sábado, 1 de fevereiro de 2014

Terapia da Fé

"Ora, certa mulher, que havia doze anos padecia de uma hemorragia, e que tinha sofrido bastante às mãos de muitos médicos, e despendido tudo quanto possuía sem nada aproveitar, antes indo a pior, tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto; porque dizia: Se tão-somente tocar-lhe as vestes, ficaria curada. E imediatamente cessou a sua hemorragia; e sentiu no corpo estar já curada do seu mal.
 
E logo Jesus, percebendo em si mesmo que saíra dele poder, virou-se no meio da multidão e perguntou: Quem me tocou as vestes? Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou? Mas ele olhava em redor para ver a que isto fizera. Então a mulher, atemorizada e trêmula, cônscia do que nela se havia operado, veio e prostrou-se diante dele, e declarou-lhe toda a verdade. Disse-lhe ele: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre desse teu mal."
 
Marcos, capítulo 5
 

 
USP incorpora dimensão espiritual a tratamento médico
Redação do Diário da Saúde
27/01/2014
Depoimentos dos pacientes revelam que eles se sentem mais humanizados com a abordagem espiritualizada.
 
Além da neuroquímica
 
O exercício da medicina e a formação dos médicos raramente levam em consideração aspectos como religião e espiritualidade no contato com os pacientes.
 
Isso apesar da lida diária desses profissionais com a saúde humana, o que com frequência é sinônimo de lidar com o sofrimento alheio, a dor e a morte.
 
Para o psiquiatra Frederico Camelo Leão, independentemente das crenças pessoais do médico, ele deve estar preparado para lidar com a dimensão espiritual.
 
"O paciente demanda isso", afirma o pesquisador da Faculdade de Medicina da USP.
 
O Dr. Leão coordena o Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (ProSER), iniciativa que busca compreender a relação entre esses três fatores a partir de atividades de pesquisa, ensino e assistência terapêutica.
 
Segundo o médico, a complexidade do ser humano e a saúde mental vão muito além das questões neuroquímicas - e é essa premissa que guia o programa.
 
Espiritualidade e saúde
 
A ideia não é que a espiritualidade e a religiosidade entrem como uma alternativa ao tratamento médico. "É uma forma complementar, dentro da visão de que a busca da saúde é mais do que apenas tomar remédios", explica.
 
Leão conta que trabalhos científicos na área indicam que práticas como meditação, orações ou a dedicação a uma denominação religiosa podem estar associadas a melhoras na defesa imunológica e na longevidade.
 
Ao frequentar um templo ou igreja, por exemplo, a pessoa, além de trabalhar sua espiritualidade, tem também suporte social, ou seja, frequenta um lugar onde pode compartilhar experiências e obter apoio, o que traz benefícios à saúde, podendo, inclusive, inibir ímpetos suicidas.
 
Anamnese espiritual
 
Essa sessão - chamada de anamnese espiritual - por si só já apresenta uma função terapêutica ao estimular a reflexão do paciente sobre essas questões.
 
A seguir, equipe pode sugerir o encaminhamento do paciente a alguma das atividades promovidas pelo programa, como meditação, oficina de contos, ioga e psicoterapia transpessoal - no caso da ioga, o programa se estende também aos funcionários do Instituto.
 
O trabalho não envolve práticas religiosas, embora possa ser feita uma intermediação quando o paciente deseja receber a visita de um representante religioso, como um rabino, padre ou pastor.
 
Ciência e religião
 
Embora ainda exista resistência por parte da comunidade científica ao lidar com questões que envolvam religião e espiritualidade, o Dr. Leão relata um grande crescimento na produção científica na área.
 
"A resistência vem de quem acredita que a questão central da psiquiatria é diagnóstico e medicação. Mas a psiquiatria não se esgota aí", conclui o médico.