sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

SELEÇÃO CÁRMICA

INDALÍCIO MENDES
(1901-1988)



Talvez jamais a Humanidade haja sofrido tantas desilusões quanto agora. Talvez nunca tenha sido tão incisiva a ação de falsos líderes e pregadores de idéias novas e doutrinas exóti­cas, que dão aos homens sem discernimento, mas pejados de ambições inferiores, a impressão de que ouvem e seguem legíti­mos arautos da Verdade, da Jus­tiça e do Bem.

Infelizmente, certa parte da Humanidade é imediatista e interesseira, não se inclinando a examinar serena­mente as promessas enganadoras ocultas sob o floreado atraente dos discursos insinceros.

Cansados de desilusões e fartos de sofrimentos, os homens volú­veis e superficiais, na ânsia de al­cançar benefícios fáceis, dei­xam-se embebedar com palavras sedutoras e seguem doutrinas que não resistem a um confronto segu­ro com os princípios puros do Cristo. E assim se entregam, sem resistência, mas cegamente, aos entorpecedores efeitos da maco­nha demagógica.

Tudo isso, compreendamos, so­brecarrega o quadro cármico de indivíduos e coletividades ainda em fase de desenvolvimento pri­mário e secundário e serve para reafIrmar categoricamente as pro­fecias de elevados Espíritos, acer­ca das provações excepcionais, já iniciadas, que estão assinalando, passo a passo, o advento do Ter­ceiro Milênio.

Essas perturbações políticas profundas, de grande influência e repercussão na vida íntima dos povos, parece terem inicia­do um novo ciclo com a defla­gração da guerra franco-prus­siana, em 1870.

O processo evolutivo não cessou jamais e em 1914 se verificou novo avanço cíclico, que adquiriu maior expressão com a guerra iniciada 25 anos depois, isto é, em 1939.

Portanto, três guerras que abalaram profundamente o cora­ção da Europa - interessando as duas últimas os países americanos e o mundo inteiro -, estabelece­ram novos rumos da vida social e política da Terra.

Houve quedas de governos autocráticos, liberta­ção de nações secularmente escra­vizadas, perda de poderio bélico de uns países outrora fortes e sur­gimento de novas potências mun­diais.

Como nunca, o Mate­rialismo estendeu seus tentáculos de ferro, constringindo a Huma­nidade e, por estranha "coinci­dência", justamente agora é que as coisas do Espírito mais se am­pliam no seio das massas humil­des, que vão adquirindo maior compreensão de certos deveres capazes de impedir a desnatura­ção completa da vida humana, embora andem pelas praças pú­blicas reivindicações de natureza popular um tanto exaltada.

Toda essa confusão, entre­tanto, está dentro das previsões espíritas. Emmanuel, no livro que traz o seu nome, edição de 1938, predisse a eclosão do conflito de 1939, que durou até 1945.

Os próprios homens, por seu afastamento do Cristo, tra­çam as dores que vão sofrer e as tribulações impostas aos paí­ses a que pertencem. Nada é feito por acaso, porque o acaso não existe.

A rebeldia dos ho­mens gera a balbúrdia e o de­sentendimento, a dor e a desi­lusão, porque as guerras têm uma função retificadora, uma função cármica.
 
"De cada vez que os homens querem impor-se, arbitrários e despóticos, diante das leis divinas, há uma força misteriosa que os faz cair, den­tro dos seus enganos e de suas próprias fraquezas.

A impeni­tência da civilização moderna, corrompida de vícios e mantida nos seus maiores centros à cus­ta das indústrias bélicas, não é diferente do império babilônico que caiu, apesar do seu fastígio e da sua grandeza.

No banquete dos povos ilustres da atualidade terrestre, lêem-se as três pala­vras fatídicas do festim de Balta­sar. Uma força invisível gravou novamente o
Mane, Thecel, ­Phares (¹) na festa do mundo. Que Deus, na sua misericórdia, am­pare os humildes e os justos." ("Emmanuel", de Emmanuel -Ed.1938.)

Ora, a corrupção da civilização atual se agravou imensa­mente depois da última guerra. A Humanidade está vivendo o ciclo preparatório do advento do Terceiro Milênio, já à porta, que marca o começo das dores e tribulações redentoras, para que o Terceiro Milênio seja, então, segundo as profecias, o da Redenção da Terra. O mundo está no crivo da evolução moral. Todas as imundícies e torpezas estão sendo reveladas e a confusão se torna progressivamente maior. Tomem por exemplo o nosso país e o que nele se passa, se quisermos ter uma idéia aproximada dessa grande verdade.

Já vaticinava Allan Kardec, ao referir-se à "marcha gradativa do Espiritismo":

"A Humanidade, entretanto, chegou a um dos pe­ríodos de sua transformação e o mundo terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos. O que se prepara não é, pois, o fim do mundo material (...) E o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho. do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício que as gerações seguinte con­solidarão e completarão ." Obras Póstumas

Três grandes passos deu a Hu­manidade para organizar o seu  Mapa de provações coletivas de origens políticas, em 1870, 1914-18 e 1939-45, sem contar as transformações profundas de natureza social, verificadas na Rússia, primeiramente, e depois em outros países. Depois de 1945, os povos até então sub­metidos à servidão começaram a ser ouvidos e hoje seus repre­sentantes se sentam ao lado dos representantes de antigos países opressores, que se julgavam to­cados de uma superioridade in­contestável.

E as reformas sociais continuam, muitas ve­zes dando ensanchas a que es­pertos especuladores se apro­veitem da situação confusa para se beneficiarem.

Mas tudo acabará nos lugares exa­tos, pois "o mundo não mar­cha à revelia das leis mise­ricordiosas do Alto, e estas, no momento oportuno, saberão opor um dique à chacina e ao arrasamento; confiemos nelas, porque os códigos humanos se­rão sempre documentos transi­tórios, como o papel em que são registados, enquanto não se associarem, parágrafo por parágrafo, ao Evangelho de Je­sus". (Emmanuel)

Não se julgue sejamos pessi­mistas. Apenas observamos e analisamos fatos ligados por circunstâncias políticas e so­ciais. Não padece dúvida de que nos achamos já no período da seleção cármica que se de­senvolverá muito mais no curso do Terceiro Milênio, que se ini­ciará dentro de ( ... ) anos.

Revo­luções, greves, terremotos, ma­remotos, enfim, toda uma sorte de perturbações graves e de na­tureza diversa, afetarão a vida humana, mais do que até hoje tem afetado.

À proporção que o ciclo for crescendo para fechar-se, mais fortes serão as dores do mundo. Vivemos numa fase apocalíptica. Os homens desde­nham dos deveres espirituais e se entregam, desarvorados, ao despotismo dos sentidos.

A mu­dança de Espíritos rebeldes se faz metodicamente. "Para que na Terra sejam felizes os ho­mens, preciso se faz que so­mente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que unicamente ao bem aspirem.

Como já chegou esse tempo, uma grande emigração neste momento se opera entre os que o habitam. Os que praticam o mal pelo mal, ALHEIOS ao sentimento do bem, dela se verão excluídos, porque lhe acarretariam novamente per­turbações e confusões que consti­tuiriam obstáculo ao progresso.

Irão expiar o seu endurecimento em mundos inferiores, aos quais levarão os conhecimentos que ad­quiriram, tendo por missão fazê-los adiantar-se. Substitui-los-ão na Terra Espíritos melhores. que fa­rão reinem entre si a justiça a paz, a fraternidade.

A Terra não será transformada por um cata­clismo que aniquile de súbito uma geração.

A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança na ordem natural das coisas.

É o que vem acontecendo. Hoje as mudanças já são perceptivas. Essa possibilidade de observação constitui uma advertência do Alto, uma oportunidade a mais concedi­da aos homens que são responsáveis pela desarmonia ambiente. Empolgados por suas ambições políticas, a nada eles atendem. De tal maneira, estimulam o peneira­mento indispensável à limpeza que precederá o Terceiro Milênio. Já Kardec, em sua época, sentira e dissera já ser o tempo em que vi­via "a época da transição".

Os próprios cientistas ex­perimentam o acúleo da tran­sição por que está passando a Humanidade. Em "La Nueva visión dei mundo ", se lê, ao falar Jean Gebser da quarta dimensão:

"Do que acabamos de dizer surge um caráter que brevemente poderíamos quali­ficar de ambigüidade de nos­sa época, a qual como tal se nos apresenta cheia de incer­tezas. Vivemos numa época ambivalente e isto em muitos aspectos. Com efeito. ela repre­senta um final e ao mesmo tempo um começo. Toda des­pedida supõe por isso mesmo uma partida. Pois bem: mui­tos não vêem senão o fim da nossa época. E mais: muitos nem sequer vêem isso porque simplesmente não desejam ter co­nhecimento deste incômodo fato. E daí resulta que não podem tão-pouco reconhecer o outro as­pecto da nossa época, isto é, que ela representa um começo. se bem que difícil. cheio de felizes espe­ranças" (pág. 291). Essa obra tem como subtítulo: "Conferencia In­ternacional sobre el nacimiento de una nueva era, de la perspecti­va". (Ob. cit., id., id., pág. 291)

Citamos esse trecho, escolhido acidentalmente, para que o leitor observe que, mesmo àqueles que não se encontram familiarizados com os proble­mas espíritas, a situação anor­mal e angustiosa da Terra, vivendo um período de transi­ção, não passou despercebida. Se os cientistas do "Instituto de Altos Estudos Econômicos de Sankt Gallen", que "aban­donaram os pontos de vista do determinismo materialista, do estreito pensamento do mecâni­co e causal", estivessem mais apurados espiritualmente, te­riam chegado a conclusões ain­da mais positivas, numa lingua­gem que se assemelharia ainda mais à dos espíritas.

É bem verdade que eles partiram de idéias puramente científicas, dia­metralmente opostas às que mar­cam o texto do presente artigo. Mas as suas conclusões, "mutatis mu­tandis", são idênticas.

Disseram com acerto que a transição representa ao mesmo tempo um fim e um começo. A idéia se casa perfeitamente com o ponto de vista espírita. A épo­ca de transição marca o fim de urna geração desvairada, mas também assinala o início de uma geração nova, em que todas as esperanças são depositadas.

Além disto, a geração desvairada não inclui aqueles que, esclareci­dos, compreendem os desígnios do Alto e sabem guardá-los. A Doutrina do Cristo está estereo­tipada na Doutrina pregada pelo Espiritismo. É essencial e funda­mentalmente humana, porque prepara cada indivíduo e cada coletividade para cultivar a feli­cidade na Terra e no Espaço, por meio da exemplificação do bem, da paz, do amor, da justiça e da fraternidade.

Enquanto o homem se utilizar da violência e da mentira, não será feliz. O atual desregramento de costumes, dentro e fora dos lares, a perversão de hábitos, o descaso à autoridade e à hierarquia, a idolatria do sexo, o cinismo, o despu­dor, o crime multiforme e a impunidade que os acoberta, a de cadência moral da dança, do can­to, do cinema, do teatro, da literatura e de outras mais ativida­des outrora colaboradoras da cul­tura universal do homem são reflexos impressionantes da verda­de profética que anunciou a im­prescindibilidade do saneamento espiritual da Terra, já em ação, como preparação fatal e irrecorrível do selecionamento do Segundo Milênio para o Terceiro Milênio.

Ou a Humanidade realiza um esforço para melhorar daqui por diante, renunciando à vio­lência, ao egocentrismo, muito pior do que o egoísmo, à menti­ra, buscando proteger-se à som­bra do Evangelho do Cristo, ou mergulhará no desespero sem remédio e no sofrimento sem lenitivo, até que satisfaça as exigências cármicas.

Infelizmente, a maioria, des­conhecendo a voz de Deus, per­sistirá na sua cegueira e a resistência que virá a opor mar­cará, por meio de terríveis lutas, o fim do reinado dos que a cons­tituem. Desvairados, correrão à sua própria perda, provocarão destruições que darão origem a um sem número de flagelos e de calamidades, de sorte que, sem o quererem, apressarão o advento da era de renovação.

Concluindo, e para orientar o leitor, lembraremos que tudo quanto de Kardec aqui transcreve­mos foi escrito muito antes da guerra de 1870, entre a França e a Alemanha, a qual constituiu, ao que tudo indica, o início da grande seleção cármica destinada, repeti­mos, à preparação de uma Huma­nidade melhor para o Terceiro Milênio. Kardec desencamou a 31 de março de 1869, de modo que suas palavras possuem uma signifi­cação extraordinária.

Transcrito de REFORMADOR, de setembro de 1963

Contribuição de
Carlos Eduardo Cennerelli
cennerelli@terra.com.br
 

 
Mane Thecel Phares = Conta o livro de Daniel (D.V) que o rei da Babilônia, Baltazar, mandou dar um lauto banquete para o qual convidou os nobres da cidade e as suas concubinas. Para servir a bebida, o rei mandou buscar os vasos sagrados que ele trouxera do templo de Jerusalém. O festim se desenvolvia quando, na parede do salão, apareceu uma misteriosa mão que escreveu com fogo estas palavras misteriosas. O rei, de imediato, mandou que viessem até à sala os magos e interpretes para que dissessem o que significava aquelas palavras ali escritas, entretanto, nenhum deles conseguiu decifrar a mensagem gravada. Foi então que a rainha se lembrou de Daniel, um hebreu que se encontrava no palácio e tinha fama de mago ou de profeta. Daniel veio, e depois de censurar duramente a conduta do rei, interpreta a frase do modo seguinte: Mane = Deus contou os dias de teu reinado e lhe pôs fim. Thecel = Tu foste pesado em uma balança e teu peso foi considerado insuficiente . Phares = O teu reino dividiu-se e foi dado os medo-persas. Naquela mesma noite, morria Baltazar e o seu reino caiu nas mãos de Dario, o rei dos Persas.

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