dirigidas a pessoas ausentes? E os recados aos presentes? Não eram só mensagens. Eram incontáveis recados. A pessoa aproximava-se de Chico e ele, sem conhecer nada de sua vida, transmitia recados de familiares desencarnados, na condição de um ser interexistente, que vivia simultaneamente a vida física e a espiritual, em contato permanente com os Espíritos.

Lembro o caso de um homem inconformado com a morte de um filho. Ia toda noite deitar-se na sepultura do rapaz, querendo "ficar com ele". Não contava a ninguém, nem mesmo aos familiares. Em Uberaba recebeu mensagem do filho pedindo-lhe que não fizesse isso, porquanto ele não estava lá.

Durante muitos anos Chico psicografou receituário mediúnico de homeopatia. Perto de 700 receitas numa noite. Ficava horas psicografando. E os medicamentos correspondiam à natureza do mal dos pacientes, sem que o médium deles tivesse o mínimo conhecimento.

Na década de 70 tive uma uveíte no olho esquerdo. Compareci à reunião de receituário. Escrevi meu nome e idade numa folha de papel. Não conversei com ninguém. Após a reunião recebi a indicação de dois medicamentos. Tornando a Bauru, onde resido, verifiquei num livro de homeopatia que o dois medicamentos diziam respeito ao meu mal. Curaram-me.

Concebesse a repórter que, como dizia Shakespeare, há mais coisas entre a Terra e o Céu do que concebe nossa vã sabedoria, e não se atreveria a escrever sobre assuntos que desconhece, com o atrevimento da ignorância.

Outras "pérolas" da reportagem:

Oferece "explicações" lamentáveis para o fenômeno Chico Xavier.

Psicose, confundindo mediunidade com anormalidade.

Epilepsia, descarga elétrica que "poderia causar alheamento, sensação de ausência, automatismo psicomotor", segundo a opinião de um médico. Descreve algo inerente ao processo mediúnico, que não tem nada a ver com desajuste mental, ou imagina-se que o contato com o Espírito comunicante não imponha uma alteração nos circuitos cerebrais, até para que ocorra a manifestação? E porventura o médico consultado sabe de algum paciente que produza textos mediúnicos durante a crise epilética?

Criptomnésia, memórias falsas, lembranças escondidas no subconsciente do médium, ao ouvir informações sobre o morto. Inconscientemente ele "arranjaria" essas informações para forjar a "manifestação".

Telepatia. Aqui o médium captaria informações da cabeça dos consulentes e as fantasiaria como manifestação do morto.

Como dizia Carlos Imabassahy, grande escritor espírita, inconsciente velhaco, porquanto sempre sugere que é um morto quem se manifesta, não ele próprio.

Informa a repórter que "acuado pelas críticas na Pedro Leopoldo de 15 mil habitantes, Chico resolveu fazer as malas e partir para Uberaba, um polo do Espiritismo onde contaria com um apoio de amigos".

Mentira. Ele deixou Pedro Leopoldo, onde tinha muitos amigos, não por estar "acuado", mas simplesmente seguindo uma orientação do Mundo Espiritual, em face de tarefas que desenvolveria em Uberaba que, então sim, com sua presença transformou-se em "polo do Espiritismo".

Na famoso pinga-fogo a que Chico compareceu, em 1971, na TV Tupi, um marco na história das entrevistas televisivas, com uma quase totalidade de audiência, diz a repórter que Chico foi "bombardeado por perguntas. Mas se safou." Bombardeado? Safou-se? O que foi essa entrevista, um libelo acusatório contra um mistificador?

Se a repórter se desse ao trabalho de ver a entrevista toda, o que lhe faria muito bem, verificaria que o clima foi de cordialidade, de elevada espiritualidade, e que em nenhum momento os entrevistadores "bombardearam" Chico. E em nenhum momento ele deixou de responder as perguntas com a sobriedade e lisura de quem não está ali para safar-se, mas para ensinar algo de Espiritismo.

Falando da indústria (?) Chico Xavier, há um box sobre "Dieta do Chico Xavier", que jamais seria veiculada por Chico.

Usaram seu nome. Por que incluí-la nas inverdades sobre o médium, simplesmente para denegrir sua imagem, aqui sugerindo que seria ingênuo a ponto de conceber semelhante bobagem? Se eu divulgar via internet que Superinteressante recomenda o uso de cocô de galinha para deter a queda de cabelos, seria razoável que alguma revista concorrente citasse essa tolice, mencionando a suposta autoria, sem verificação prévia?

Falando dos 200 livros biográficos sobre Chico Xavier, a repórter escreve: "Tem até um de piadas, Rindo e Refletindo com Chico Xavier". Certamente não leu o livro, porquanto não conhece nem o autor, eu mesmo, Richard Simonetti, nem sabe que não se trata de um livro de piadas, mas um livro de reflexão em torno de ensinamentos bem-humorados do médium.

Não fosse algo tão lamentável, tão séria essa agressão contra a figura respeitável e venerável de Chico Xavier, eu diria que essa reportagem, ela sim, senhor redator, foi uma piada de péssimo gosto!

Doravante porei "de molho" as informações dessa revista, sem o crédito que lhe concedia.

A repórter Gisela Branco esteve em Pedro Leopoldo e Uberaba com o propósito de situar Chico Xavier como figura mitológica.

É uma pena! Não teve a sensibilidade nem o discernimento para descobrir o médium Chico Xavier, cuja contribuição em favor do progresso e bem estar dos homens foi tão marcante que, a exemplo do que disse Einstein sobre Mahatma Gandhi, "as gerações futuras terão dificuldade para conceber que um homem assim, em carne e osso, transitou pela Terra."

E deveria saber que não vemos Chico Xavier como um mártir, conforme sugere. Não morreu pelo Espiritismo. Viveu como espírita. E se algo se aproxima de um martírio em seu apostolado, certamente foi o de suportar tolices e aleivosidades como aquelas presentes na citada reportagem.

Finalizando, um ditado Zen para reflexão dos redatores da Super:

O dedo aponta a lua.
O sábio olha a lua.
O tolo olha o dedo.


Richard Simonetti
Bauru, 3 de abril de 2010.
 

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Presença de Chico Xavier (II)

Quase 600 mil assistem ao filme
05/04/2010
da Folha de S.Paulo

O filme "Chico Xavier", que estreou na sexta-feira passada, foi visto por cerca de 590 mil pessoas, segundo a distribuidora Dowtown. A cinebiografia do médium se torna, assim, a maior bilheteria da história do cinema nacional desde 1995, nos três primeiros dias de exibição. O número de espectadores de um filme na estreia costuma ser determinante para o resultado global e serve de termômetro para a indústria.
 
O lançamento do filme, no dia 2, coincidiu com o centenário de nascimento de Chico Xavier.
 
Dirigido por Daniel Filho, "Chico Xavier" bateu "Se Eu Fosse Você 2" (2009), visto por cerca de 570 mil espectadores em seus três primeiros dias em cartaz. "Lula, o Filho do Brasil" (2010) fez 220 mil no fim de semana de estreia, e "Avatar" (2009) registrou mais de 800 mil.
 
O filme está em cartaz em 377 salas do país. Na noite de sexta, a reportagem da Folha passou por quatro cinemas da capital paulista e todos estavam com as sessões esgotadas.
 
"A última vez que vi lotar assim foi com Avatar", disse a gerente Kátia Sousa, do Cinemark do Shopping D. Até as 21h, todas as sete sessões de "Chico Xavier", em duas salas, tinham esgotado. A outra única sessão do dia que encheu foi de "A Caixa".
 
No Frei Caneca Unibanco Arteplex 2 e no Cine Marabá, a mesma situação. "Sou católica e espírita, gostamos do Chico", disse a telefonista Cacilda Dias, 63, que ficou sem ingresso no Marabá. A última vez que ela esteve no cinema foi para ver "2 Filhos de Francisco" (2005). O estudante Jaime Almeida, 30, teve mais sorte. "Chico prega o amor, não fala só de religião", disse ele, que não tem religião e cujos pais são católicos, e as irmãs, evangélicas.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Filme 'Nosso Lar' - Assita o Trailer

Amigos, recomendo que vejam o trailer desse filme. É baseado no Livro Nosso Lar, de Chico Xavier. Independentemente de acreditarem ou não em vida após a morte e reencarnação, vale a pena ver o trailer e, futuramente, o filme. A produção está sendo feita em parceria com a americana FOX e trará efeitos especiais nunca imaginados em um filme brasileiro.
Filme 'Nosso Lar' deve chegar aos cinemas em setembro

Assistam o trailer aqui (Muito Bonito!).

03/02/2010 - 09:55
Agência Estado

Cinéfilo que se preze deve se lembrar da obra-prima do autor japonês Hirokazu Kore-Eda, "Depois da Vida". Após a morte, as pessoas são levadas a uma estação intermediária, na qual escolhem o momento de suas vidas que será recuperado para que elas o levem para a eternidade. Kore-Eda talvez não tenha lido Chico Xavier, e muito menos o primeiro dos 16 livros que lhe foram ditados pelo espírito de André Luiz, mas a essência é parecida.

"Nosso Lar" mostra a primeira etapa da vida após a morte. Neste ano do centenário de nascimento de Chico, não é só a vida dele que ganha filme dirigido por Daniel Filho, com estreia prevista para a Semana Santa, quando se estará comemorando a data. "Nosso Lar" também vai chegar ao cinema, mas só em setembro.

No mês que vem, Lon Molnar conclui os efeitos de "Nosso Lar" e a previsão da produtora Iafa Britz, que assina o filme pela Cinética, empresa do diretor Wagner de Assis, é ter a primeira cópia pronta em maio, para trabalhar o lançamento, que deve ser um dos mais importantes do ano. Iafa inicia nova etapa profissional abandonando a Total Entertainment, que lança na sexta, no País, "High School Musical - O Desafio". Não houve briga entre as partes que compunham a Total. "É o momento de eu seguir carreira-solo", diz Iafa, mas "Nosso Lar" ainda não tem a marca de sua produtora.

São pelo menos cinco anos de trabalho. Iafa ouviu do diretor que queria fazer este filme pela primeira vez em 2004 ou 2005. Não foi fácil adquirir os direitos do livro, mas as coisas começaram a se tornar viáveis quando a Fox embarcou no projeto. Para os padrões do cinema brasileiro, é um filme caro e os efeitos contabilizam cerca de 30% do custo - os mais caros da cinematografia nacional. Iafa explica que valeu a pena esperar. "Há cinco anos não tínhamos dinheiro nem a tecnologia necessária para fazer o filme com acabamento.

"Nosso Lar" trata do choque das pessoas na passagem para outras esferas. "Temos um elenco muito forte e eu seria irresponsável se começasse a destacar algumas participações, mas não resisto a enumerar duas. Renato Prieto faz o protagonista e é através dele que entramos nesse universo. Rosana Mulholland vai deixar todo mundo chapado. Ela é a personagem que se revolta com a morte e quer voltar. Acredito que seja a personagem mais passível de identificação e ela, além de belíssima, põe intensidade de arrepiar nas cenas.

Iafa Britz ainda está muito envolvida no processo de Nosso Lar, mas gostaria muito de acreditar que, se o filme estourar, como espera, as pessoas não reconheçam somente a importância e emoção do tema. "Essa equipe toda está ralando muito para fazer o grande filme que Nosso Lar merece. Chico Xavier foi um iluminado todo mundo sabe. Daniel (Filho) filma o homem, Wagner (de Assis) resgata a obra. Essa obra merece ser vista pelo que carrega de compaixão, de possibilidade de entendimento. Os efeitos estarão lá, mas não para chamar a atenção. O que importa é a história".

Saiba mais:

Nosso Lar é um filme de longa metragem brasileiro, dirigido e roteirizado por Wagner de Assis e baseado na obra homônima (Nosso Lar) escrita por André Luiz e psicografada pelo médium Chico Xavier.

O ator que representa André Luiz, o personagem principal da história, é
Renato Prieto. O filme conta com alguns atores e atrizes bastante conhecidos da teledramaturgia brasileira como Othon Bastos, Ana Rosa e Paulo Goulart, dentre outros. Tendo sido gravado durante os meses de julho, agosto e setembro de 2009 em locações no Rio de Janeiro e Brasília[1], será lançado em 3 de setembro de 2010.[2]

Sinopse

Ao despertar no Mundo Espiritual, André Luiz se depara com criaturas assustadoras e sombrias vivendo, juntamente com ele, neste lugar escuro e sombrio. Além disso, ele também se assusta por perceber que apesar de ter "morrido" ele ainda continua vivo e ainda sente fome, sede, frio e outras sensações materiais. Após um longo período de sofrimento ele é recolhido dessa zona de sofrimento e purgação de falhas do passado por espíritos do bem e é levado para a Colônia Espiritual Nosso Lar, de onde surge o nome do filme. A partir desse momento ele começa a conhecer melhor a vida no além túmulo e a aprender lições e adquirir conhecimentos que mudarão completamente o seu modo de enxergar a vida.

Tendo então tomado consciência de que está desencarnado (morto), sente imensa vontade de voltar à Terra para visitar e rever parentes próximos de quem guarda imensa saudade. Entretanto, como narra a sinopse do site oficial do filme, isso acontece só para que ele perceba "a grande verdade - a vida continua para todos"
[3].

Chico Xavier - Materia da revista Istoé

100 ANOS DE CHICO XAVIER
IstoÉ| N° Edição: 2103 | 26.Fev - 18:29
Chico Xavier superstar - Parte I

O médium de vida simples que se tornou o principal ícone do espiritismo tem seu centenário festejado com grandes produções no cinema, no teatro e na literatura

Eliane Lobato

Assista ao trailer do filme "Chico Xavier"

img.jpg

O FILME
O ator Nelson Xavier na pele de Chico (ao fundo): semelhança impressionante

Uma Minas Gerais agrária e bucólica é o pano de fundo adequado para a história de um menino em constante turbulência interna. Ele ouve vozes e vê pessoas mortas. Tachado de maluco, o garoto, nascido Francisco de Paula Cândido Xavier, sofre muito, especialmente nas mãos de uma madrinha católica que o considera pactuado com o diabo. A história deste menino que virou o maior médium brasileiro está contada no filme "Chico Xavier", de Daniel Filho, que estreia no dia 2 de abril, data em que ele completaria 100 anos, se não tivesse desencarnado, como dizia, oito anos atrás. O fi lme — a que ISTOÉ assistiu em primeira mão (leia quadro) — é o carro-chefe de uma série de produções e homenagens, como lançamentos de livros, fi lmes inspirados em obras psicografadas, selo, exposições e seminários. Até uma novela da Rede Globo, que tem o espiritismo como tema, estreia, coincidentemente, no mês do centenário: "Entre Dois Amores", escrita por Elizabeth Jhin.

img1.jpg
VIDA E OBRA
Chico Xavier na produção de Daniel Filho. E em Uberaba, no meio do povo.

O médium, cultuado em vida, ganha, na comemoração de seus 100 anos, visibilidade de superstar e vira fenômeno de mídia, algo que nunca esteve entre suas pretensões. Se existe mesmo vida após a morte, Chico Xavier deve estar feliz: seu legado ultrapassa, hoje, as barreiras religiosas e ele é reconhecido como o maior líder espiritual que o Brasil já teve. O espantoso alcance da obra de Chico Xavier explica tamanha agitação em torno de seu centenário. Mesmo quem não acredita em reencarnação, respeita este homem que psicografou mais de 400 livros e doou os direitos autorais de todos eles a obras de caridade. Chico Xavier viveu em uma casa humilde e levou vida modesta. É de Nelson Xavier, o ator com impressionante semelhança física com o médium e que o interpreta na fase adulta, a síntese de sua existência: "Ele viveu, efetivamente, o 'amai-vos uns aos outros.'" O ator admite que o filme modificou suas crenças. "Como todo socialista eu também acreditava que o caminho da violência era o único possível, que os privilégios jamais serão abolidos sem confronto. Mas, agora, penso diferente.

img2.jpg
VIDA E OBRA
O ator Ângelo Antônio, o médium quando jovem, e Chico psicografando.

O Chico me mostrou que o caminho do amor é que é o único possível." A pregação do médium é comparada, hoje, à de Buda: mais ligada a uma filosofia de vida do que a uma religião. "A doutrina espírita pregada por Chico Xavier esclarece, conforta e consola", resume o escritor Gérson Monteiro, também diretor da primeira rádio espírita do País, a Rádio Rio de Janeiro, e que vai lançar, este ano, "O que Ensina o Espiritismo" (Mauad). Sua análise coincide com a de Eurípedes Higino dos Reis, 60 anos, fi lho adotivo e herdeiro da patente Chico Xavier. "Meu pai não era procurado só por espíritas. Ao contrário, 70% das pessoas que o procuravam tinham outras religiões", afi rma Reis. A expansão do espiritismo no Brasil está profundamente ligada à fi gura de Chico Xavier, que, para muitos, surgiu para complementar e atualizar os ensinamentos de Allan Kardec, o pai do espiritismo. O fi lão literário foi puxado por ele desde que publicou, aos 22 anos, sua primeira obra, "Parnaso de Além- Túmulo". Hoje, existem no País aproximadamente 100 editoras especializadas e quatro mil títulos no mercado. Ao publicar obras romanceadas, o médium brasileiro cria uma nova forma, calcada mais na emoção, subjetividade e no lirismo, de apresentar a religião às pessoas.

img6.jpg

Antecessores como Kardec e Bezerra de Menezes redigiram, basicamente, livros doutrinários que mais se assemelhavam a tratados de sociologia, um trabalho mais científico e racional. "O romance espírita é um dos legados de Chico", afirma Eduardo Re alefsky, pesquisador de comunicação religiosa da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. "Kardec foi racional do início ao fim. Já Chico, colocou em prática um vasto conteúdo sentimental." O médium também é responsável por deixar impressa uma nova visão, quase milenarista, do papel do Brasil dentro do desenvolvimento da doutrina espírita. Em um de seus livros, Chico Xavier defende a ideia de que o País seria o principal veículo para a difusão do espiritismo no mundo. "Coincidência ou não, o Brasil é considerado o local onde as ideias das religiões tiveram o maior desenvolvimento, ainda que a maior parte dos espíritas permaneça invisível para o IBGE", diz Re alefsky, referindo-se ao Censo de 2000 que aponta como espíritas apenas 3% da população. Chico Xavier é o autor brasileiro de maior sucesso. Ele já vendeu quase o dobro dos livros de Paulo Coelho, nossa referência de best-seller literário. Seus 458 livros somam aproximadamente 45 milhões de cópias vendidas, segundo Cesar Perri, diretor da Federação Espírita Brasileira. "Somente 'Nosso Lar' tem 2,5 milhões de edições comercializadas em 15 idiomas", afirma.

img7.jpg

Não por acaso, este livro também vai virar fi lme, sob a direção de Wagner de Assis. E, ao contrário do longa de Daniel Filho, será repleto de efeitos especiais, que foram supervisionados por Geoff D. E. Scott, da empresa canadense Intelligent Creatures ("Watchmen" e "Babel", entre outros). "O filme se passa, em grande parte, numa cidade localizada em um outro plano, o espiritual. Este é o maior motivo da grande presença dos efeitos", explica a produtora Eliane Britz. "É importante que o público acredite que as ações estão acontecendo em uma cidade praticamente real. Isso é fundamental para a história", acrescenta ela. A previsão é de estreia em setembro. Outros três fi lmes também serão lançados – "E a Vida Continua", com direção de Paulo Figueiredo, "As Cartas", de Cristiana Grumbach, e "As mães de Chico Xavier", com três assinaturas na direção, Glauber Filho, Joel Pimentel e Halder Gomes – todos baseados em obras psicografas pelo médium. Ao contrário, "Chico Xavier" é o único biográfi co. Grande parte da trama foi fi lmada em Tiradentes, Minas Gerais, onde aconteceram alguns fenômenos. Certo dia, uma forte chuva que caía sobre a cidade só não atingia o set de filmagem.

O médium popularizou a doutrina espírita ao criar obras romanceadas, mais calcadas na emoção

Quando o diretor finalizou o trabalho e disse "Corta!", a chuva despencou também no local onde artistas e técnicos estavam. "Chamo isso de sincronia de sinais", disse Ângelo Antônio, um dos "Chicos" da produção. Ele se refere não somente a este episódio. O ator conta um outro fato surpreendente. A pedido de sua mãe, que conheceu o médium pessoalmente, ele interpretou um momento em que seu personagem recebia mensagens. A mãe, então, pediu que ele perguntasse ao espírito de Chico como estava a saúde dela. "E eu fui escrevendo. Depois, quando fui ler, era uma receita dizendo que ela deveria consumir fl or de mamão em determinada hora do dia." Ele não sabe por que escreveu aquilo. Mas foi uma indicação certa: "Minha mãe estava com problemas no intestino, embora eu ainda não soubesse", relembra. Para registrar estes fenômenos, a editora LeYa lançará outro livro de Marcel Souto Maior sobre os bastidores da produção."Chico Xavier, a História do Filme de Daniel Filho" chegará às prateleiras também no dia 2 de abril, com tiragem inicial de 50 mil exemplares. "Conversei com o Tony Ramos, que é muito católico, sobre como foi estar no filme que fala do maior líder espírita do País.

Chico Xavier superstar - Parte 2

O médium de vida simples que se tornou o principal ícone do espiritismo tem seu centenário festejado com grandes produções no cinema, no teatro e na literatura

Eliane Lobato

img5.jpg

Chico passou a juventude em Pedro Leopoldo, de onde saiu por se sentir perseguido

Após a exibição do filme para a equipe, ele era um dos que mais se emocionaram", conta Souto Maior. Até personagem de história em quadrinhos o médium será. Com desenhos de Rodolfo Zalla e roteiro de Franco de Rosa, "Chico Xavier em Quadrinhos" (Ediouro) contará a história da vida dele e trará, também, alguns textos psicografados pelo médium. O jeito calmo, humilde e simples dá a Chico Xavier uma aparência de fragilidade. Para conseguir repassar essa característica em seu fi lme, Daniel Filho disse ter pedido aos três atores que o interpretam em seu longa para mergulharem no universo do líder espiritual. "Eles ficaram em Uberaba durante algum tempo. Lá, foram cedidas roupas dele ao Nelson (Xavier) e um perfume ao Ângelo (Antônio). E o garoto (Matheus Costa) não rodou uma cena sem, antes, sentir a essência do perfume que ele usava", conta Daniel Filho. Além de todas as obras culturais que divulgarão o nome de Chico Xavier e a doutrina espírita no Brasil, este ano, uma novela da Rede Globo, "Entre Dois Amores", colocará em confronto a questão da vida após a morte e a ciência. "Tenho grande interesse pelo tema espiritualidade e pensei que podia trazer para a trama inquietações pelas quais todos passamos: De onde viemos? Para onde vamos?", diz a autora do folhetim, Elizabeth Jhin.

img4.jpg
POPULAR
Ele era muito querido pelo público.Nelson Xavier, caracterizado, consola Christiane Torloni, que interpreta
uma mãe que perdeu o filho

Ela vai reproduzir a inquietação natural entre esses dois mundos aparentemente antagonistas defi nitivos, a ciência e a espiritualidade. Superstar também nas artes cênicas, a peça "Além da Vida" já foi vista, em diversas remontagens, por mais de dois milhões de pessoas – e voltará à cena, em abril, no Teatro Corinthians, em São Paulo. O ator e diretor do espetáculo, Renato Prieto, monta peças espíritas há 25 anos pelo Brasil afora e diz ser testemunha da fé leiga nos ensinamentos do médium. "As pessoas vão às minhas peças em busca de respostas: 'De onde eu vim?' 'O que vim fazer aqui?' 'Para onde vou após desencarnar?' E elas saem do teatro com um conceito que as tranquiliza", diz Prieto. A esperança e a possibilidade de paz são os principais motes da obra de Chico Xavier. Uma de suas frases mais recorrentes – que ele dizia ter sido formulada pelo guia espiritual Emmanuel – afirma que "ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim."

Colaboraram: Adriana Prado, Caio Barretto Briso, Maíra Magro, Rodrigo Cardoso e Francisco Alves Filho

FILME PARA ARREBATAR MULTIDÕES

img3.jpg
INTÉRPRETES
O diretor Daniel Filho entre Nelson Xavier (à esq.) e Ângelo Antônio, que vivem o médium

O filme "Chico Xavier", de Daniel Filho — ao qual ISTOÉ assistiu em primeira mão —, carrega uma extraordinária carga de emoção e deverá levar muita gente às lágrimas. Ainda menino, Chico (Matheus Costa) apanha muito da madrinha Rita (Giulia Gam em aparição relâmpago, mas brilhante), que chega a espetá-lo com um garfo na barriga. Jovem, já na pele de Ângelo Antônio, ele perde um de seus 13 irmãos, justamente o seu "braço direito", vítima de derrame. No enterro, o pai diz, aos gritos, que ele é uma farsa incapaz de salvar alguém. O Chico adulto é interpretado por Nelson Xavier — que mais parece uma materialização do médium. E Christiane Torloni assina uma das cenas mais emocionantes quando sua personagem, Glória, entra no quarto do fi lho que já morreu e, abraçada a uma cama vazia, chora sua dor. Muitos espectadores vão se perguntar como a atriz, que perdeu um fi lho num acidente de carro na vida real, conseguiu encarar o papel. "Ela se concentrou, chorou, reviveu aquilo. Deixou aparecer a dor, deixou passar a realidade. Fico emocionado ao dizer isso porque o filho que ela perdeu era um afi lhado meu. E isso, inclusive, foi o que me deu coragem para fazer o convite", disse Daniel Filho.

Baseado no livro "As Vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior, o roteiro não foge das acusações de falsário que também existiram na vida do médium. Numa sessão espírita, uma mulher cospe em Chico Xavier dizendo que a carta que lhe entregara como sendo do filho desencarnado era uma grosseira fraude. Também um ex-assistente e sobrinho do médium, revoltado porque o tio o repreendera por cobrar consultas, dá entrevistas dizendo que as conversas com espíritos eram armação. Por incrível que pareça, um ombro amigo dos mais fiéis, desde a infância, é um padre católico (Pedro Paulo Rangel). No dia em que este padre morre, entretanto, Chico é escorraçado do velório pelo padre substituto (Cássio Gabus Mendes) — que se torna um obstinado pregador contra ele.

Mas nem tudo é tristeza. Também há humor. Como no dia em que o médium decide começar a usar uma ridícula peruca para esconder a calvície ou quando grita tanto dentro de um avião em turbulência que seu guia espiritual aparece para um curioso papo-cabeça. Afinal, não fica bem um médium ter tanto medo de morrer. Ao final, enquanto rolam os créditos, há imagens do próprio Chico relatando o episódio no programa "Pinga-Fogo", da extinta TV Tupi. O elenco conta, ainda, com estrelas como Letícia Sabatella, Giovanna Antonelli, Tony Ramos, Cássia Kiss, Paulo Goulart e Luis Melo.

Ele ainda está presente - Parte I

Como a memória do maior líder espírita do Brasil continua viva nas cidades mineiras onde ele construiu sua obra

Rodrigo Cardoso, de Pedro Leopoldo e Uberaba (MG)

chamada.jpg
NO PAPEL
Mensagem recebida por Celso Afonso atribuída a Chico Xavier

Francisco Cândido Xavier nasceu há 100 anos, em 2 de abril, em Pedro Leopoldo, e morreu oito anos atrás, em Uberaba. Cidades mineiras distintas – mais modesta, a primeira tem 60 mil habitantes, enquanto a outra, distante 510 quilômetros, é seis vezes mais populosa –, elas ostentam o privilégio de preservar viva a memória daquele que é considerado o apóstolo do espiritismo no mundo. Curiosamente, irão celebrar de forma muito diferente o centenário do médium. Em Pedro Leopoldo, de onde saiu por se sentir perseguido, a data será lembrada de forma festiva, com vários eventos. Em Uberaba, a cidade que o acolheu e projetou sua obra, a comemoração será silenciosa e quase envergonhada. O médium deixou sua cidade natal em 1959, aos 49 anos, depois que um sobrinho o acusou, por meio da imprensa, de inventar que psicografava. Aborrecido e perseguido por repórteres que passavam madrugadas na porta de sua casa, ele se cansou de dormir em bancos de praça e partiu, com a roupa do corpo, para o encontro de um amigo em Uberaba. Desde então, Chico visitava Pedro Leopoldo somente três vezes por ano.

img6.jpg
MEMÓRIA
Eurípedes dos Reis, filho adotivo de Chico, transformou a casa dele em museu e livraria

Manteve essa rotina até 1987, quando passou o Réveillon e visitou o asilo da cidade. Na maioria das vezes, além de rever amigos e parentes, ele checava se estava tudo em ordem com a última casa que lhe serviu de residência e ficou abandonada desde sua mudança. O local, hoje, pertence a um grande amigo do religioso, o empresário Geraldo Lemos Neto, 47 anos, que a transformou em um centro de referência sobre a vida do médium, batizada de Casa de Chico. Desde 2006, 50 mil pessoas já visitaram a Casa, que passou por um processo de revitalização, mas ainda preserva quartos, banheiros e cozinha exatamente como Chico os deixou. Estão lá, por exemplo, as bandeiras de Minas Gerais e do Brasil que cobriram o caixão do líder espiritual em seu velório. A joia do local, porém, é o acervo bibliográfico. Neto possui todos os livros publicados pelo amigo (458) – muitos, da primeira edição – e outros 180 títulos escritos sobre o médium. "É pouco explorado, mas Chico tinha uma personalidade muito forte, principalmente quando não faziam suas vontades", lembra o empresário, mostrando a banheira onde o mineiro gostava de se lavar. "Era assim também em relação à doutrina, tanto que se afastou de alguns amigos e centros.

Psicografias inéditas dele serão compiladas para a confecção de novos livros

"Vice-presidente do Centro Luiz Gonzaga, fundado por Chico em 1927, a professora aposentada Célia Diniz, 59 anos, recorda o dia em que ele lhe explicou a mudança repentina de cidade. "Chico disse: 'Saí em busca de um clima mais ameno e porque a minha família não tinha culpa de ter um médium dentro dela. Ela teria a privacidade invadida onde quer que eu estivesse em Pedro Leopoldo'", conta Célia. Da família numerosa – os Xavier eram 14 irmãos, fruto de dois casamentos de João Cândido Xavier –, apenas uma irmã de Chico, Cidália Xavier de Carvalho, 87 anos, está viva. O último dos irmãos do sexo masculino, André Luiz, morreu aos 91 anos, no final do ano passado. O médium não tinha parentes em Uberaba, mas se cercou de pessoas fiéis que respeitavam suas vontades e sua opção por uma vida desprendida de bens materiais. Na cidade mineira, em cada esquina tem alguém sempre disposto a contar um "causo" do líder espiritual. Poucos, porém, tiveram passe livre dentro de sua casa – transformada em museu e livraria pelo seu filho adotivo, Eurípedes Higino dos Reis – e desfrutaram da intimidade do hoje mito religioso. Barbeiro que atendia Chico em seu quarto, aparando-lhe a barba e cortando os cabelos de suas perucas, Belmiro Chagas Neto, 60 anos, solta uma sonora gargalhada ao relembrar a porção espirituosa do amigo. "Certo dia, uma pessoa perguntou a ele se fazia mal criar gato.

img4.jpg
ESPÓLIO
O médium Celso Afonso, um dos mais procurados de Uberaba desde a morte de Chico.

E ouviu: 'Sim, minha filha, para os ratos'", conta Neto, que guarda todos os aparelhos de barbear usados no companheiro de três décadas. O religioso mineiro criava cachorros e gatos em seu quintal. Era comum vê-lo acordar às 6h, depois de varar a madrugada psicografando ou atendendo pessoas, para dar leite aos animais. Às vezes, quem o substituía nessa tarefa era Dinorá Cândida Fabiano. Durante 40 anos, ela foi um misto de cozinheira, enfermeira e massagista. "Todo dia, antes de eu ir embora, ele me dizia para não esquecer de colocar duas, três cadeiras no quarto dele. Acho que era para os espíritos sentarem", conta. Aos 78 anos, Dinorá se emociona ao falar sobre o dia em que seu patrão, já com a saúde debilitada, a visitou no hospital de cadeira de rodas. E diz que "até de pôr o sapato no pé dele" sente falta. "Ele dizia para eu forrar com jornal para não passar frio." Três pares de sapatos de Chico estão expostos no quarto onde ele deu o último suspiro, no dia em que a Seleção Brasileira se tornou pentacampeã do mundo, em 30 de junho de 2002. "Ele perguntou para mim: 'O Brasil ganhou o jogo?' Eu falei que sim e ele comentou: 'Então, o Brasil está feliz. Que bom'", recorda o filho Eurípedes. A amiga do médium, Kátia Maria, que se afastou do trabalho nos últimos três anos da vida de Chico para dedicar-se em tempo integral ao líder espiritual, conta que Ti-Chico, como ela o chama, avisou a todos que partiria no dia em que o País estivesse bem feliz. "Às 19h20, enquanto eu media a temperatura dele, Ti-Chico morreu no meu colo", diz ela, que nunca foi espírita.

img3.jpg
Geraldo Neto, que criou um centro de referência do espírita em Pedro Leopoldo, cidade natal dele

Ele ainda está presente - Parte 2

Como a memória do maior líder espírita do Brasil continua viva nas cidades mineiras onde ele construiu sua obra

Rodrigo Cardoso, de Pedro Leopoldo e Uberaba (MG)

No quarto preservado do médium, uma das atrações do museu, em Uberaba, estão ainda 13 imagens de santos, como São Francisco de Assis, Santa Sara e São João Bosco. Há ainda perucas, boinas, dentaduras e a cadeira de rodas que o acompanhou nos últimos momentos de vida. "Chico nunca pediu para alguém se converter ao espiritismo", conta Célia, do Centro Luiz Gonzaga. "Ele foi o bandeirante da mediunidade. As pessoas atiravam pedras, mas ele seguia desbravando", reforça o empresário Neto, da Casa de Chico. De fato, o mineiro foi julgado e tachado de louco e mentiroso, abriu mão do conforto e conviveu com problemas de saúde desde muito novo, sem reclamar de nada. "Eu o vi gastar dinheiro para transferir uma fazenda, em Goiás, que lhe foi doada por um milionário goiano, para poder entregá-la o quanto antes para os pobres", conta Eurípedes Tahan, 73 anos, seu médico pessoal. "Gostaria de ser sucessor de Chico ou, como muita gente, ser como ele. Mas não dou conta de amar, trabalhar, ter a paciência e a capacidade de perdoar que ele tinha", diz o aposentado Celso de Almeida Afonso. Aos 68 anos – 28 de psicografia –, Afonso se tornou um dos médiuns mais procurados em Uberaba depois da morte de Chico. Apesar de ter psicografado 18 mil mensagens, de acordo com suas contas, ele diz ter preguiça de escrever. Por outro lado, relata ter recebido seis mensagens assinadas pelo maior nome do espiritismo nacional.

img2.jpg

Na "Casa de Chico", em Pedro Leopoldo, estão os 458 livros publicados pelo médium e outros 180 títulos sobre ele

img5.jpg

Treze imagens de santos, perucas, boinas e dentaduras estão entre os objetos expostos no quarto dele em Uberaba

img7.jpg

LAR

A casa onde funcionou o centro espírita do médium, em Uberaba

"Entendo que estou sendo agraciado sem que o não mereça, mas cabe- me saber que sou, o que fiz e o que pretendo ainda realiza…", diz um trecho da última,segundo ele, ditada por Chico Xavier, em meados de dezembro passado. Outro médium de Uberaba e antigo frequentador do Grupo Espírita da Prece, fundado por Chico em 1975, Carlos Baccelli, foi mais ousado. Ele publicou três livros com mensagens de Chico psicografadas, segundo afirma, por ele. "Eu sou um médium resolvido. Eu esperava, sim, receber mensagens do Chico. Esses 25 anos de convivência tornaram fácil essa sintonia. Tem de haver algum grau de afinidade entre o médium e o espírito", afirma ele, com 120 livros no currículo e autor do recémlançado "100 Anos de Chico Xavier – Fenômeno Humano e Mediúnico". Eurípedes, o filho de Chico, refuta a ideia de que seu pai tenha feito contato com Afonso, Baccelli ou qualquer outra pessoa, argumentando que o pai teria deixado um código para ele, a amiga Kátia Maria e o médico Tahan poderem identificar um recado autêntico (leia quadro). É Eurípedes quem administra o museu, a livraria e o Grupo da Prece e Assistência Chico Xavier, que oferece jantar para pessoas carentes e distribui enxovais para gestantes.

img.jpg

TESOURA E NAVALHA

Belmiro Neto, barbeiro de Chico: ele aparava as perucas do amigo de 30 anos

Também estão em seu poder psicografias inéditas do pai, que serão compiladas para a confecção de meia dúzia de novos livros. No dia seguinte ao aniversário do pai, Eurípedes fará um bolo de 160 quilos para ser distribuído para quem visitar o museu. "Meu pai consolava as mães que perderam seus filhos, dizendo para elas distribuírem um bolo no aniversário deles, pois seria a melhor maneira de homenageá-los", conta. "Faço isso todo ano, como ele ensinou, porque a saudade do meu pai é grande." Ainda não está programado nenhum outro evento em comemoração ao centenário daquele que colocou Uberaba em destaque no mapa mundial. Os uberabenses costumam comentar que a morte de Chico teve o impacto da perda de uma indústria. A movimentação na cidade tem aumentado, como contam os comerciantes. Nada comparável à época em que Chico reinava diante de um séquito, entre presidentes da República, artistas e empresários, que toda semana o visitavam e contribuíam para o PIB de Uberaba. "Nossa cidade é, da parte da classe política, muito ingrata com Chico", reclama o médium Baccelli. "Ele desencarnou há quase oito anos e não há uma rua ou praça com seu nome. E a única ação pública, o memorial Chico Xavier, é uma novela que já dura quatro anos.

Ao contrário de Pedro Leopoldo, em Uberaba não há uma rua ou praça que homenageiem o médium

" Em Pedro Leopoldo o cenário é outro. A começar pela existência da Fundação Cultural Chico Xavier, que tem por objetivo promover a vida e a obra do médium. Mais: por meio de uma votação, a população elegeu os locais tidos como obrigatórios para os visitantes que pretendem saber um pouco mais sobre o religioso. Assim, viraram pontos turísticos a casa onde Chico nasceu e hoje abriga o Centro Luiz Gonzaga, a construção onde viveu, atualmente Casa de Chico, a Fazenda Modelo, endereço de seu antigo trabalho, o açude, próximo do qual ele teve o primeiro contato com Emmanuel, seu maior guia espiritual, o centro espírita Meimei, fundado por Chico, e a praça Chico Xavier. Entre 30 de junho e 10 de julho, Pedro Leopoldo será a sede da 8a. Semana Espírita Chico Xavier e palco de apresentações teatrais e ciclo de palestras. Em junho também será lançada a primeira biografia do maior médium do Brasil escrita por um cidadão pedro-leopoldense. O autor, o psicólogo e professor de educação física John Harley Madureira Marques, conviveu com Chico por 21 anos e está há dois trabalhando na obra, cujo título é mantido em segredo. Fazia tempo que Chico Xavier não ficava tão próximo das pessoas que o viram crescer e triunfar na missão a que ele se propôs. Não precisa ser nenhum médium para sentir sua presença em Minas Gerais.

O CÓDIGO XAVIER

img1.jpg

AMIGO

O médico Eurípedes Tahan, um dos três que conhecem a senha


É de esperar que quem dedicou a vida a ser porta-voz dos espíritos mantenha alguma comunicação com os vivos depois de morto. Desde o falecimento de Chico Xavier, há quase oito anos, inúmeros médiuns apareceram dizendo-se receptores de mensagens enviadas por ele. Para driblar os aproveitadores, Chico combinou um código secreto com as três pessoas mais próximas dele – o filho adotivo, Eurípedes Higino dos Reis, o médico particular, Eurípedes Tahan Vieira, e Kátia Maria, grande amiga e acompanhante dele até a morte. Quando, e se houver comunicação, a mensagem será recebida por algum médium e conterá três informações. Os três continuam esperando. "Infelizmente, até hoje, nenhuma era dele", diz o filho.

João Batista Sobrinho
-----------------------