Um dos fariseus convidou-o para comer com ele; e entrando em casa do fariseu, reclinou-se à mesa.
E eis que uma mulher pecadora que havia na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo; e estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo.
Mas, ao ver isso, o fariseu que o convidara falava consigo, dizendo: Se este homem fosse profeta, saberia quem e de que qualidade é essa mulher que o toca, pois é uma pecadora.
E respondendo Jesus, disse-lhe: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Respondeu ele: Dize-a, Mestre.
Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentos denários, e outro cinqüenta.
Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais?
Respondeu Simão: Suponho que é aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe Jesus: Julgaste bem.
E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os enxugou.
Não me deste ósculo; ela, porém, desde que entrei, não tem cessado de beijar-me os pés.
Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta com bálsamo ungiu-me os pés.
Por isso te digo: Perdoados lhe são os pecados, que são muitos; porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
E disse a ela: Perdoados são os teus pecados.
Mas os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados?
Jesus, porém, disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.
Lucas, capítulo 7
"Nosso querido amigo [Chico Xavier] há muito claudicava. Doía-lhe um pé. Dr. José Rocha, médico vizinho e amigo, já lhe ministrara medicamentos sem, contudo, minorar seu sofrimento. (...) Tudo de pouca valia! As dores persistiam, fazendo Chico mancar horrivelmente.
Os funcionários da Fazenda Modelo retornavam às suas casas servindo-se de uma charrete (...). O veículo adentrava a cidade por uma rua onde localizava-se, então, o meretrício.
Uma tarde, Chico e seus companheiros, ao passarem pelo "Biriba" — designação vulgar dada ao logradouro — foram abordados por uma das moças que habitavam o lugar. E dirigindo-se a Chico, disse:
— Venha até minha casa. Preciso lhe falar.
Gracejos, motejos, risadas e comentários infelizes fizeram-se ouvir. Chico desceu do carro, com dificuldade, acompanhando a moça até sua residência.
Todas as meretrizes que lá viviam receberam-no com profundo respeito, oferecendo-lhe uma cadeira, na qual Chico assentou-se.
A moça que o abordara trouxe uma pequena bacia, com água limpa. Humildemente, pediu-lhe permissão para descalçá-lo dos sapatos, colocando seu pé doente dentro da bacia. Segurando raminhos de flores do campo, a moça rezou e todas as outras a acompanharam, contritas. Ela molhava os raminhos e os batia, delicadamente, no pé de Chico, repetidamente, por várias vezes. Em seguida, enxugou-o, beijou-o e o calçou novamente.
Dois dias depois, chorando de emoção, Chico contou-nos o que presenciara na casa de encontros. Através de sua vidência, registrou que o líquido da bacia foi ficando escuro e lodoso, à medida que a mulher banhava-lhe o pé, fazendo com que a dor se esvaísse lentamente.
Para todos os presentes, a água manteve-se inalterada, límpida, nada mudara.
Chico nunca mais sentiu tal dor. A pobre meretriz, no ato humilde, no gesto simples, na bacia insignificante e nos raminhos de mato, mais que nós outros, colocara em sua oração algo sublime e operador de maravilhas: o amor!
Chico Xavier - Mandato de amor
Autores diversos
1ª Parte
Fonte: http://bibliadocaminho.com/ocaminho/TXavieriano/Livros/Cma/CmaP1C02.htm